Ele mais parece um gato doméstico. Mas não é. Pesando pouco mais de 3 kg, o gato-do-deserto (Felis margarita margarita) é o único felino encontrado exclusivamente em áreas de deserto, como seu próprio nome popular diz. A espécie já foi observada em regiões do Deserto do Saara e da Península Arábica, e sua presença foi documentada em 24 países, localizados no norte da África e centro e sudeste do Oriente Médio.
Também chamado de gato-das-dunas-de-areia, esse pequeno animal está adaptado a um dos lugares com o clima mais extremo do planeta. De dia, as temperaturas podem chegar aos 50°C, mas à noite os termômetros podem registrar temperaturas negativas.
Recentemente um grupo de pesquisadores internacionais publicou um artigo científico em que revela descobertas surpreendentes feitas sobre os hábitos e comportamentos do gato-do-deserto. É o maior estudo feito até hoje sobre a espécie.
Durante quatro anos, entre 2015 e 2019, cientistas coletaram dados desses animais no Marrocos. Nesse período, 22 indivíduos foram monitorados, através da colocação de coleiras com GPS, e outros 41 passaram por exames e depois foram libertados.
Um das descobertas que mais surpreendeu os pesquisadores é que sua área de distribuição é muito maior do que se acreditava, apesar de seu pequeno porte e das dificuldades impostas por esse tipo de ambiente.
Segundo o estudo, os gatos-do-deserto conseguem atingir uma área de circulação igual a de felinos muito maiores, como leopardos e tigres, cobrindo uma área de até 1.758 km2 ao longo de pouco mais de seis meses”.
“O que descobrimos é realmente revelador e esperamos que nossa pesquisa ajude a orientar a conservação dessa espécie”, alerta Grégory Breton, diretor da organização Panthera na França e um dos envolvidos no trabalho.
Uma fêmea de gato-do-deserto buscando abrigo no Saara
(Foto: ©Grégory Breton)
Os cientistas suspeitam ainda que os gatos-do-deserto talvez não tenham um habitat fixo, mas se locomovam com frequência, como nômades, baseados na precipitação de chuvas de cada lugar. Caso isso se comprove em novas pesquisas futuras, será uma característica única entre felinos selvagens.
Por último, todos os animais examinados estavam em ótimas condições de saúde, sem apresentar ferimentos ou cicatrizes, o que pode indicar que a interação social entre indivíduos da mesma espécie é mais pacífica e não territorial.
Novas descobertas mostram que esses felinos se locomovem muito mais do que se achava antes
(Foto: ©Grégory Breton)
De acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o gato-do-deserto é considerado uma espécie ‘menos preocupante’ em relação à extinção.
“Mas se suas áreas de ocorrência são realmente maiores e eles estão ocupando apenas certas partes do deserto, como sugere nosso estudo, eles deveriam ser classificados como ‘quase ameaçados’ à extinção, fazendo com que redobrássemos nossos esforços de conservação”, afirma Breton. “Ainda há muito a aprender sobre esses felinos. Com o futuro, surgem mais oportunidades de entender mais sobre seu território e o que ainda deixamos inexplorado”, acrescenta Breton.
Uma ninhada de gatos-do-deserto
(Foto: ©Grégory Breton)
*Com informações dos sites Panthera e Treehugger
Foto de abertura: ©Grégory Breton (uma das primeiras imagens de um filhote de gato-do-deserto já documentado na natureza, em Marrocos, por Panthera e parceiros, 2017)