
Artigo publicado na semana passada (24/7) no Journal of the Royal Society Interface – ‘Polinização eletrostática por borboletas e mariposas’ –, revela que o campo eletrostático criado por borboletas e mariposas durante o voo permite que elas atraiam grãos de pólen por espaços de ar de vários centímetros de distância, sem necessidade de tocar nas flores.
O estudo é assinado por Sam J. England (principal autor), da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, e Daniel Robert, da mesma universidade, no Reino Unido, e também indica que esse campo elétrico certamente aumenta sua eficiência e eficácia como polinizadoras.
“Esta é a primeira evidência, na verdade, que sugere que a quantidade de eletricidade estática que um animal acumula é uma característica que pode ser adaptativa e, portanto, a evolução pode atuar sobre ela por seleção natural”, declaram em texto publicado no site da Universidade de Bristol.
Os pesquisadores também observaram que a quantidade de eletricidade estáticatransportada varia de espécie para espécie, depende das características de sua ecologia e do habitat onde vivem, como também do tipo de flor da qual se aproximam e se voam de dia ou de noite.
Atracão eletrostática
A pesquisa avaliou 269 borboletas e mariposas de 11 espécies, nativas de cinco continentes, cada uma oriunda de um diferente nicho ecológico. A diversidade permitiu que os cientistas comparassem e determinassem se as variáveis ecológicas estavam ligadas à sua carga, o que, por sua vez, poderia revelar se a carga estática poderia ser influenciada pela evolução.

Em texto publicado pela Universidade de Bristol, England e Robert contam que já sabiam que animais que visitam flores – como abelhas e beija-flores – podem usar eletricidade estática para coletar pólen.
“Já sabíamos que muitas espécies de animais acumulam eletricidade estática enquanto voam, provavelmente por meio do atrito com o ar. Também houve sugestões de que essa eletricidade estática pode melhorar a capacidade de animais que visitam flores, como abelhas e beija-flores, de polinizar, atraindo pólen usando atração eletrostática”, conta.
No entanto, o que eles desconheciam é que a atração eletrostática se aplica a uma gama maior de polinizadores igualmente importantes. “Então, nos propusemos a testar essa ideia e ver se borboletas e mariposas também acumulam carga e, em caso positivo, se essa carga é suficiente para atrair pólen de flores para seus corpos”.
E destacou, em entrevista à BBC News: “Descobrimos que borboletas e mariposas acumulam tanta eletricidade estática ao voar que o pólen é literalmente puxado pelo ar em direção a elas quando se aproximam de uma flor”.
Isso demonstra que elas não precisam tocar nas flores para polinizá-las, “o que as torna muito boas em seus trabalhos como polinizadoras e destaca o quão importantes elas podem ser para o funcionamento de nossos ecossistemas floridos”.
Para England, agora eles têm uma imagem mais clara de como a influência da eletricidade estática na polinização pode ser muito poderosa e disseminada.
Na prática
England salienta que, “ao estabelecer a carga eletrostática como uma característica sobre a qual a evolução pode atuar, isso abre muitas questões sobre como e por que a seleção natural pode levar os animais a se beneficiarem ou sofrerem com a quantidade de eletricidade estática que acumulam”.

Na prática, os cientistas dizem que, com esse conhecimento, é possível que possamos aumentar artificialmente as cargas eletrostáticas ou polinizadores ou pólen – com a ajuda da tecnologia -, o que poderia melhorar as taxas de polinização em ambientes naturais e agrícolas.
“Eu adoraria fazer uma pesquisa mais ampla de tantas espécies diferentes de animais quanto possível, para ver quanta eletricidade estática eles acumulam e, então, procurar por quaisquer correlações com sua ecologia e estilo de vida”, acrescenta Dr. England. “Então, poderíamos realmente começar a entender como a evolução e a eletricidade estática interagem”.

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Foto: Stephane Verney/Pixabay
Com informações do site da Universidade de Bristol e do Journal of the Royal Society Interface