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Arquitetura racional é com os marimbondos

1Polybia jurinei_MarcosMagalhaes

“Podemos nós aprender alguma coisa com as adaptações ecológicas das edificações animais? A arte humana da arquitetura é orientada para a comunicação estética e não para a sobrevivência biológica… As construções animais abrem uma importante janela para a evolução, tradição e adaptação ecológica. O comportamento e a construção humana se destacaram perigosamente de seu contexto ecológico”. Assim escreve o professor de arquitetura finlandês Juhani Pallasmaa, da Universidade de Helsinki e do Museu Finlandês de Arquitetura, autor de mais de uma dezena de livros traduzidos em diversos idiomas, incluindo Arquitetura Animal, de 1995.

Para o especialista em design arquitetônico, muitos animais, incluindo os marimbondos, fazem construções que “podem superar nossas realizações quanto à sua funcionalidade, adaptabilidade ecológica, força estrutural, eficiência em sistemas de energia, economia e precisão”.

Pallasmaa cita como exemplo as vespas sociais responsáveis pela manutenção dos ninhos (feitos de celulose), que ingerem parte das estruturas para reutilizar o material. O especialista em marimbondos, Marcos Magalhães de Souza, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFS-Inconfidentes), confirma e diz que esses insetos maceram a polpa de celulose para misturar à saliva e remodelar os ninhos. Segundo ele, algumas espécies possuem, inclusive, o hábito de estocar reservas de polpa, de formato cônico, do lado de fora do ninho, para não precisar buscar material novo com frequência. Com isso, os ninhos parecem exibir “espinhos”, como é o caso do marimbondo-casa-de-espeto (Polybia scutelaris).

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2Polybia scutellaris_MarcosMagalhaes

Quanto à eficiência energética, há muito a aprender com os marimbondos em termos de isolamento térmico. Termômetros colocados dentro e fora dos ninhos de papel indicam diferenças de 10 a 15 graus centígrados entre as temperaturas interna e externa. Além disso, os marimbondos mudam a disposição interna dos ninhos, conforme o clima lá de fora: “quando está muito frio, eles transferem os ovos e as larvas para o centro do ninho, que é mais isolado, enquanto na estação mais quente, as larvas ocupam as bordas, mais frescas”, explica Magalhães. Alguns marimbondos chegam a carregar água para refrescar as larvas e as células, além de bater as asas para ajudar na ventilação.

Outras espécies adotam um tipo de construção modular, passível de adaptação para diferentes funções, como acontece com as espécies do gênero Parachartegus, aqui no Brasil, como o marimbondo-chiador (P. fraternus) ou uma nova espécie para Minas Gerais, o marimbondo-pinga-fogo (P. smithi), catalogada por Magalhães. Em caso de necessidades, novos módulos são construídos, sejam eles favos inteiros ou apenas “puxadinhos”.

3Parachartergus fraternus_MarcosMagalhaes

Vespas sociais com estas características são citadas pelo Biomimicry Institute (Instituto de Biomimética, dos Estados Unidos) como inspiração para construções inovadoras. É o caso, por exemplo, do sistema FlexNatür, adotado para remodelar apartamentos no centro de grandes cidades pelas empresas Sweeny Sterling Finlayson & Co Architects (apelidada em &Co) e Parallax Investment Corporation, do Canadá.

Os apartamentos FlexNatür possuem encanamentos e fiação embutidos em plataformas e divisórias fáceis de remover, de modo que o tamanho e a função dos cômodos pode ser alterada, sem necessidade de quebrar paredes ou piso. O morador tem a opção de começar com um apartamento pequeno e depois incorporar mais cômodos, se a família crescer. Ou comprar um apartamento grande e depois, quando os filhos saírem de casa, dividir em dois e alugar um deles. E tem a liberdade de fazer as adaptações que quiser, internamente.

Já existem alguns prédios de apartamentos prontos, no centro de Toronto, em áreas que misturam centros comerciais, escritórios e moradias de jovens executivos e suas famílias. O sistema flexível é considerado racional por evitar os altos custos e os problemas de transporte até o local de trabalho. E favorece a revitalização dos centros urbanos, ao instalar e garantir a permanência dessas comunidades de residentes.

Mais uma fonte de inspiração arquitetônica oferecida pelos marimbondos e destacada pelo Biomimicry Institute, vem do gênero Metapolybia, aqui no Brasil representado pela espécie M. cingulata, nativa das matas secas do norte de Minas Gerais e da Mata Atlântica às margens do rio Doce. O ninho das vespas sociais desse gênero é construído com algumas pequenas “janelas” translúcidas, feitas de camadas mais finas de celulose.

“É provável que essas janelas não tenham sido concebidas para iluminação do interior, mas como um meio de camuflagem: as janelas transparentes fazem o ninho desaparecer em meio às sombras da vegetação”, escreveu Pallasmaa, em seu livro Arquitetura Animal. Marcos Magalhães volta a endossar as palavras do arquiteto finlandês: “os marimbondos do gênero Metapolybia fazem ninhos muito camuflados, difíceis de localizar, tanto por essas “janelas” translúcidas como por usarem materiais locais, de cor muito parecida com os troncos sobre os quais se instalam. Os ninhos parecem fazer parte da árvore”.

4Metapolybia cingulata_MarcosMagalhaes

Tal estratégia de camuflagem pode ser adotada na decoração de interiores ou para integrar todo o edifício ao meio ambiente, segundo o Biomimicry Institute. Realmente, não seria nada mal ter prédios mais camuflados para preservar a paisagem, sobretudo em locais turísticos, que não merecem o choque visual do concreto interrompendo a harmonia da natureza. Fica a sugestão para os nossos arquitetos de plantão: olho nos marimbondos, que eles sabem o que fazem!

Em tempo: Biomimética é o estudo de estruturas e funções biológicas, para usar as estratégias e as soluções testadas ao longo da evolução pela natureza como inspiração para inovações, em diversos campos da Ciência.

Fotos: Marcos Magalhães de Souza

Legendas das fotos:

1. Equipe de construção faz um “puxadinho” no ninho (marimbondo-jabuticabeiro ou Polybia jurinei)

2. Ninho com reservas de material em forma de “espinhos” (marimbondo-casa-de-espeto ou Polybia scutelaris)

3. “Edifício” de favos modulares (marimbondo-chiador ou Parachatergus fraternus)

4. Ninho camuflado (Metapolybia cingulata)

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ANTONIO CARLOS CAVALLI
ANTONIO CARLOS CAVALLI
8 anos atrás

Excelente matéria. Temos muito a aprender com outros seres vivos e nem sempre bem conhecidos. Melhor ainda é ver articulista em plena forma. Grande abraço.

Aldomar Ferreira de Sousa
Aldomar Ferreira de Sousa
7 anos atrás

Os animais dão uma lição de vida em nós, eles usam tudo que existe na natureza sem prejudicar o
meio ambiente. OS humanos por onde passam deixam um rastro de destruição.
É muito triste o que vemos diariamente contra o nossa MÃE NATUREZA. O nosso planeta esta morrendo.

Maria de Fátima de Azevedo Farias
Maria de Fátima de Azevedo Farias
6 anos atrás

Estou observando a algum tempo o comportamento dos marimbondos, aqueles que constrói suas nos telhados das residências. Eles voam do outro lado da rua onde tem suas casas no telhado do vizinho, entra na minha cozinha pela janela bebem água que eu deixo empossada na pia e voltam até suas casas, fazem isso umas dez vezes ao dia, sem se importarem com a minha presença, parece saber que nao faremosmal a eles fico na dúvida se é o mesmo que faz esse processo ou se são vários .

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