“É dilacerador ver o que foi feito! Posso dizer isso como testemunho de uma analista ambiental de carreira: é dilacerador porque é deliberado. Não é um problema só de ineficiência e de incompetência, é uma decisão política de destruir”.
Foi dessa forma que Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e integrante da comissão dessa área na transição de governo, se referiu ao cenário identificado durante a avaliação de documentos e dados do atual Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Sua declaração foi feita em coletiva de imprensa na semana passada, 30/11, na companhia de integrantes do mesmo grupo de trabalho como o ex-ministro do meio ambiente Carlos Minc e, também, do coordenador dos grupos técnicos do Gabinete de Transição, Aloísio Mercadante (à esquerda e à direita dela, na foto acima).
E a especialista alertou: “A gente pode até construir e reconstruir rápido. Acho que temos força, enquanto Brasil, pra fazer isso. Mas, sem a força da sociedade e de vocês” [referia-se à imprensa], “comprometidos com a transparência, com a verdade, o Brasil não fica de pé nessa questão ambiental”.
Quem conhece ou acompanha Izabella desde que foi ministra no governo de Dilma Rousseff, sabe bem que ela não faz drama, como bem lembrou neste pronunciamento: “sou pragmática”. E, por isso, amedronta ouvi-la dizer que levou “sustos ao ler os documentos” que passaram por suas mãos.
“E não é que o mundo deva cobrar da gente. Nós, como brasileiros, temos que cobrar da gente! É contra a Constituição, é contra os direitos civis, a exclusão política e social é sem precedentes”.
“Acabou! Não tem mais fiscalização!”
Pouco antes do encontro com os jornalistas, a ex-ministra tomou conhecimento do ofício assinado pelo presidente do Ibama, Eduardo Bim, endereçado ao secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Felipe Ribeiro de Mello, que revela a situação “extremamente crítica” do órgão, que não tem mais dinheiro para pagar suas contas básicas (água, energia elétrica, telefone), a vigilância e a segurança, nem os terceirizados.
Até o final do ano, o órgão também não poderá contratar ou prorrogar contratos administrativos ou de licenciamento ou manter as atividades de campo e viagens.
Enquanto descrevia o atual cenário ambiental catastrófico, Izabella comentou sobre o documento:
“Quando a gente fala, aqui, do desmatamento em terra indígena ou em unidades de conservação, não é só o crime, as queimadas, a ameaça das queimadas no Pantanal… não tem dinheiro para prevenção nenhuma! Acabou!”.
“Aliás, acabou de sair um ofício do presidente do Ibama suspendendo todas as atividades porque não tem dinheiro. Acabou o licenciamento, ninguém viaja pra mais nada! Não tem fiscalização! Bloqueou todo o dinheiro disponível. Então, o que nós estamos falando aqui não tem nenhum exagero”.
“Feliz Natal para o crime ambiental!“
No documento enviado ao MMA, Bim descreve a indicação da Junta de Execução Orçamentária (JEO) feita ao MMA para o bloqueio de R$ 90 milhões do ministério; o MMA, então, decidiu pelo corte de R$ 45 milhões ao Ibama.
“Nesse sentido, em que pese a execução do Ibama na ordem de 93% na época da comunicação, foi efetuado o bloqueio de R$ 12.648.313,00 com impactos altamente negativos a este órgão ambiental”.
No ofício ele ainda afirma que as despesas “de caráter continuado” do Ibama serão impactadas este mês, “o que pode implicar na paralisação total do órgão” e propôs a suspensão do expediente presencial em todas as unidades e a adoção do trabalho remoto para todos os servidores.
Como disse Izabella aos jornalistas, trata-de de um presentão para os criminosos que, desde que Bolsonaro assumiu a presidência, em janeiro de 2019, devastam os biomas brasileiros e atacam os povos indígenas certos da impunidade.
“Me parece que o Ibama agora vai trabalhar virtualmente, então, não vai ter fiscalização! Feliz natal para os grileiros e os criminosos deste país, para o crime ambiental, porque é isso que está sendo dito!”.
A seguir, assista às declarações de Izabella Teixeira sobre o colapso ambiental do país:
Foto: reprodução de vídeo