PUBLICIDADE

Após dois anos de reabilitação em projeto pioneiro de conservação, lobo-guará Canelinha volta à natureza!

“Sabe aqueles momentos que nos colocam pra refletir, pra pensar no que fazemos, pra que fazemos? Quantas vezes indagamos se vale a pena tanto desgaste, tanto esforço, tantos quilômetros rodados, tantas ausências, tantos não posso ou não vai dar? Aqueles momentos que nos dão fôlego, força, aqueles projetos e/ou pessoas que nos enchem de orgulho? Pois é, na semana passada, vendo o Canelinha literalmente correr pra liberdade novamente, vivi um desses momentos”.

Este é apenas o início da reflexão tocante que Jorge Salomão Junior, médico veterinário e responsável técnico do Instituto Líbio (e do Ampara Silvestre), publicou em seu Instagram, relatando a emoção que sentiu com a soltura do lobo-guará Canelinha, em 27 de abril, na Fazenda Ambiental Fortaleza em Mococa, interior de São Paulo.

Foi nas proximidades dessa cidade que, em 2021, com apenas três meses, Canelinha foi salvo de um incêndio por um morador da zona rural. 

Vale ressaltar, aqui, que o local foi escolhido para a soltura não só por ser próximo do local onde ele foi encontrado, mas porque o projeto Sou Amigo do Lobo (do IInstituto Pró-Carnívoros em parceria com o CENAP – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio) realiza, na região, um trabalho lindo de monitoramento dos lobos-guará, e também de educomunicação para sensibilizar a sociedade sobre a importância da preservação da espécie.

PUBLICIDADE

O convívio de Jorge Salomão com esse animal maravilhoso começou em dezembro do mesmo ano, no Mantenedor de Porto Feliz do Instituto Libio (segunda morada depois do resgate) onde foi acolhido num recinto construído especialmente para ele e passou a receber os cuidados de biólogos e veterinários da organização e do Instituto Pró-Carnívoros, com supervisão técnica do CENAP/ICMBio.

“Estamos mudando o mundo? Não! E não podemos ser hipócritas de dizer o contrário, mas estamos nos esforçando, fazendo nossa parte e, mesmo com todos os absurdos e as bizarrices aos quais nossa fauna é exposta, estamos tentando fazer algo, tentando fazer a diferença”, acrescentou o veterinário e ativista pela causa animal (vale muito acompanhá-lo no Instagram).

Canelinha, antes da soltura / Foto: Rogério Cunha/ICMBio

“De olho” no Canelinha

No início do mês passado, contamos, aqui no site, sobre os preparativos finais para a soltura do Canelinha (e da tamanduá-bandeira Aurora). Foram dois anos de reabilitação e treinamento para que o lobo crescesse saudável, ganhasse peso e aprendesse a buscar seus próprios alimentos, tornando-se apto a voltar à natureza. 

E agora, livre, ele está sendo monitorado pela equipe do Projeto Lobos do Pardo (outra parceria entre o Pró-Carnívoros e o CENAP), por meio de coleira GPS e monitor cardíaco. 

O objetivo dos pesquisadores é compreender como está se processando sua adaptação e, assim, garantir que ele adquira os hábitos dos lobos que vivem livres na região. 

“Caso seja identificada qualquer dificuldade de adaptação e sobrevivência, ele será recapturado, reconduzido ao recinto de treinamento e avaliado”, explica Rogério Cunha de Paula, biólogo e analista ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).“Cada bicho é especial e a gente faz de tudo para que eles tenham uma segunda chance e uma vida melhor”.

E Jorge Salomão revela: “A soltura do Canelinha foi superbem! Ele está andando bastante e tentando estabelecer seu território. Muito bacana!”.

Projeto pioneiro

A saída de Canelinha do recinto foi registrada e emocionou a todos (veja no final deste post), como relatou o médico veterinário Jorge Salomão:

“Ahhhh e o que é tão bacana nesse galope do Lobão é que mudamos, sim, o mundo: o mundo dele! Devolvemos a ele o seu mundo, demos mais uma chance e a sensação de ver o olhar de cada profissional envolvido. E a emoção que ali vivemos mudou o nosso mundo, o mundo dos profissionais que tanto fizeram por esse momento. Então, por hora, só por hora, nos basta”. 

E finalizou: “Vamos continuar trabalhando porque, se tem algo que todos nós testemunhamos é que, nossa bicharada não tem paz! Muito obrigado a todos os envolvidos, todos os esforços, a todas as instituições. E viva o Canelinhaaaaa!”. Viva!

O médico veterinário tem razão de estar tão emocionado e agradecido. Este é um projeto pioneiro para a conservação desta espécie, que só é possível graças à parceria de organizações como o ICMBio/CENAP, o Instituto Libio e o Instituto Pró-Carnívoros (foto abaixo), com o apoio de outras instituições e de órgãos governamentais:

  • Smithsonian Conservation Biology Institute (por meio do projeto Ritmos da Vida, coordenado pela professora Rosana N. Moraes, e associado às atividades do Projeto Lobos do Pardo desde 2022, com o monitoramento cardíaco de alguns animais acompanhados pela equipe das instituições); 
  • CeMaCas – Divisão de Fauna Silvestre, da Prefeitura de São Paulo,
  • Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de SP,
  • Fazenda Belo Monte,
  • Fazenda Ambiental Fortaleza,
  • Ampara Silvestre,
  • LogNature, entre outros parceiros.
Jorge Salomão Jr. (o segundo da esquerda para a direita) e Rogerio da Cunha (de jaqueta) com os profissionais das instituições envolvidas na reabilitação e na soltura do Canelinha / Foto: reprodução do Instagram

“Projetos de conservação desta natureza têm tornado possível o desenvolvimento de um protocolo para reintrodução de órfãos de lobo-guará no âmbito do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos Silvestres (PAN Canídeos)”, conta, em nota, o ICMBio.

“A criação desse protocolo vem sendo conversada e discutida entre as instituições envolvidas, mas ainda não há nada oficial. A ideia é termos um protocolo que deverá ser seguido por todos que trabalham com conservação, visando o sucesso da reintrodução do lobo-guará”, explica Jorge.

Enquanto o documento não fica pronto, ele explica que os pesquisadores seguem diretrizes como, por exemplo, “normativas epidemiológicas”, que exigem a realização de exames que certifiquem que “o animal que passa um tempo em cativeiro para reabilitação não leve qualquer tipo de doença para a vida livre”.

E ele ainda revela: “Em breve, também teremos acesso a protocolos para a reintrodução da onça-pintada e também do bugio (este está sendo elaborado pela Sociedade Brasileira de Primatologia)”.

A seguir, assista ao vídeo do galope do Canelinha ao sair do recinto, publicado por Jorge em homenagem ao lobo e a todos os profissionais envolvidos em sua reabilitação e volta à natureza:

Foto (destaque): Rogério Cunha/ICMBio

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor