Durante uma única operação de monitoramento foram capturados 140 peixes-leão em quatro pontos diferentes da ilha de Fernando de Noronha. A ação, realizada no último dia 22/12, foi conduzida pelo Centro de Mergulho Sea Paradise, parceiro do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio-Noronha). O número de peixes coletados é considerado recorde.
Nativo dos Oceanos Índico e Pacífico, o peixe-leão (Pterois volitans) é uma espécie exótica e invasora. Predador, em seu habitat natural, ele é controlado pela cadeia alimentar, onde é presa de espécies de garoupas e até por tubarões. Mas longe desses inimigos, consegue comer mais de 20 peixes, do mesmo tamanho, em apenas 30 minutos. Além disso, se reproduz rapidamente e sem controle. Uma fêmea pode colocar até 2 milhões de ovos por ano.
No Brasil, o primeiro registro da espécie aconteceu em 2014, no litoral de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Mas ao longo dos últimos anos, o número de casos vem aumentando, e parece se repetir o que aconteceu no Mar Mediterrâneo e no Caribe, onde houve uma proliferação sem controle da espécie, e ele acabou virando uma praga (leia mais aqui).
No arquipélago de Fernando de Noronha, o peixe-leão foi avistado pela primeira vez em 2020. Desde então, mais de 1 mil indivíduos já foram capturados na região.
Durante a ação na última semana de dezembro, os mergulhos ocorreram em três pontos localizados no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e um na Área de Proteção Ambiental.
“Nosso foco foi explorar pontos já mapeados para verificar a taxa de repovoamento do peixe-leão, identificando a densidade e os tamanhos da espécie. O menor peixe-leão media apenas 10 centímetros, enquanto o maior ultrapassou 45 centímetros. Essa foi a operação com maior número de captura até o momento”, revelou Fernando Rodrigues, mergulhador e diretor da Sea Paradise.
Existe uma grande preocupação da proliferação da espécie em Noronha, por isso o trabalho de monitoramento constante.
Segundo Pedro Pereira, coordenador do Projeto Conservação Recifal, os peixes-leão estão concentrados em áreas mais profundas, mas há uma tendência de migração para regiões rasas. “É importante destacar que essas capturas foram feitas em áreas que não têm sido manejadas com frequência, o que mostra também que a população está aumentando devido a essa falta deste trabalho de captura dos bichos, aumentando mais ainda a necessidade de colaboração, de inclusão de novas operadoras, incentivo à pesquisa, para que o manejo continue”, ressalta.
Proliferação pelo litoral brasileiro
Com o corpo listrado de branco e tons de vermelho, laranja e marrom, o peixe-leão tem 18 espinhos que possuem uma toxina. Em contato com a pele humana pode provocar inchaço, vermelhidão, febre e até convulsões.
Pouco a pouco, o temido peixe tem avançado pelo litoral da região Nordeste. Em abril de 2022, vários deles apareceram em praias do Ceará. O estado entrava na lista de várias outras localidades onde a espécie já estava sendo avistada, como em municípios do Piauí, em recifes da foz do Rio Amazonas, entre o Amapá e Pará.
Em março de 2023, foi a vez da chegada ao litoral de Pernambuco e semanas depois, da Paraíba (veja nesta outra reportagem).
“É a invasão mais rápida que já vi na história do Brasil. Eu estou impressionado, e isso traz uma situação gravíssima”, disse Marcelo Soares, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, em entrevista ao portal de notícias UOL.
Não toque no peixe-leão!
A recomendação de especialistas é que não deve se tocar ou tentar manusear a espécie. Caso alguém aviste ou tenha informações sobre o peixe-leão no Brasil, deve repassar os dados através do SIMAF ou entrar em contato com cientistachefesema@gmail.com.
Pescadores não devem devolvê-lo ao mar e logo que possível, buscar os órgãos competentes e informar o acontecido.
Neste guia elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) você encontra mais dicas e informações.
O ICMBio-Noronha oferece capacitações para captura do peixes-leão aos profissionais das operadoras de mergulho. Interessados em receber a qualificação devem entrar em contato pelo telefone: (81) 9115-6860.
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Foto de abertura: Centro de Mergulho Sea Paradise