O mico-leão-dourado é um dos símbolos da luta contra a extinção de espécies nativas do Brasil. Graças aos esforços de algumas entidades, o número de indivíduos fora de cativeiro aumentou muito nas últimas décadas.
A Associação Mico-Leão-Dourado trabalha desde 1992 para aumentar a população de micos. Segundo a entidade, na década de 70 eles foram praticamente extintos pelo tráfico de animais silvestres e pelo desmatamento. Restavam apenas 200 na natureza.
Hoje, a associação estima que sejam aproximadamente 2,5 mil animais* vivendo em áreas de Mata Atlântica, sobretudo entre os municípios de Rio Bonito, Silva Jardim e Casimiro de Abreu, única região do mundo onde se encontra a espécie.
Endêmico do Rio de Janeiro, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) tem uma pelagem que varia entre tons de vermelho e dourado. Apesar de pequeno, mede em média 60 cm de altura, precisa de bastante espaço. Sociável e muito dócil, vive em grupos, que contam com oito a 14 indivíduos, aproximadamente.
Mas um problema enfrentado pela atual população de mico-leão-dourado no estado do Rio é que eles estão em áreas de florestas fragmentadas.
“Nós temos alguns grandes blocos de floresta que precisam se conectar. Para que possamos dizer um dia que o mico-leão-dourado está a salvo da extinção, é necessário que a população da espécie tenha cerca de 2 mil indivíduos e esteja em uma área 25 mil hectares de florestas protegidas e conectadas”, explica Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da associação.
Modelo de preservação para outras rodovias do país
Nos últimos seis anos, a Associação do Mico-Leão-Dourado trabalhou arduamente, inclusive com uma ação civil pública, aceita pela justiça, para que um conjunto de estruturas de passagem de fauna fossem construídas ao longo da BR-101, no Rio de Janeiro, região onde ficam áreas de preservação que são habitat da espécie.
As chamadas passagem de fauna são estruturas como viadutos, passarelas e túneis subterrâneos que permitem aos animais atravessar a rodovia, com segurança, de um lado para outro da mata.
Quando foi feito o projeto de duplicação da BR-101, no trecho que liga a cidade de Niterói até Campos dos Goytacazes, fazendo divisa com o estado do Espírito Santo, um dos condicionantes ambientais para sua realização era justamente a instalação dessas estruturas.
Agora, finalmente, elas começam a ficar prontas. Pela extensão de proximadamente 80 km da estrada, foram colocados 15 túneis subterrâneos, passagens de copa (passarela que liga copas de árvores, conforme imagem abaixo) e viadutos – o primeiro deles já está praticamente pronto, o segundo será viabilizado após a concessionária, a Autopista Fluminense, se certificar da eficiência do projeto.
Os túneis subterrâneos são importantes para a travessia de outros animais (não são usados pelos micos), como cotias, capivaras, lagartos, tatus, tamanduás e onças.
Já o viaduto, o primeiro vegetado do Brasil em rodovias federais, receberá o plantio de mudas de árvores e vegetação para que os micos o ‘vejam’ como uma passagem natural da floresta.
O viaduto ligará duas regiões muito importantes para a espécie: a Reserva Biológica Poço das Antas e a Área de Proteção Ambiental Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado.
Toda essa estrutura não garantirá apenas a segurança da travessia, mas a perpetuação das próximas gerações da Leontopithecus rosalia.
Se as diferentes famílias de micos não se encontram para o processo de cruzamento e reprodução, há um enfraquecimento genético da espécie. Com o passar do tempo, o acasalamento entre indivíduos da mesma família causa danos ao sistema imune dos animais.
A expectativa é que o novo corredor florestal se torne modelo para outras rodovias do país e assim, o impacto dessas estradas sobre a vida selvagem seja reduzido.
Só no Brasil, segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), a cada segundo, 15 animais são atropelados ao tentar cruzar estradas e rodovias. Por dia, o número chega a quase 1,3 milhão. E por ano, o resultado final, fica próximo de 475 milhões.
Assista abaixo ao vídeo produzido pela Associação Mico-leão-dourado sobre a construção dos novos corredores florestais:
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*De acordo com a Associação Mico-Leão-Dourado, a população da espécie chegou a ter mais de 3 mil indivíduos, mas em 2019, muitos morreram por causa da febre amarela, por isso houve uma redução nesse número. Todavia, vale ressaltar, que o mico não transmite a doença para os seres humanos, mas é um importante indicador da presença do mosquito e dos vírus nesses ambientes.
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Fotos: cedidas gentilmente pelo fotógrafo Luís Palácios e divulgação Associação Mico-Leão-Dourado