A depender das nossas escolhas – e de sorte – dava pra ficar rico de brincadeira com o Banco Imobiliário, um jogo de tabuleiro lançado em 1944, que marcou gerações. E se existisse uma versão dessa brincadeira, que nos ajudasse a manter a maior floresta tropical do mundo em pé? Pois ela, de certa forma, existe.
Em sua plataforma, a iniciativa A Amazônia que Queremos – elaborada pelo Painel Científico da Amazônia, um grupo internacional de cientistas liderado por Carlos Nobre, Andrea Encalada e Jeffrey Sachs – apresenta 10 desafios da região amazônica e 10 ações para sua conservação, que não compõem um jogo, mas poderiam.
Cada lista é apresentada como um ‘tabuleiro’ no formato de um rio cheio de curvas e apresenta as orientações dessa ‘viagem’ ou ‘brincadeira’, que demandam algum conhecimento sobre o tema. Mas, caso você não saiba muito ou quer se aprofundar, encontra indicações importantes, a cada passo.
É divertido e curioso.
Você sabia que a Amazônia tem 28 vezes o tamanho da Itália? E que, em apenas uma árvore da região, é possível abrigar tantas espécies de formigas quanto em todo o Reino Unido?
E de peixes? Existem mais de 2.300 espécies nos rios da bacia amazônica, mais do que podem ser encontradas em todo o Oceano Atlântico.
E quanto aos povos indígenas? É um mundo linguístico à parte: são 330 idiomas diferentes!
Para ‘navegar’ por essas informações, basta entrar em cada trecho do “rio”. Há também tópicos com imagens de contemplação da vida na floresta, e outros que denunciam os perigos para a sobrevivência da natureza.
Nessa parte, por exemplo, há informações dignas de um filme de guerra: no “campo de batalha” encontramos desmatamento, incêndios, mineração, exploração de petróleo e gás, grandes barragens para geração hidrelétrica e invasões ilegais.
“Não são apenas problemas ambientais. Evidências estatísticas mostram que os homicídios aumentam com o desmatamento, devido ao violento processo de grilagem de terras e deslocamento de comunidades tradicionais. O desmatamento também intensifica a propagação de doenças”, ressalta a plataforma, que prossegue:
“As máfias internacionais do tráfico de drogas, a extração ilegal de madeira e a mineração ilegal causam grande sofrimento e contribuem para o tráfico de pessoas, trabalho forçado e assassinato”.
Quem chega ao fim dos dois “rios” entendeu nada mais, nada menos do que os ensinamentos que propaga o Painel Científico para Amazônia no relatório que lançou em 2021. O documento foi elaborado por 200 cientistas de renome de oito países que integram a Amazônia e serve de base para qualquer debate sério sobre o futuro da região.
E nem pense que é um amontoado de números e termos técnicos! Ele indica como cada um de nós pode – e deve – participar. Há recomendações para governos, empresas e sociedade civil. Sim, cada indivíduo tem responsabilidade!
“O bem-estar daqueles que habitam o planeta hoje e das gerações vindouras depende de sua conservação. Apelamos à consciência da humanidade para salvá-la. Ainda temos tempo para agir”, destaca o documento.
Se ainda há tempo, uma certeza é que as soluções são baseadas na Ciência, e não em ideologia. E o sinal de alerta está piscando há tempos: “A Amazônia, como um todo, está muito próxima de atingir um ponto de colapso. Se não agirmos rapidamente, quase metade das espécies de árvores poderá desaparecer em 30 anos”.
Então, se esse fosse um banco imobiliário do clima, certamente não seria possível ter um vencedor. Ou todos são ou ninguém vai ser. Quem tá nessa jogo?
A plataforma da primeira iniciativa científica de alto nível do mundo dedicada à sobrevivência da região amazônica – A Amazônia que Queremos – adota três idiomas: inglês, português e espanhol.
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Edição: Mônica Nunes
Imagens: A Amazônia que Queremos/divulgação