Em 2011, um grupo de pesquisadores brasileiros e americanos ficou intrigado com um macaco encontrado na Chapada dos Parecis, próximo aos municípios Pimenta Bueno e Vilhena, no extremo sul de Rondônia.
Os cientistas sabiam que o animal fazia parte do gênero Plecturocebus, todavia, possuía características diferentes das demais espécies já descritas anteriormente. O macaco de Parecis tinha a barba branca e a pelagem das costas avermelhada.
Nove anos após o encontro, em um artigo divulgado na publicação científica Primate Conservation, os pesquisadores comprovam que aquela era uma nova espécie, o Plecturocebus parecis, que recebeu o nome popular de zogue-zogue dos Parecis ou zogue-zogue-de-barba-branca.
“Ao todo foram mais de 50 variáveis investigadas. Um pouco mais que aquelas utilizadas nas últimas descrições de novas espécies de zogue-zogue. A partir dessas investigações foi aceita a nossa hipótese de espécie nova e então, descrita cientificamente”, explica Almério Câmara Gusmão, aluno de doutorado da Universidade do Estado de Mato Grosso, professor do Centro Técnico Estadual de Educação Rural Abaitará (RO) e principal autor do estudo.
A barba-branca é uma das mais marcantes características da nova espécie
Atualmente 24 espécies do gênero Plecturocebus são conhecidas no mundo e 20 delas são encontradas no Brasil. Segundo Gusmão, a aparência do zogue-zogue-de-barba-branca é única entre seus pares.
Além das costas vermelhas e da barba esbranquiçada, as mãos e a ponta do rabo também são brancas. “Não há outra espécie de Plecturocebus com essas características. O estudo de genética foi fundamental para provar que se trata realmente de uma espécie nova. Os genes analisados foram mitocondriais e nucleares. A partir deles, foi possível construir a árvore filogenética e o teste de especiação”, esclarece.
As diferenças físicas entre o Plecturocebus parecis e
espécies similares do mesmo gênero
Apesar dos primeiros registros do zogue-zogue dos Parecis terem sido em Rondônia, depois foram feitas observações da espécie em Mato Grosso, nos municípios de Juína, Aripuanã e Cotriguaçu.
Infelizmente, de acordo com Gusmão, a nova espécie já está ameaçada de extinção porque sua distribuição geográfica está imersa no chamado “Arco do Desmatamento da Amazônia Brasileira”. “Em grande parte dessa região, a floresta foi convertida em pastagem e lavouras”.
Ainda não existem projetos de preservação para salvar o zogue-zogue-da-barba-branca, mas um caminho foi aberto. “Na verdade, o primeiro passo para que se crie alguma ação de conservação é a descrição científica, uma espécie de “certidão de nascimento”, acredita o especialista.
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Fotos: divulgação/Alberto Caldeiras (abertura)