
Depois de cinco anos, ontem (16), o cacique Raoni Metuktire, líder do povo Kayapó, que vive no Pará, voltou ao Vaticano, em Roma para visitar o Papa Francisco e participar da Cúpula do Clima das Pontifícias Academias de Ciências e de Ciências Sociais, que reúne cerca de 200 especialistas de diversas partes do mundo para debaterem o tema “Da crise climática à resiliência climática“.
(como contamos aqui, em 2019 Raoni esteve no Vaticano no final de sua viagem pela Europa realizada para denunciar ameaças do governo Bolsonaro à Amazônia e ao Xingu; na ocasião, ele também passou pelo Festival de Cannes para sensibilizar seu público)
Durante o encontro, Raoni entregou carta ao Pontífice para pedir seu apoio (da Igreja Católica) para a proteção das florestas e relatar as catástrofes climáticas que acometem o Brasil neste momento: enchentes no Rio Grande do Sul – que já registra 151 mortos – e queimadas no Mato Grosso, acontecimentos que vulnerabilizam, ainda mais, os povos indígenas.
No texto, o líder diz que, embora esses povos tenham papel imprescindível na conservação e na recuperação de recursos naturais, não são ouvidos e que é notória a tentativa de reversão de seus direitos garantidos na Constituição de 1988, referindo-se ao Congresso Nacional, em especial.
“O Congresso tem desafiado até os julgamentos do Supremo Tribunal Federal”, destaca o documento ao citar o embate em torno do criminoso marco temporal. Em resposta à decisão do STF – que julgou essa tese inconstitucional -, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, promulgou-a como lei.
Assim, Raoni fez apelo para que a Igreja Católica transmita, aos parlamentares brasileiros, suas preocupações com a crise climática e os povos originários.
“É por isso que viemos: para rogar que Vossa Santidade continue nos ajudando, ao fazer com que a palavra da Igreja Católica, o chamado da Encíclica Laudato Sí e da Pastoral da Amazônia, cheguem aos membros de nosso Congresso que, aparentemente, não receberam ou compreenderam devidamente, até hoje, tal solene e alertadora mensagem”, destaca a carta, que continua:
“Essa ofensiva explícita e sem precedentes contra os povos indígenas encoraja também invasores, que geram prejuízos irreversíveis, tais como é o caso do garimpo ilegal de ouro e outros minerais, que envenena nossos rios e nossa comida”.

Campanhas de conscientização
Patxon Okreãjti, sobrinho-neto de Raoni, declarou, à reportagem do G1, que é de extrema importância que o Papa e a comunidade católica demonstrem interesse e preocupação com a causa, “para que os impactos ambientais sejam minimizados, através de campanhas de conscientização”.
“Além das enchentes que ocorrem no Rio Grande do Sul, ainda há o problema de desmatamento, seca nos rios e as regiões que sofrem com os incêndios [em Mato Grosso]. Por isso, o cacique pede que as pessoas se mobilizem e olhem para esses fenômenos que estão ocorrendo de maneira desenfreada. Pedimos apoio do Papa para que mais pessoas tenham consciência sobre o assunto, já que, quando eu falo, ninguém me escuta no Brasil”.
Vale destacar que, em abril deste ano, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) identificou que o Mato Grosso registrou o maior número de focos de incêndio do país: foram 788 focos entre os dias 1 e 30. E este é o segundo mês seguido em que o MT lidera esse ranking: em março, foram registrados 1.624 focos.
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Foto: Vaticano/divulgação
Fontes: Vaticano, Instituto Raoni, G1, Folha de SP