Pouco se fala do papel do homem no movimento feminista e na busca por mais equidade de direitos. Há, inclusive, vertentes de entendimento que recusam a participação masculina e limitam a discussão ao protagonismo feminino.
Acontece que qualquer transformação social pressupõe que a sociedade seja contemplada como um todo, considerando as necessidades e responsabilidades que surgem da diversidade. Do contrário, a transformação não é social e pode até implicar alternância de poder.
Por isso, quando se trata da pauta feminista, é mais do que necessário garantir o espaço para dialogar com as perspectivas e expectativas de homens e de LGBT.
O estereótipo rígido de masculino que nos é ensinado desde sempre é uma das maiores contribuições para a manutenção de uma sociedade machista.
Quando crianças, somos divididos por supostas “áreas de interesse” que, invariavelmente, aproximam os meninos de brincadeiras que envolvem luta, armas, violência, controle e força física.
Não é raro ouvir “menino não chora”, o que ao longo do tempo se torna um estímulo e tanto para que se esconda os sentimentos e emoções, deixando transparecer tão somente aquilo que se espera de um homem: atitudes viris, firmes, racionais e naturalmente “instintivas”.
O machismo se reflete também na desvalorização de características relacionadas essencialmente à mulher, como o choro, a delicadeza nos gestos e a comoção. Essa depreciação recai também sobre os homens homossexuais, que sofrem as consequências desse preconceito ignorante muitas vezes pagando com a própria vida.
Por isso, para discutir equidade de direitos entre homens e mulheres, é preciso discutir direitos humanos e desconstruir nosso conceito de gênero. O caminho é longo e cheio de desafios, mas começa com a revisão de pequenos hábitos, a reflexão profunda e a escuta. Ouvir atentamente o outro, suas angústias, seus medos e suas inseguranças pode criar um campo de confiança para dialogarmos sobre como queremos nos colocar pro mundo versus contra o mundo espera que a gente se coloque.
Pra inspirar esse caminho, o filme The Mask You Live In (“A Máscara em que você vive”, disponível no Netflix) trata do tema com muita clareza e nos mostra que, para resolver um problema, não importa qual seja, é preciso ouvir todas as partes. Começando pela gente.
Agora, assista ao trailer. “As palavras mais destruidoras que todo homem escuta quando garoto é quando lhe dizem: ‘Seja homem’!”.
Foto: Gabriele Garcia