
Em julho do ano passado, a bióloga marinha, oceanógrafa e exploradora americana Sylvia Earle –respeitada ativista da conservação marinha e presidente da Aliança Internacional Mission Blue – esteve no Brasil para visitar diversos locais onde a natureza é preservada e projetos impulsionam sua proteção.
A iniciativa de Earle reconhece a diversidade e a importância dos ecossistemas, mas também sua vulnerabilidade e que, por isso, merecem mais atenção do poder público e da sociedade para que se mantenham protegidos.
“Hope Spots são lugares especiais que são cientificamente identificados como críticos para a saúde do oceano”, resume ela.
Trabalhando com as comunidades locais, ajudando-as a lutar pela proteção marinha, por meio dessa iniciativa a Mission Blue também promove a compreensão do valor estimado dos oceanos dos quais dependemos: “de recifes de coral a peixes, ervas marinhas e manguezais, todos são vitais para manter a integridade dos mares e do planeta”.
No Brasil, um dos lugares que a oceanógrafa de 88 anos visitou foi o Monumento Natural das Ilhas Cagarras – onde nadou feliz da vida (foto abaixo) -, no Rio de Janeiro.

águas do entorno das Ilhas Cagarras, no RJ
Foto: Athila Bertoncini
Em 2021, as Ilhas Cagarras e as Águas de seu Entorno foram incluídas por ela e sua fundação no seleto grupo de Hope Spots (Pontos de Esperança), que, então, reunia cerca de 140 locais em todo o mundo, entre eles, Arquipélago de Abrolhos, reconhecida em 2017 (agora, há três Hope Spots brasileiros).
Hoje, são 154, incluindo o Arquipélago de Alcatrazes, localizado no litoral norte de São Paulo – a 45 km da costa de São Sebastião, pode ser avistado de várias praias da região como Camboriú, Maresias e Guaecá -, que acaba de ser anunciado por Earle como o mais novo “membro” de sua preciosa rede.
“Lar de mais de 1.500 espécies”
Em vídeo gravado especialmente para anunciar a decisão da Mission Blue, Sylvia Earle declarou: “Estou muito feliz em receber o Arquipélago de Alcatrazes, localizado no litoral de São Paulo, como novo Hope Spot. Na verdade, esta é a única área, de fato, altamente protegida ao longo da costa desta região do Brasil” (assista ao vídeo, na íntegra, no final deste post).

com listras verticais em águas azuis cristalinas
Foto: Léo Francini
“O Arquipélago de Alcatrazes é classificado como tendo uma extrema importância biológica e de conservação segundo o Ministério do Meio Ambiente. O fundo do mar é composto por encostas íngremes, vales e canais que abrigam jardins de corais sobre costas rochosas. Recebe milhares de visitantes por ano para realizar atividades de baixo impacto, como mergulho recreativo e observação de aves”, lembrou.
E acrescentou: “O local é o lar de mais de 1.500 espécies” [sendo 20 endêmicas], incluindo peixes recifais, aves marinhas e cetáceos, como o golfinho-nariz-de-garrafa e as baleias jubarte, minke e fin. É também o lar de pessoas que estão colaborando com sucesso para a conservação, educação e pesquisa”.
Para a pesquisadora, a dedicação para proteger o arquipélago, nas últimas décadas, “é motivo de grande esperança de que esse local excepcional do oceano continue a prosperar”. Ao mesmo tempo, ela destaca sua vulnerabilidade:

grandes bolsas vermelhas na garganta
Foto: Léo Francini
“No entanto, o arquipélago continua ameaçado por impactos humanos, incluindo a pesca ilegal e legal nos arredores e a transformação da região costeira para fins humanos”. E aproveita a oportunidade para lembrar que “o governo brasileiro e o estado de São Paulo estão comprometidos com as metas acordadas na COP15 das Nações Unidas (para a Biodiversidade) para proteger 30% do oceano até 2030”.
Campeões do Hope Spot
Por atuar para a conservação desse pequeno grupo de ilhas rochosas, “que fervilha de vida acima e abaixo da superfície do oceano”, Vinicius José Giglio, professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), e Ronaldo Bastos Francini-Filho, professor e pesquisador do Centro de Biologia Marinha (CEBIMAR), da Universidade de São Paulo (USP) também foram reconhecidos pela Mission Blue: como campeões do Hope Spot.

Foto: Léo Francini
“O Arquipélago de Alcatrazes é um exemplo de conservação da biodiversidade bem-sucedida, juntamente com a visitação pública bem implementada e o comprometimento das partes interessadas e comunidades locais em apoiar a eficácia das áreas marinhas protegidas (AMPs). Esses esforços resultaram em melhores resultados em relação aos atributos ecológicos e sociais”, explica o pesquisador Giglio.
Francini-Filho acrescenta: “A AMP de Alcatrazes é o resultado de um processo genuíno de baixo para cima, no qual as partes interessadas locais lutaram por muitos anos por sua criação e implementação. Foi um privilégio participar dessa luta. Aprendi a mergulhar em Alcatrazes e, depois de quase três décadas trabalhando na conservação marinha em todo o Brasil, sinto-me privilegiado por agora dedicar a maior parte do meu tempo à pesquisa aplicada para a conservação do Alcatrazes Hope Spot”.
E ele complementa: “Apesar do sucesso da AMP, ainda enfrentamos muitos desafios, como alta pressão de pesca em seus arredores, aumento da ocupação costeira e poluição e mudanças climáticas aceleradas”.
Para ambos, as prioridades de conservação são a aplicação e a gestão efetivas da AMP de Alcatrazes, a expansão da proteção legal para águas mais profundas e as agregações reprodutivas encontradas lá, e a recuperação de áreas rasas e viveiros.
Giglio e Francini-Filho também esperam expandir o monitoramento, a pesquisa e os programas educacionais.
A seguir, assista à gravação na qual Sylvia Earle anuncia o reconhecimento do Arquipélago de Alcatrazes esta semana:
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Foto (destaque): Cristian Dimitrius