Quem já viu elefantes em movimentos repetitivos? Balançando de um lado para o outro, dando voltas no próprio corpo? Ou até mesmo cabisbaixos? Arrancados de suas famílias muito pequenos, vivem confinados e não livres na natureza – alguns com histórias terríveis de maus-tratos em circos –, podendo adquirir problemas psicológicos e motores.
Pensando nisso, o Houston Zoo, que fica dentro do Hermann Park em Houston, Texas, nos Estados Unidos, desenvolveu um programa de bem-estar para preservar a saúde mental e física de seus 12 elefantes asiáticos, que inclui exercícios diários de estímulo ao cérebro e ao corpo muito parecidos com os praticados no yoga. Mas claro que sem tapete, música relaxante ou meditação.
Especialistas dizem que a falta de exercício pode fazer com que elefantes tenham vidas mais curtas do que os selvagens. Está comprovado que a prática de yoga ajuda a aumentar a longevidade em humanos mais velhos e Kristin Windle, supervisora de elefantes do zoológico de Houston, acredita que também pode ajudar os elefantes.
“Cultivar relacionamentos fortes e positivos com nossos elefantes é fundamental para fornecer a eles os melhores cuidados de saúde para garantir que seu bem-estar seja colocado em primeiro lugar”, ressalta ela. “É algo que fizemos desde o primeiro elefante do zoo”, contou ela ao The Washington Post. “Eles aprendem esses comportamentos para que possamos monitorar sua saúde geral”.
Os exercícios são muito eficazes e ajudam os tratadores a terem uma visão completa do corpo, do tronco à cauda, podendo avaliar flexibilidade – amplitude do movimento -, energia e a condição da pele (se há manchas e erupções), dos pés e até dentro da boca, além de identificar qualquer dificuldade. Se algo parece anormal, um dos cinco veterinários do zoo é chamado para fazer check-up do animal.
O programa funciona assim: todos os dias, pelo menos três vezes ao dia, os elefantes são orientados por integrantes da ‘equipe de cuidado’ a participarem das sessões compostas por uma série de alongamentos estáticos e dinâmicos, que podem durar de 30 segundos a cinco minutos, dependendo da idade do animal e do objetivo a ser alcançado.
Claro que eles podem se recusar a participar do treinamento. Nesse caso, se afastam do local e os treinadores respeitam. Mas isso é muito raro porque, em geral, o relacionamento entre eles é muito respeitoso, amoroso e de cooperação.
Treinamentos exclusivos
Os elefantes nascidos no zoológico começam a aprender exercícios introdutórios quando completam 4 meses de idade. Primeiro, os tratadores prendem uma bola de tênis a um cabo de vassoura e deixam que brinquem com ela. Mais tarde, encorajam-nos a mover as partes do corpo que eles tocam com o bastão (veja no vídeo no final do post).
Para mantê-los motivados a cada movimento, os elefantes são recompensados com alimentos especiais como pão integral, melão, batata-doce, passas ou bananas, que são como uma pausa na dieta normal de feno e cascas.
E Windle explica: “Assim que eles fazem a conexão, ‘Oh, eu toco nisso e recebo comida’… reagem muito bem”.
À medida que a execução do exercício fica mais fácil, o treinamento avança, como acontece na academia com a gente. Um dos mais difíceis para os elefantes é deitar-se e, em seguida, fazer a posição do “cachorro olhando pra baixo”, com as quatro patas no chão e as costas arqueadas.
Methai, matriarca de 54 anos, pesa pouco mais que 3 mil quilos, tem artrite e se move devagar devido à idade avançada e recebe ajuda durante os alongamentos. Ela precisa fazer exercícios extras para melhorar a caminhada e o sono. Sem deixar de exigir empenho, o tratador sabe que precisa ter mais paciência com ela e dar-lhe mais tempo para fazer os movimentos.
Tess, de 39 anos – mãe de 4 elefantes e avó de um -, fica de cabeça pra baixo com as pernas traseiras para o alto, muito facilmente (foto de destaque deste post).
“Esse é um comportamento que ela conhece há décadas e exige muito controle muscular para ser alcançado”, explica o zoo. Ela também pode fazer uma parada de mão. “Se você já fez parada de mão, sabe o quão flexível e forte deve ser para entrar (e sair!) dessa posição. Vai Tess!”, celebra Windle.
Já Teddy, de dois anos, pesa quase 1 quilo, testa seu equilíbrio antes de alongar o corpo na posição do “cachorro olhando para baixo” e é logo recompensado com uma guloseima saborosa.
Tailândia, que tem 57 anos, pesa quase 5 mil quilos e foi a elefante com quem Windle desenvolveu um vínculo muito rápido no dia em que chegou ao zoológico como voluntária em 2012. Logo identificou seu comportamento calmo ao interagir com outros elefantes: na época, ela estava com 46 anos.
Em geral, elefantes asiáticos vivem até 47 anos. No Zoo de Houston, como vimos, há fêmeas bastante idosas que têm probleminhas de saúde comuns, devido à idade, mas com certeza a prática de yoga, da qual elas nunca fogem, tem sido um grande aliado para que Windle realize seu desejo: manter todos com suas famílias o maior tempo possível.
A seguir, assista ao vídeo que selecionei e apresenta alguns rápidos momentos da prática de yoga com os elefantes:
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Fontes: Zoo Houston e Washington Post
Foto (destaque): Jackelin Reyna/Zoo Houston