O mais importante concurso internacional de fotografia da vida selvagem do mundo, o Wildlife Photographer of the Year, anunciou esta semana que desclassificou o brasileiro Marcio Cabral por fraude. O fotógrafo havia sido premiado, em 2017, na categoria “Animais em seu habitat”, com um suposto flagrante de larvas de cupim iluminadas sendo devoradas por um tamanduá-bandeira, no Parque Nacional das Emas, em Goiás, como noticiamos aqui, no ano passado.
A organização do concurso revelou que recebeu denúncias de que o animal da imagem seria empalhado – um tamanduá-bandeira que está exposto na entrada no parque. Os responsáveis pelo Wildlife Photographer of the Year decidiram então realizar uma investigação interna, em que consultaram, separadamente, cinco especialistas. Os cientistas compararam o animal da fotografia com o empalhado e foram unânimes em declarar que houve fraude. De acordo com a análise, a postura do tamanduá e a direção dos pelos provam que os dois são na verdade, o mesmo.
Marcio Cabral nega que tenha havido qualquer tipo de manipulação de imagem. Segundo ele, “outros fotógrafos e turistas estavam no parque naquele momento e, portanto, seria muito improvável que alguém não visse um animal empalhado sendo transportado e colocado cuidadosamente nesta posição”.
Imagem do animal empalhado que teria sido utilizado na fotografia premiada
O fotógrafo brasileiro colaborou com todo o processo da investigação e forneceu imagens feitas antes e depois do registro, mas em nenhuma delas, o tamanduá aparece. Cabral afirma que tem uma testemunha que presenciou o momento em que a fotografia foi realizada.
Em discussões nas redes sociais, depois da divulgação da notícia, fotógrafos de natureza brasileiros comentaram que, geralmente, são feitos vários cliques seguidos da mesma imagem, por isso é estranho que não haja outra imagem para confirmar a presença do animal no local. Mas também dizem, que seria possível que, com o flash da câmera, o tamanduá tenha fugido.
Foi o que Cabral alegou ter acontecido. “Infelizmente, não tenho outra imagem do animal porque é uma longa exposição de 30 segundos e ISO 5000. Depois que os flashes foram disparados, o animal deixou o local, por isso não foi possível fazer outra foto com ele saindo do local totalmente escuro”, explicou Cabral.
Promovido pelo Museu de História Natural do Reino Unido há mais de 50 anos, o Wildlife Photographer of the Year é uma espécie de “Oscar” da fotografia de natureza.
Ao retirar o prêmio do fotógrafo brasileiro, o museu afirmou que ele não cumpriu com as regras da competição, “que determina que os participantes não enganem o espectador ou tentem disfarçar e/ou deturpar a realidade da natureza”.
“Acho lamentável e surpreendente que um fotógrafo vá tão longe para enganar a competição e seus seguidores no mundo inteiro. O concurso dá grande importância à honestidade e à integridade, ambos, o coração desta iniciativa. Esta desqualificação deve lembrar aos participantes que qualquer transgressão das regras ou o espírito da competição serão eventualmente descobertos”, disse Roz Cox, presidente do júri do Wildlife Photographer of the Year.
Esta não é a primeira vez que o concurso desclassifica um ganhador. Em 2009, o grande vencedor do Wildlife Photographer of the Year perdeu o prêmio após a análise do júri constatar que o lobo que pulava um portão era um animal treinado.
Marcio Cabral já ganhou outros prêmios internacionais e tem suas imagens publicadas em revistas de fotografia e meio ambiente. O fotógrafo ainda não fez nenhuma declaração oficial em sua página nas redes sociais se defendendo da acusação.
*Com informações dos jornais The Independent e da BBC Brasil