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Atropelamentos de animais no Parque Nacional do Iguaçu é recorde em 2024

Atropelamentos de animais no Parque Nacional do Iguaçu é recorde em 2024

Considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, é uma importante unidade de conservação, pois abriga um dos maiores trechos da vegetação original de Mata Atlântica do estado e ainda, é lar de um grande número de espécies da fauna – o principal destaque vai para a população de onças-pintadas (Panthera onca) que vivem na região.

Grande polo de turismo, Iguaçu foi o segundo parque nacional mais visitado do Brasil em 2023, recebendo mais de 1,8 milhão de visitantes. Contudo, por trás dessa ótima notícia, há um impacto ambiental que tem preocupado especialistas da área de conservação: o aumento do número de atropelamentos de animais no trecho de quase 12 km da rodovia federal BR-469, conhecida como Rodovia das Cataratas, que está inserido dentro da unidade de conservação.

Segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nos últimos cinco anos (2019-2023) foram registrados 425 animais vitimados neste trecho por atropelamento, entre mamíferos, aves, anfíbios e répteis (contabilizados somente vertebrados). Isso significa uma média anual de 85 óbitos por atropelamento.

Todavia, só até o final de outubro deste ano, 120 animais já morreram atropelados ali. O número recorde chamou a atenção do Ministério Público Federal (MPF), que emitiu ontem (18/11) uma recomendação ao ICMBio para implementar medidas urgentes “com o objetivo de reduzir ao máximo os casos de atropelamento da fauna do Parque Nacional do Iguaçu.”

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Entre as ações sugeridas pelo MPF estão a padronização da velocidade máxima permitida para 40 km/h em todo o trecho da rodovia BR-469 que atravessa o parque (atualmente há trechos em que ela chega a 50 km/h); a melhoria na visibilidade das placas que indicam a travessia de animais, com substituição por tamanhos maiores, contendo imagens diversificadas da fauna local e maior contraste de cores e ainda, um estudo sobre a viabilidade de instalação de sonorizadores, redutores de velocidade e radares fixos em pontos críticos.

Atropelamentos de animais no Parque Nacional do Iguaçu é recorde em 2024
Puma atropelada em São Miguel do Iguaçu (PR)
Foto: Onças do Iguaçu

Atualmente já existe um sistema de monitoramento de velocidade nesse trecho da BR-469. “Em decorrência do atropelamento de uma onça-pintada, em 2009, o Parque Nacional instalou, a partir de 2014, um sistema de controle de fluxo e velocidade dos veículos que circulam no trecho da rodovia dentro da UC”, explica Rosane Nauderer, analista ambiental do ICMBio e responsável pelo projeto de monitoramento de atropelamentos dentro do Parque do Iguaçu.

O sistema funciona da seguinte maneira. Motoristas que trafegam pela estrada que passa pelo parque são obrigados a fazer um cadastro e recebem um aparelho GPS, que ao longo do percurso sinaliza a velocidade máxima permitida. Na saída, o condutor devolve o equipamento. O sistema acusa então se houve ou não infrações durante o trajeto. Quando um motorista excede a velocidade , descumprindo, assim, as normas do parque, ele recebe seis meses de suspensão, o impedido de entrar dirigindo no parque e uma multa que pode variar entre R$500 e R$ 10.000,00. A penalidade em questão não é infração de trânsito e sim um descumprimento de norma do Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu.

Segundo Rosane, em 2016, também foram iniciadas atividades para obter dados sobre as espécies impactadas e a localização dos pontos críticos e assim, buscar propor medidas para prevenção dos atropelamentos.

Mas pelo que se percebe, o que está sendo feito ainda não é suficiente, caso contrário o número de atropelamentos não teria aumentado em 2024. E está se observando apenas os casos de colisões/óbitos dentro da Estrada das Cataratas, sem levar em conta os animais que perdem a vida nas estradas e rodovias vizinhas.

Atropelamentos de animais no Parque Nacional do Iguaçu é recorde em 2024
Um gato-maracajá, morto ao tentar cruzar uma estrada
Foto: Onças do Iguaçu

Impacto na população de onças-pintadas

Não é só o lado brasileiro do Parque do Iguaçu que sofre com os atropelamentos de fauna. Algumas das mais recentes colisões de animais com veículos aconteceram na Ruta Nacional 12, dentro dos limites do Parque Nacional Iguazú, na Argentina. Só em outubro, foram registradas as mortes de uma filhote de onça-pintada, de apenas 5 meses de idade, e duas jaguatiricas.

“Em 2018 tivemos o atropelamento de uma onça fêmea, prenha, na Argentina, com dois filhotes”, conta Yara Barros, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, que atua na região. “Cada vez que você perde uma fêmea, você está perdendo um pouco da capacidade reprodutiva da espécie. E se os filhotes forem muito jovens, com menos de um ano de idade, eles também vão morrer, porque até um ano e meio, mais ou menos, eles ainda dependem da mãe.”

Maior felino das Américas, a onça-pintada quase foi extinta na região do Parque Nacional do Iguaçu no início dos anos 2000. Mas graças a esforços de conservação, a população da espécie conseguiu se recuperar. Atualmente o chamado Corredor Verde, que atravessa a fronteira entre Brasil e Argentina, abriga aproximadamente um terço de todos esses felinos no bioma Mata Atlântica.

Por isso mesmo, diante de um trabalho tão árduo nas últimas décadas, especialistas em conservação se mostram insatisfeitos com o aumento de atropelamentos.

“Medidas não são implementadas para evitar ou reduzir o risco de atropelamentos. É necessário ter controles e redutores de velocidade mais eficientes, como radares fixos ou móveis”, afirma Agustín Paviolo, coordenador do Proyecto Yaguareté, que trabalha pela preservação da onça-pintada no lado argentino.

Duplicação da BR-469 e mais riscos de atropelamentos

Diante desta estatística alarmante, que mostra o aumento de colisões com animais na estrada que passa dentro do Parque Nacional do Iguaçu, uma nova obra traz mais temor e possíveis riscos para a fauna que existe na região e muitas vezes, cruza suas estradas. O Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) está duplicando um trecho de quase 9 km da BR-469, desde o portal de entrada do parque até o trevo de acesso à Argentina.

Em março deste ano, numa postagem em suas redes sociais, o Onças do Iguaçu já demonstrou preocupação com o planejamento das obras, e como estava sendo tratado o futuro – e certamente, maior impacto – sobre os animais do parque.

No texto, a equipe do projeto cobrava os envolvidos nas obras de duplicação sobre quais tinham sido as condicionantes ambientais propostas para proteger a fauna local e quais as medidas mitigatórias que serão usadas para evitar atropelamentos.

“Oi, @derpr.oficial [DER/PR], são vocês que fiscalizam as obras da duplicação da BR 469? Vocês podem compartilhar com a população quais serão as medidas empregadas para evitar que haja atropelamento de fauna? Foram previstas passagens de fauna? Quantas e onde serão construídas?”, questionou o Onças do Iguaçu.

O Conexão Planeta entrou em contato com vários órgãos e instituições envolvidas na obra da BR-469 para tentar obter informações sobre as passagens de fauna previstas no projeto, mas houve um jogo de empurra-empurra e nenhuma informação nos foi dada.

Tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), como a Itaipu Binacional, responsável por parte do financiamento da duplicação da BR-469, afirmaram que a execução das obras é de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), que “poderia fornecer maiores esclarecimentos acerca das condicionantes previstas no projeto.”

Em troca de mensagens com a assessoria de imprensa do DER/PR, primeiramente nos foi dito que a informação deveria ser do DNIT, e após disso, não tivemos mais retorno de nossos questionamentos.

Obra de duplicação da BR-469 está a todo vapor, mas há falta de transparência sobre
condicionantes ambientais e passagens de fauna
Foto: divulgação DER/PR

O analista ambiental do ICMBio, Marius Bellucci, coordenador do setor de Manejo e Pesquisa do Parque Nacional do Iguaçu, participou do processo de discussão da obra – ele foi o responsável pela manifestação do instituto sobre o licenciamento da duplicação da BR 469 -, mas relatou problemas de comunicação.

“A licença foi expedida pelo Instituto Água e Terra (IAT), com o parecer do ICMBio incorporado às condicionantes. Só que houve algumas falhas de comunicação no processo entre o escritório do IAT em Foz do Iguaçu e a sede em Curitiba. Aparentemente o empreendedor contratou o executor com base no projeto submetido na Licença Prévia, sem a ciência das exigências previstas na Licença de Instalação e começaram a execução claramente sem levar em consideração nossas proposições, acatadas pelo IAT”, diz.

Bellucci afirma também que nunca teve acesso ao projeto de engenharia final para emitir a manifestação do ICMBio e isso acarretou em certos problemas.

“O local onde propusemos uma passagem de fauna aérea, por exemplo, onde não havia outra forma de conectividade terrestre, o empreendedor vai executar um viaduto, inviabilizando a sugestão de condicionante… Como a obra é considerada de menor potencial de impacto ao Parque Nacional do Iguaçu, nossa manifestação não é vinculante, ou seja, o órgão ambiental não tem obrigação de seguir”, revela.

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Foto de abertura: divulgação Onças do Iguaçu

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