Ontem à noite, 17/9, a MetSul Meterorologia alertou que, nesta e na próxima semanas, o Brasil passará por “episódio excepcional de calor em grande parte do Brasil” com temperaturas que podem superar os valores médios históricos de temperatura máxima “em todas as cinco regiões, com alto potencial para quebra de recordes no mês de setembro”.
Assim, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Distrito Federal, Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão estão entre os estados em que o calor será muito intenso a extremo, com temperatura por volta de 40ºC.
O pior calor deve ocorrer no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul com marcas acima dos 40ºC na maioria de suas cidades, que podem atingir temperaturas máximas mais extremas em particular na região do Pantanal e proximidades. Importante tomar cuidado com queimadas pois um pequeno foco de incêndio – num clima muito quente e seco – pode se transformar numa catástrofe.
Picos de calor
“Em geral, no Centro-Oeste e no Sudeste já faz muito calor neste começo de semana, mas, na segunda metade da semana, a massa de ar vai ficar ainda mais reforçada com temperaturas atipicamente elevadas“.
É verdade que o calor intenso não é incomum nestas áreas no mês de setembro, mas trata-se de “uma situação de elevado perigo pela severidade do calor esperado e que demandará atenção das autoridades”.
A região Centro-Oeste ficará próxima ao centro da grande cúpula ou domo de calor (entenda no LEIA TAMBÉM, no final deste post) que estará concentrada entre o Paraguai, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. “Pontos destas áreas podem atingir marcas tão extremas como 43ºC a 45ºC“.
Muitas cidades do Norte, de Goiás, do Sudeste e de alguns estados do Nordeste, como na Bahia (oeste), Maranhão e Piauí também podem registrar marcas próximas ou acima dos 40ºC.
Diversas localidades do estado do Rio de Janeiro também podem superar os 40ºC no próximo fim de semana. Em Minas Gerais, as áreas mais afetadas pelo calor extremo – com máximas superiores a 40ºC – serão no Triângulo Mineiro e no Noroeste do estado.
O pico do calor em intensidade devem acontecer no próximo final de semana e no começo da semana que vem no Centro-Oeste do Brasil, com massas de ar extremamente tão quentes quanto a que “atingiu o Sudoeste dos Estados Unidos no mês de julho deste ano”.
Recordes históricos de temperatura podem cair
De acordo com a MetSul Meterorologia, “a maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020, superando o recorde também oficial de Bom Jesus, Piauí, de 44,7°C em 2005. No entanto, recordes mensais – e, em algumas cidades, até absolutos – de outros tempos, podem ser superados durante esta onda de calor extremo.
São Paulo é uma das cidades em que a temperatura pode testar ou bater recordes de temperatura.
“Serão muitos dias de calor intenso a extremo no estado de São Paulo. Em alguns pontos, a temperatura ficará perto ou acima de 40ºC no interior. Já na capital, há chance de marcas entre 37ºC a 39ºC. E não se pode descartar que a capital e outras cidades paulistas registrem recordes históricos não apenas para setembro como para toda a série histórica“.
O dia mais quente já registrado na cidade de São Paulo, no mês de setembro – desde que dados começaram a ser coletados em 1943 na estação do Mirante de Santana -, foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020.
Calor perigoso, com risco à saúde e à vida
Segundo a consultora, o nível de calor esperado para os próximos dias em muitas áreas do território brasileiro atingirá patamar “extremamente perigoso à saúde e à vida com elevado risco para enfermos e idosos“, considerados como população vulnerável, assim como crianças, pois esquecem de tomar água.
O alerta não incluiu as pessoas que vivem nas ruas, que estarão ainda mais expostas ao sol e aos efeitos das altas temperaturas.
O calor extremo pode provocar insolação e exaustão, por isso, é importantíssimo hidratar o corpo constantemente. E cuidar de plantas e animais – em especial em toda a região da cúpula de calor – que podem sofrer stress hídrico.
Em geral, por ser um país tropical, no Brasil o calor é percebido como “evento normal e até celebrado”. Mas outra causa dessa percepção é que o país não tem estatísticas sobre mortalidade relacionada à alta temperatura. E isto se deve ao fato que os poucos levantamentos sobre mortes associadas ao calor no país, estão em alguns estudos epidemiológicos em pesquisas da Medicina e não da Meteorologia.
No entanto, “o calor é um causador “silencioso” de mortes, diferente do que ocorre com desastres pela chuva”. O calor extremo é muito mais mortal do que outros desastres naturais: “mata, em média, mais que o dobro de pessoas por ano do que furacões e tornados combinados, segundo dados monitorados pelo Serviço Meteorológico Nacional nos Estados Unidos.
E claro que não se pode deixar de mencionar as mudanças climáticas e a crescente urbanização, que “estão aumentando rapidamente a exposição humana a temperaturas ambientes extremas, mas poucos estudos examinaram a temperatura e a mortalidade na América Latina”, destaca a MetSul.
“Trabalho publicado em revista científica sobre temperaturas ambientes diárias e mortalidade em 326 cidades latino-americanas, de 2002 a 2015, revelou alto índice de letalidade por calor extremo.
Os riscos identificados foram maiores entre os idosos e para mortes cardiovasculares e respiratórias.
Estudo publicado em 24 de agosto de 2023 na revista Nature – intitulado Rápido aumento no risco de mortalidade relacionada ao calor – destaca que, em sua maioria, os estudos avaliam como a mortalidade causada pelo calor avança com o aumento médio da temperatura global. Mas não fica claro “até que ponto as mudanças climáticas aumentarão a frequência e a gravidade dos extremos com elevado impacto na saúde humana”.
Os autores combinaram relações empíricas de mortalidade por calor para 748 locais de 47 países com dados de grandes conjuntos de modelos climáticos. Na maioria dos locais, “evento de mortalidade por calor com recorrência estimada de 1 em 100 anos (no clima do ano 2000), passaria a ser de uma vez a cada dez a vinte anos (no clima de 2020)”.
De acordo com a consultoria, o estudo projeta que esses períodos de retorno diminuirão ainda mais sob níveis de aquecimento global de 1,5° C e 2°C, em que extremos de mortalidade por calor do clima acabarão por se tornar comuns se não ocorrer adaptação.
“As nossas conclusões destacam a necessidade urgente de uma forte mitigação e adaptação para reduzir os impactos nas vidas humanas”, enfatizam os cientistas.
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Foto: imagem da MetSul Metereologia