
O desmatamento na Mata Atlântica caiu 42% no primeiro trimestre de 2025 (8.109 hectares) em comparação ao mesmo período do ano anterior (14.068 hectares). A boa notícia se baseia em dados recentes do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o MapBiomas e a Arcplan.
No entanto, embora o resultado sinalize uma tendência positiva – de queda da destruição -, exige cautela visto que, em apenas três meses, uma área correspondente a aproximadamente oito mil campos de futebol foi devastada.
Além disso, vale lembrar que, no primeiro semestre de 2024, a queda do desmate foi de 55%, mas o aumento dos cortes nos meses seguintes abalou a estabilidade no desmatamento total daquele ano. Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da organização, explica: “É ótimo notar uma trajetória de queda, porém a situação ainda é de alerta. A Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil e cada hectare perdido compromete a biodiversidade e a qualidade de vida da população com um todo”.
E ele completa: “Para virar o jogo, o país precisa implementar, com rapidez, o novo plano de combate ao desmatamento e encerrar o ciclo de ameaças legislativas à Lei da Mata Atlântica”.
Uma lei na mira do Congresso
A Lei da Mata Atlântica sempre esteve na mira de certos parlamentares no Congresso Nacional e, em especial, do governo anterior – quem se lembra das tentativas do incansável então ministro do meio ambiente, Ricardo Salles? E, com o PL 2159/2021, conhecido como PL da Devastação, voltou a ser alvo.
O referido PL inclui dispositivos que fragilizam a proteção do bioma e, embora grande parte desses pontos tenha sido vetada pelo presidente Lula, a pressão para a derrubada dos vetos permanece intensa, representando uma ameaça constante.
Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica destaca: “A sociedade já demonstrou força para barrar retrocessos e precisa seguir vigilante. Pressões pela flexibilização do licenciamento ambiental persistem e, sem a manutenção dos vetos e a aplicação rigorosa da lei, abriremos espaço para novos ciclos de devastação”.
Referência
Para Guedes Pinto, a Mata Atlântica tem forte vocação para ser referência nacional e internacional, devido a seu histórico.
Além de ser o bioma que enfrenta, há mais tempo, a destruição florestal sistemática e pressões históricas de uso do solo, é o único que tem uma lei nacional específica para sua proteção e concentra os mais relevantes experimentos de restauração e recuperação da vegetação nativa já realizados no país.
“Para que o Brasil cumpra os compromissos assumidos no Acordo de Paris, é fundamental alcançar o desmatamento zero em todos os biomas até 2030 e a Mata Atlântica pode ser o primeiro a atingir essa meta e se tornar uma referência global no enfrentamento das crises ambiental e climática”, salienta o diretor.
O diretor lembra, ainda, que a proteção e a recuperação da Mata Atlântica são fundamentais para a garantia de serviços ecossistêmicos – como água, alimentos, saúde e bem-estar – em uma região que abriga 70% da população brasileira e responde por 80% do PIB nacional. Sua conservação, portanto, é também um pilar estratégico para a estabilidade econômica do país.
Vale lembrar que o Pacto Trinacional da Mata Atlântica – que reuniu mais de 300 organizações com o objetivo de restaurar 15 milhões de hectares até 2050 –, foi apontado em 2022 pela ONU (Programa para o Meio Ambiente, o PNUMA) como uma das 10 iniciativas de referência da Década da Restauração de Ecossistemas.
Desmatamento zero
Este ano, em novembro, o Brasil sediará a COP 30, em Belém, no Pará, e precisa apresentar resultados concretos no combate ao
desmatamento e estratégias de mitigação aos efeitos das mudanças climáticas(ainda mais agora que o Ibama anunciou que, em breve, deve sair a autorização para a Petrobras pesquisar – e explorar – petróleo na bacia da Foz do Amazonas! A credibilidade do Brasil perante a comunidade internacional precisa de reforço).
“Temos uma oportunidade histórica de mostrar ao mundo que o Brasil pode liderar pelo exemplo. Zerar o desmatamento da Mata Atlântica nos próximos anos é uma meta ambiciosa, mas possível, e sinalizaria que o país está pronto para unir conservação, desenvolvimento e justiça climática”, afirma Guedes Pinto.
Metodologia
O SAD Mata Atlântica utiliza classificação automática de indícios de desmatamento baseado na comparação entre imagens de satélite Sentinel 2 (dez metros de resolução).
Os focos de potencial desmatamento são enviados para o MapBiomas Alerta e, então, validados, refinados e auditados individualmente em imagens de alta resolução.
Cada ponto de desmatamento confirmado é cruzado com informações públicas, incluindo as propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR), embargos e autorizações de desmatamento do SINAFLOR/IBAMA, para disponibilização em uma plataforma única, aberta e transparente que monitora todo território brasileiro.
Os dados consolidados do desmatamento na Mata Atlântica em 2025 serão divulgados no primeiro semestre de 2026.
*Com informações da SOS Mata Atlântica
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Foto (destaque): SOS Mata Atlântica / divulgação