
Nos últimos 20 anos, pouquíssimas pessoas no mundo viram uma ararinha-azul “ao vivo”, mas apenas por fotos ou a conheceram depois que ela ficou famosa, ao se tornar a personagem principal do desenho da Disney, Rio. Descritas pela primeira vez em 1832 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, as ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) são uma espécie nativa da região de Caatinga, na Bahia. Seu nome foi dado por causa de seu pequeno porte: tem aproximadamente 57 cm, quase a metade do tamanho da arara-azul-grande.
Infelizmente, sua beleza e a cor de sua plumagem, de azul vibrante, a fez se tornar vítima da caça e do tráfico ilegal de aves silvestres. Além disso, a destruição de seu habitat também provocou o seu desaparecimento. O último indivíduo da espécie foi visto perto do município baiano de Curaçá, no ano 2000. Por isso, a ararinha-azul foi considerada extinta na natureza.
Agora, quase duas décadas depois, as ararinhas-azuis voltarão a voar pelo céu de Curaçá. Graças a uma parceria entre várias entidades internacionais e o governo brasileiro, 50 ararinhas-azuis chegarão ao Brasil, no próximo dia 3 março, para serem levadas a um centro de reprodução construído especialmente para recebê-las.
As ararinhas que serão reintroduzidas em solo brasileiro são fruto de um programa de reprodução em cativeiro realizado pela Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), na Alemanha.

As ararinhas-azuis, que nasceram no criadouro da Alemanha
A data de chegada, no dia 3 de março, foi escolhida porque é quando se celebra o Dia Internacional da Vida Selvagem. As aves desembarcarão no Aeroporto de Petrolina, Senador Nilo Coelho, em Pernambuco, e depois seguirão para a Bahia.
O centro de reintrodução, que fica dentro de uma Unidade de Conservação, em uma área de 30 mil hectares ainda está com obras a serem finalizadas, segundo relatou a ACTP, em sua página no Facebook. A associação alemã está bancando todos os custos do projeto de reintrodução e da construção do centro, informou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
Primeiramente, as ararinhas-azuis passarão por um período de adaptação. Testes para solturas serão feitos, inicialmente, com outra espécie, o papagaio conhecido como Maracanã. Só em 2021 é que as Cyanopsitta spixii devem ser solta em Curaçá.
O avião Ararinha-Azul
Para comemorar a volta das ararinhas-azuis ao Brasil, a companhia aérea Azul anunciou o lançamento do novo Embraer 195-E2, que terá uma pintura “tropical”, com várias ararinhas-azuis voando ao longo da paisagem.

O projeto do desenho foi criado pelo grafiteiro paulista Pardal. Por e-mail, a assessoria de imprensa da Azul afirmou ao Conexão Planeta que “está trabalhando para divulgar um projeto de apoio a essas aves de nossa flora”.
O novo avião, que entrará em operação em março, teve em sua pintura um total de 58 cores diferentes, das quais 28 foram criadas exclusivamente para ele.
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*Em 2018, uma denúncia do jornal britânico The Guardian fez sérias acusações contra o proprietário da Association for the Conservation of Threatened Parrots, Martin Guth. De acordo com a reportagem da publicação, Martin Guth seria um ex-gerente de boate, já preso por extorsão e sequestro, e que poderia ter envolvimento com tráfico ilegal de aves.
O Conexão Planeta repercutiu a denúncia no Brasil e fez uma série de matérias sobre o assunto. Descobriu que muitos biólogos e criadores no país já tinham ouvido falar sobre a má fama de Guth, mas todos relataram medo em denunciar o alemão (leia mais aqui).
Há uma petição internacional, que já tem mais de 50 mil assinaturas, que pede uma investigação ao governo alemão sobre o criador de aves ameaçadas.
Procurado pelo Conexão Planeta, o ministério do Meio Ambiente, ainda sob a gestão de Edson Duarte, respondeu algumas questões, mas nunca se posicionou sobre as denúncias feitas a Guth.
Em contato com a ACTP, em 2018, o Conexão Planeta se colocou à disposição para publicar uma entrevista exclusiva com o criador alemão, em que ele pudesse responder questões que ainda não tinham ficado claras, como por exemplo, a origem do dinheiro – do enorme investimento feito no programa brasileiro e em outros realizados por seu criadouroo, já que a ACTP é uma organização sem fins lucrativos.
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Fotos: divulgação Azul (avião) e reprodução Facebook Association for the Conservation of Threatened Parrots e.V. (ararinhas-azuis)