Primeiro os cientistas notaram esse comportamento com polvos, que no fundo do mar dominado por dejetos descartados por seres humanos, usavam resíduos como tocas. Agora a mesma triste realidade foi registrada com caranguejos eremitas, espécies de crustáceos que não possuem carapaça. Eles também estão utilizando lixo para se proteger, no lugar de conchas naturais.
“O plástico é o elemento mais difundido dos resíduos marinhos, com impacto prejudicial na vida selvagem. Nosso estudo aponta que dez dos 16 caranguejos eremitas terrestres do mundo usam conchas artificiais, um comportamento observado em todas as costas tropicais da Terra”, alertam pesquisadores que acabam de divulgar um artigo sobre o tema na publicação Science of the Total Environment.
Através da chamada iEcologia, a Ecologia da Internet, ou seja, o uso de fontes de dados online como uma nova ferramenta na pesquisa ecológica para a área, o grupo de cientistas do Instituto de Biologia Evolucionária das Universidades de Varsóvia e de Poznań, na Polônia, relata o surgimento do novo comportamento em caranguejos eremitas, relacionado ao uso de plástico ou outros materiais antropogênicos (induzidos ou alterados pela presença e atividade do homem), como conchas protetoras.
A análise de imagens postadas nas redes sociais identificou 386 indivíduos com conchas artificiais – principalmente tampas de plástico, que representaram 85% de todos os resíduos documentados. Mas além delas há detritos como restos de bocais de lâmpadas ou de garrafas de vidro, por exemplo. O que não falta no oceano é lixo, infelizmente.
“Os caranguejos eremitas precisam proteger seu abdômen macio. Eles geralmente fazem isso se escondendo em conchas deixadas por crustáceos mortos. Um desses esconderijos não é suficiente para toda a vida por causa do desenvolvimento do caranguejo, mas também por causa da competição intraespécies”, explica Marta Szulkin, professora da Universidade de Varsóvia.
A triste cena de um mundo onde animais convivem com toneladas de lixo
(Foto: Shawn Miller)
Para os pesquisadores, entre os fatores que possivelmente influenciam a escolha dessas conchas artificiais pelos caranguejos estão a seleção sexual, o peso dos plásticos, os estímulos de odor e a possibilidade de camuflagem em ambientes poluídos.
“Estas análises irão aprofundar a nossa compreensão das consequências da poluição plástica nos ecossistemas marinhos, bem como da evolução das espécies no contexto das novas pressões evolutivas associadas ao Antropoceno”, diz Marta.
Um caranguejo usando um bocal de lâmpada como carapaça
(Foto: Shawn Miller)
*Com informações e entrevistas contidas no texto divulgado pela Universidade de Varsóvia
Foto de abertura: Shawn Miller
