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Dez coisas que daria pra fazer pelo meio ambiente com a grana do Geddel


Uau, R$ 51 milhões! Em cash. O Brasil inteiro viu e se escandalizou com as imagens das malas e caixas de dinheiro descobertas pela Polícia Federal num apartamento em Salvador, que o ex-ministro teria Geddel Vieira Lima teria “pegado emprestado” de um amigo para guardar “as coisas de seu finado pai”.

Todo mundo sabe também do trabalho que deu para a polícia contar a bolada – a maior quantidade de dinheiro vivo já apreendida no país.

Em tempos de Lava Jato e cifras astronômicas de corrupção (quem não se lembra de Pedro Barusco, aquele gerente da Petrobras que ficou de devolver, só ele, R$ 300 milhões?), fica até difícil dimensionar o que são R$ 51 milhões.

Bem, é muito dinheiro. Que daria para usar em muita coisa. Nós compilamos abaixo algumas sugestões do que fazer com essa bufunfa apenas na área ambiental. O Geddel pode até não se sensibilizar, mas quem sabe a PF se empolga.

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1 – Monitorar o desmatamento durante dez anos

Desmatamento em Rondônia (foto: Google Earth)

O Brasil é referência internacional em sensoriamento remoto de florestas, graças aos programas Prodes e Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A criação do Deter, que vigia a floresta em tempo real e orienta a fiscalização, foi um dos instrumentos que permitiram reduzir a taxa de desmatamento na Amazônia. Todo o trabalho de monitoramento do Inpe custa R$ 5 milhões por ano. Tem que manter isso, viu? Os R$ 51 milhões do Geddel manteriam por uma década.

2 – Pagar até 12 anos de pesquisas em biodiversidade

Macaco-aranha (foto: Sérgio Pucci/TNC)

Um artigo científico que acaba de ser publicado por pesquisadores brasileiros no periódico Perspectives in Ecology and Conservation alerta para o fato de que os cortes no orçamento da ciência brasileira ameaçam o PPBio, o maior programa de pesquisas em biodiversidade do país, que envolve 626 cientistas de 93 instituições.

Sem o PPBio, o Brasil pode não cumprir suas metas nacionais de biodiversidade para 2020 e pode ter dificuldades para cumprir sua meta no Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares de florestas – já que isso depende de conhecimento sobre as áreas mais adequadas à restauração. Segundo a ecóloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, o PPBio custa R$ 10,8 milhões por edital, e cada edital cobre de 36 a 48 meses de execução. Ou seja, a bolada do bunker de Salvador pagaria o trabalho desses 626 pesquisadores por nove a doze anos.

3 –  Zerar o desmatamento em pelo menos 150 mil hectares durante 15 anos}

Foto: Gabriel Mestro/Creative Commons

Segundo uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da UFRJ, um programa de pagamento por serviços ambientais poderia bancar fazendeiros para não desmatar, pagando o chamado custo de oportunidade da terra, ou a expectativa de ganho anual de um proprietário caso ele cortasse um hectare de floresta. Na caatinga e na Amazônia o custo de oportunidade é mais baixo em vários municípios. Um programa que pagasse R$ 51 milhões por 15 anos nessas regiões poderia proteger 150 mil hectares – uma área maior que a da cidade do Rio de Janeiro.

4 – Proteger 10% do território nacional durante dois meses

Fernando de Noronha (foto: Creative Commons)

Parece incrível, mas o Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, protege um décimo do território brasileiro. Esta é a extensão das 327 unidades de conservação federais, de Fernando de Noronha (foto) a Foz do Iguaçu, do Parque Nacional de São Joaquim ao Parque do Tumucumaque. E faz isso com pouquíssimo dinheiro: o orçamento do órgão em 2017, excluindo salários, foi de R$ 302 milhões. Isso antes do corte de 43% no orçamento geral do ministério.

5 – Pagar um ano de fiscalização do Ibama

Fiscais do Ibama (foto: Fernando Werneck/Divulgação)

A retomada das ações de fiscalização do Ibama neste ano impediu que o desmatamento em 2017 subisse pelo terceiro ano consecutivo na Amazônia. E isso só aconteceu porque o governo conseguiu R$ 53 milhões do Fundo Amazônia (dinheiro de doação da Noruega), a serem aplicados em 2017 e 2018 na fiscalização, cujo orçamento em 2017 foi de R$ 52,1 milhões. O dinheiro do Geddel pagaria um ano de trabalho do Ibama. Ou evitaria que o governo passasse o chapéu para os noruegueses, complementando os recursos do Ibama por 15 meses.

6 – Custear 11% do orçamento do Ministério do Meio Ambiente

Todas as políticas ambientais federais em 2017 precisarão ser implementadas com R$ 446,5 milhões. Esse é o valor do orçamento discricionário do Ministério do Meio Ambiente (MMA) após os cortes impostos por Michel Temer em abril. As caixas e malas de dinheiro encontradas pela PF em Salvador equivalem a 11% desse total. Lá no MMA isso faz falta, viu, Geddel?

7 –  Financiar o maior instituto de pesquisas da Amazônia por 3,5 anos

Torre Atto, na Amazônia (foto: divulgação)

O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) é um dos maiores polos geradores de conhecimento sobre a maior floresta tropical do mundo. Tem nove pesquisadores entre os mais citados do país e é responsável por programas como a torre ATTO, de 325 metros, estrutura construída mais alta do Brasil. O orçamento anual do Inpa é de R$ 14 milhões. Se Geddel doasse seu dinheiro à ciência, bancaria as pesquisas amazônicas por três anos e meio.

8 –  Instalar 17 mil painéis fotovoltaicos em casas populares

Foto: Ministério das Cidades

Investir em energia limpa é uma das missões dos países signatários do Acordo de Paris – e está cada vez mais acessível à população. Em vários países, essa fonte já é a forma mais barata de gerar eletricidade. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, R$ 51 milhões seriam o suficiente para beneficiar cerca de 60 mil pessoas com 17 mil painéis solares em telhados. Não custa lembrar que o Brasil é um dos países com metas mais modestas de instalação de energia fotovoltaica no mundo.

9 – Recuperar mais de 3 mil nascentes de rios

Bonito (foto: Marcos Amend)

O investimento para recuperar uma nascente pode variar de R$ 1 mil a pouco mais de R$ 15 mil, dependendo do nível de degradação e do lugar do país, de acordo com a Bioflora, uma empresa de restauração de florestas nativas. O reflorestamento estimula o desenvolvimento regional sustentável, neutraliza carbono e pode triplicar a renda de pequenos agricultores.

10 – Reflorestar área equivalente a 5 mil campos de futebol na Mata Atlântica

Foto: Sema/SP

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo investiu ao longo da última década cerca de R$ 13 milhões na restauração ambiental de uma área de mil hectares dentro do Parque Estadual Serra do Mar (PESM). A área de Mata Atlântica recebeu cerca de 1,5 milhão de mudas.

Texto originalmente publicado no site do Observatório do Clima em 6/9/2017

Foto destaque: Polícia Federal/Divulgação

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