Se há algo que pode ser letal como um vírus é a desinformação e a mentira. E, infelizmente, neste momento tão delicado da história da humanidade, há pessoas mal intencionadas que espalham fakenews sobre a pandemia do coronavírus e a quarentena. Não só a respeito de como evitar o contágio, como também em relação aos números de mortos e suspeitos de contaminação e, ainda, com objetivos apenas políticos.
Mas existe mais um tema que tem sido abordado de forma irresponsável por essas pessoas: a informação de que os pets – cães e gatos – transmitem a COVID-19, que se espalharam pela China e Europa e chegaram ao Brasil. A notícia sem nenhum fundamento científico tem levado muita gente a abandonar seus companheiros peludos à própria sorte nas ruas, ou a sacrificá-los.
“A ignorância é a maior causa de sofrimento animal. Neste momento de incertezas, a informação e a solidariedade são a maior arma. Só assim venceremos esse desafio”, explica Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil – Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, que está em campanha para conscientizar os brasileiros.
Em seu site, a organização destaca: “Muito pior e mais rápido que a transmissão da COVID-19 é a sórdida disseminação de notícias falsas, que tem levado pessoas mal informadas a se desfazer de seus inocentes amigos de estimação”.
Como surgiram as fakenews
As noticias falsas tiveram inicio durante o pico da doença na China, quando foi divulgado que o cãozinho de uma mulher contaminada pelo coronavírus, de Hong Kong, testou positivo, causando temor entre os donos de animais domésticos. “Depois de repetidos testes, constatou-se que o cachorro era fracamente positivo, tratando-se possivelmente de um caso de transmissão de humanos para animais, segundo informações do Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong. O animal não apresentou sintomas da doença. Seguindo os protocolos sanitários, ambos ficaram em quarentena”, conta o site da Arca.
Mas o fato é que o cãozinho morreu e, como a dona não deixou fazer autópsia, não foi possível identificar a causa. E foi o único caso. Portanto, não é possível dizer que os animais transmitem a doença para nós, mas, talvez, que podemos transmitir para eles. Portanto, todo cuidado durante a quarentena vale no trato com eles.
Como conviver com os pets na quarentena?
Desde o início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) já tinha se manifestado a respeito do assunto, mas, na semana passada, voltou a falar sobre o coronavírus e reafirmou que, “até o momento, não há evidências de que os animais de estimação desempenhem algum papel na disseminação da doença causada pelo novo coronavírus (SARS-Cov-2), portanto, não há justificativa em tomar medidas contra animais de companhia, que possam comprometer o bem-estar deles”.
A organização lembra também que, para quem convive com animais domésticos, “é sempre uma boa ideia lavar as mãos com água e sabão antes e após o contato com os pets. Também porque esse hábito protege o animal de várias bactérias comuns, como E. coli e Salmonella, que são transmitidas entre pets e humanos”. Por isso, quem está infectado pela COVID-19 deve ter com os pets a mesma precaução que teria com outros membros da família.
A recomendação do CDC – Centro para Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, é restringir o contato de doentes com pets e outros animais, entregando-os aos cuidados de outra pessoa, de preferência. Mas, se isso não for possível, evite abraços, beijos, lambidas ou compartilhar alimento com os peludos. E lave sempre as mãos antes e depois de interagir com os bichos e use máscara.
Perguntas e respostas
Para reforçar sua postura diante dos fatos, a Organização Mundial de Saúde Animal organizou conteúdo didático, com perguntas e respostas, que detalha o que são os coronavírus – há diversos tipos -, como se dá a transmissão, se humanos podem contaminar animais e vice-versa, que precauções as pessoas contaminadas devem ter com seus pets, como os serviços veterinários nacionais e internacionais podem contribuir e o que a própria OIE está fazendo diante da pandemia. O Conselho Nacional de Medicina Veterinária traduziu as informações e publicou em seu site, para consulta. Abaixo, destaco duas:
O que devo fazer se meu animal de estimação desenvolver uma doença inexplicável e estiver perto de uma pessoa com infecção por coronavírus?
Ainda não sabemos se os animais de companhia podem ser infectados pelo SARS-Cov-2 ou doentes com a Covid-19. Se o seu animal de estimação desenvolver uma doença inexplicável e tiver sido exposto a uma pessoa com a Covid-19, converse com o profissional da área de saúde pública que atende essa pessoa. Se a sua área tem um veterinário voltado à saúde pública, o funcionário de saúde pública vai consultá-lo ou a outro funcionário adequado.
Se o veterinário de saúde pública do estado ou outro funcionário da saúde pública recomendar que você leve seu animal de estimação a uma clínica veterinária, ligue para a sua clínica veterinária, com antecedência, para avisá-los de que está trazendo um animal de estimação doente que foi exposto a uma pessoa com Covid-19. Isso dará tempo à clínica para preparar uma área de isolamento. Não leve o animal a uma clínica veterinária, a menos que você seja instruído por um funcionário da saúde pública.
Os veterinários devem começar a vacinar cães contra o coronavírus canino devido ao risco do COVID-19?
As vacinas para coronavírus canino disponíveis em alguns mercados globais destinam-se a proteger contra infecções entéricas por coronavírus e NÃO são licenciadas para a proteção contra infecções respiratórias. Os veterinários NÃO devem usar essas vacinas diante do surto atual, pensando que pode haver alguma forma de proteção cruzada contra a SARS-Cov-2. Não há absolutamente nenhuma evidência de que a imunização de cães com as vacinas comercialmente disponíveis forneça proteção cruzada contra a infecção pelo vírus da Covid-19, uma vez que os vírus entéricos e respiratórios são variantes distintas do coronavírus. Atualmente, não existem vacinas disponíveis em nenhum mercado para a infecção respiratória por coronavírus no cão. [Informações do grupo de diretrizes de vacinação da WSAVA].
Se quiser aprofundar sua pesquisa a respeito do coronavírus em relação aos pets, consulte o site do Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Foto: Alex Matravers via Photopin