Era uma casa muito singela e charmosa, tinha telhado de barro e paredes de madeira e um moço com um coração do tamanho do mundo dentro, que lutou pelos povos da floresta e contra a devastação da Amazônia. Ele era líder seringueiro e passou os últimos anos de sua vida nessa linda casa, até ser assassinado em 22 de dezembro de 1988, após sucessivos atentados encomendados por fazendeiros locais.
Essa casa, onde viveu Chico Mendes, em Xapuri, no Acre – à Rua Batista de Moraes, nº 10, Setor 1, Distrito 1, Lote 290 –, continuará firme e forte, preservando a história de vida e de luta de um dos maiores líderes ambientalistas do país. É o único bem tombado como patrimônio cultural no estado e será recuperada por processo de restauro. A obra, aprovada pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, deve ser concluída no final do mês de maio.
Na verdade, o projeto já havia sido contratado pelo Iphan há dois anos, mas teve que ser adiado por causa de grande enchente que atingiu a casa no início do ano passado. Decidiu-se, então, aguardar o período chuvoso – que vai de dezembro a abril – já que o local ainda estava sujeito a novos alagamentos.
A casa, antes e depois
Sua construção obedece a sistema tradicional, ainda muito comum na região: é uma casa cabocla, feita de madeira e coberta por telhas de barro, com apenas 4 metros de largura, que pode ser erguida em menos de uma semana.
Seu tombamento, em 2011, foi imprescindível para manter o local preservado e evitar que sua paisagem sofresse descaracterização com a derrubada de árvores e a invasão urbana do bosque.
O projeto prevê reforço estrutural dos pilares da casa, com amarrações nas junções, para garantir sua estabilidade em futuras enchentes. Também será realizada microdrenagem da terra em seu entorno para que a umidade não atinja os pilares da casa, feitos de madeira. De acordo com o Iphan, há partes da edificação danificadas de forma irreversível, que serão substituídas ou complementadas por enxerto ou preenchimento, de acordo com o estado de cada uma.
A pintura será refeita, já que está desgastada pelo tempo e pela água, mas serão mantidas as cores originais: azul turquesa com detalhes em rosa.
Transformada em “museu”, a Casa de Chico Mendes, como é conhecida, guarda acervo de seus objetos pessoais, entre eles a cadeira onde ele morreu por um tiro de espingarda.
O ser humano se alimenta de narrativas e de (boas ou más) histórias, todos os dias. E esta é uma história que não pode se perder e deve ficar viva e forte em nossa memória. Estão aí os livros, as reportagens e a história oral da região para ajudar nessa preservação. Mas, se ainda for possível “frequentar” a casa em que morou Francisco Alves Mendes Filho e conhecer alguns de seus objetos pessoais, mais viva e rica será essa memória e a forma de perpetuar tudo que ele ‘plantou’.
Foto: Divulgação/Iphan