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Após 30 anos extinta na natureza, espécie de martim-pescador será reintroduzida na vida selvagem. Mas não no habitat original

Após 30 anos extinto na natureza, espécie de martim-pescador será reintroduzido na vida selvagem. Mas não no seu habitat de origem

A história desse pássaro é muito parecida com a de outros animais extintos na natureza. No passado o martim-pescador-de-Guam (Todiramphus Cinnamominus), chamado de sihek pelos povos nativos, era encontrado exclusivamente na ilha que aparece em seu nome: Guam, um território dos Estados Unidos, localizado na Micronésia, no Oceano Pacífico. Todavia, a introdução acidental na década de 50 de uma espécie de cobra invasiva e exótica em seu habitat fez que com que a ave desaparecesse dali.

O martim-pescador-de-Guam é um pássaro de cor marrom-canela com asas e cauda de um tom azul brilhante. Tem um bico longo e pesado, que o ajuda a pegar suas presas: ele só se alimenta de animais, incluindo lagartos, lagartixas, aranhas, besouros e caranguejos terrestres.

Mas desde 1988 o martim-pescador de Guam só existe em cativeiro e sua reprodução acontece em zoológicos e outras instituições de conservação tanto nos Estados como de outros países.

Nos últimos anos, todavia, existe um plano de reintroduzí-lo de novo na natureza. Mas infelizmente, isso não será possível em Guam, já que a população de cobras ainda não foi controlada na ilha. Primeiramente pensou-se que o melhor lugar poderia ser as Ilhas Cocos, próximos ao seu habitat original. Entretanto, descobriu-se lá um enorme número das mesmas serpentes responsáveis por sua extinção.

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O local escolhido então é o Atol de Palmyra, a cerca de 1.600 km ao sul do Havaí.

“A introdução do sihek no Atol Palmyra nos ajudará a aprender sobre a adaptação da espécie ao voltar à natureza após 30 anos”, diz Megan Laut, gerente do Programa de Recuperação do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (U.S. Fish and Wildlife Service). “Também aprenderemos as técnicas mais eficazes de liberação e monitoramento para que um dia possamos reintroduzir a espécie em Guam, uma vez que a cobra invasora seja controlada”.

Em 2020 foi formado um grupo mundial de especialistas para traçar a melhor estratégia de reintrodução do martim-pescador-de-Guam, o Sihek Recovery Team. Além da agência americana estão envolvidos no projeto de conservação o Departamento de Agricultura e Recursos Aquáticos de Guam, a organização The Nature Conservancy, a Sociedade de Zoologia de Londres (Zoological Society of London – ZSL), dentre outros.

“Como todas as espécies extintas na natureza, o destino do sihek está diretamente em nossas mãos. Temos a oportunidade de devolver esta espécie à natureza de forma altamente responsável, aprendendo sobre suas necessidades em um ambiente selvagem de baixo risco. Prevenir a extinção requer um aumento substancial no número de sihek e isso pode ser melhor alcançado por meio de liberações selvagens”, afirma , disse John Ewen, pesquisador da ZSL e presidente do Sihek Recovery Team.

Ainda segundo Ewen, a reintrodução do martim-pescador no Atol Palmyra tem o potencial de aumentar a população global da espécie em mais de 40%. “Ao mesmo tempo, poderemos intervir e auxiliar aves individualmente caso se faço necessário e também removê-las, se preciso. É raro ter tanto controle e vamos utilizar isso para garantir a recuperação dessa espécie icônica”, ressalta.

Após 30 anos extinto na natureza, espécie de martim-pescador será reintroduzido na vida selvagem. Mas não no seu habitat de origem

Um sihek em cativeiro: em breve espécie voltará à natureza
(Foto: M. Kastner)

O primeiro passo rumo à reintrodução do Todiramphus Cinnamominus será o transporte de 20 ovos para o Havaí. Lá eles serão incubados manualmente e em cuidados especiais para que não sejam expostos a nenhum tipo de vírus ou bactéria que possa ser levada para Palmyra. Após o nascimento dos filhotes, nove deles serão transportados para a ilha.

“Com apenas 5% da área total da Terra, as ilhas abrigam uma porcentagem desproporcionalmente grande da biodiversidade do planeta. No entanto, as espécies insulares também correm maior risco de extinção do que as espécies em áreas continentais. O plano de ‘renaturalizar’ o sihek no Atol de Palmyra é uma reversão corajosa da tendência de extinção de espécies de ilhas. Por meio dessa ação, não apenas aprenderemos sobre a sua dieta e as necessidades de habitat em um ambiente selvagem, mas também pensaremos e praticaremos a proteção da biodiversidade da Terra”, completa Alex Wegmann, cientista-chefe da área de Estratégia de Resiliência de Ilhas da The Nature.

Uma das principais características da espécie é o bico alongado
(Foto: M. Kastner)

*Com informações e entrevistas do U.S. Fish Wildlife Service e da Audubon Magazine

Foto de abertura: dw_ross, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

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