Em tempos tão difíceis para a humanidade, pelo menos a natureza nos traz algumas boas notícias. Um monitoramento, realizado na temporada 2018/2019, ao longo de 35 quilômetros do litoral sul da Bahia, revela que 16.538 filhotes de tartarugas marinhas chegaram ao mar nesse período.
Em relação ao censo anterior, 2017/2018, houve um aumento de 2 mil filhotes, quando foram observadas 14.528 tartaruguinhas.
O levantamento, feito pela consultoria especializada CTA Serviços em Meio Ambiente, indicou ainda que havia 340 ninhos e 27 mil ovos nas praias do sul baiano. Desses últimos, 10 mil não “vingaram”, algo que acontece por diversas causas, entre elas, avanço da maré ou ataque de outros animais.
No país todo, a expectativa do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar era que mais de 2 milhões de tartarugas nascessem na costa brasileira em 2019, conforme previsões feitas em julho do ano passado.
De acordo com o Tamar, o litoral do estado de Sergipe liderava o número de desovas com 10.486 ninhos, seguido pela Bahia com 8.442, Espírito Santo com 2.661 e Rio Grande do Norte, que contabilizava 828 ninhos até meados de junho. Havia ainda os ninhos das tartarugas protegidas nas ilhas oceânicas de Fernando de Noronha-PE (169 ninhos) e Trindade-ES (1.615 ninhos).
Todavia, as tartarugas marinhas foram uma das principais vítimas do derramamento de petróleo que contaminou, durante meses, quilômetros e mais quilômetros de praias de todos os estados nordestinos no final do ano passado. Na época, foram realizadas solturas de filhotes em alto mar para que eles não corressem o risco de ficar presos nas manchas de óleo, ao tentar chegar na água.
A caminho do mar
Ao nascerem, logo após a eclosão do ovo, os filhotes de tartarugas marinhas rumam imediatamente para a água. Em alto-mar, alimentam-se de algas (principalmente sargaços) e matéria orgânica flutuante. Durante os próximos anos de sua vida, estes animais migram pelo oceano.
Neste período, as tartarugas passam anos até serem vistas novamente, quando trocam o mar aberto pela área costeira. Esse período, chamado de “anos perdidos”, ainda é um mistério no ciclo de vida delas.
O tempo para alcançar a maturidade varia de espécie para espécie. A grande maioria delas só se torna adulta entre os 20 e 30 anos. Mas a tartaruga oliva, por exemplo, só precisa de 11 a 16 anos.
O acasalamento ocorre em águas profundas ou costeiras, normalmente próximas às áreas de desova. A fêmea pode ser fecundada por vários machos, menores (em tamanho) que elas.
Um dos fatos mais interessantes na vida desses animais é que eles voltam às mesmas praias onde nasceram anos atrás para se reproduzir.
O anoitecer, quando a areia não está tão quente, é o horário escolhido pelas tartarugas marinhas para a desova. Com as nadadeiras, elas constróem as chamadas “camas” e posteriormente, o buraco para os ovos. Os ninhos têm em média 120 ovos.
O período de incubação é de 45 a 60 dias, dependendo do calor do sol. Frequentemente, os ovos eclodem à noite, o que faz com os filhotes tenham mais chance de chegar seguros à água. Entre seus principais predadores estão siris, aves marinhas, polvos e principalmente, peixes.
Outro ponto curioso da reprodução das tartarugas é como o sexo do filhote é definido. É a temperatura da areia que vai estabelecer se nascerá um filhotinho ou uma filhotinha. Temperaturas altas (acima de 30 ºC) produzem mais fêmeas e mais baixas (abaixo de 29 ºC) machos.
Tartarugas marinhas são animais que podem viver mais de 100 anos. No mundo todo, até hoje, são conhecidas sete espécies. Cinco delas são encontradas na costa brasileira: cabeçuda ou mestiça, verde ou aruanã, de pente ou legítima (a mais ameaçada), couro ou gigante (a maior de todas as espécies) e oliva.
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Fotos: domínio público/pixabay (abertura) e divulgação Projeto Tamar