Os primatas são os parentes biológicos mais próximos do homem. Chimpanzés, gorilas, macacos e orangotangos compartilham 98% do DNA humano. Já há muito tempo cientistas sabem, por exemplo, que eles apresentam muitos comportamentos sociais similares aos nossos. E recentemente descobriu-se que eles também tem as “mídias sociais” deles. Mas em vez das telas de celulares e computadores, eles utilizam as raízes das árvores.
A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de St. Andrews, na Escócia. Eles observaram que os chimpanzés machos das florestas de Budongo, na Uganda, têm um batuque pessoal e único, que serve para enviar mensagens.
Ao bater com suas mãos e pés nos troncos das árvores, eles possuem um ritmo próprio, diferente de qualquer outro indivíduo da espécie.
“Muitas vezes, podíamos reconhecer quem estava tamborilando quando os ouvíamos e foi uma maneira fantástica de encontrar os diferentes chimpanzés que estávamos procurando – então, se conseguíssemos fazê-lo, tínhamos certeza de que eles também poderiam. É adorável finalmente mostrar como essa mecânica deles funciona”, diz Catherine Hobaiter, pesquisadora da Escola de Psicologia da Universidade de St. Andrews e uma das coautoras de um artigo científico sobre a descoberta, publicado no início de setembro na revista Animal Behaviour.
Os cientistas explicam que as árvores dessa floresta tropical são sustentadas por enormes raízes que formam um grande contraforte plano. E ao tamborilar nessas raízes, suas mensagens podem percorrer quilômetros de distância.
Através desses sinais acústicos, acredita-se que os chimpanzés podem revelar suas identidades e localização para os demais membros do grupo.
“Uma coisa que sempre foi um enigma é porquê os chimpanzés se cumprimentam, mas raramente parecem dizer adeus. Nosso estudo pode ajudar a explicar isso – os chimpanzés raramente estão realmente fora de contato, mesmo quando a quilômetros de distância, esses sinais de longa distância permitem que eles mantenham contato entre eles”, afirma Catherine. “É como se eles tivessem sua própria mídia social que lhes permite fazer check-in durante o dia”.
Cada indivíduo tem uma batida própria, que o distingue dos demais do grupo
O estudo sugere ainda que esses animais possuem diferentes padrões de batidas. Alguns teriam um ritmo regular, como bateristas de rock e blues, e outros sons mais variados, como o jazz.
“Fiquei surpresa por conseguir reconhecer quem estava batendo na árvore depois de apenas algumas semanas na floresta. Mas seus ritmos são tão distintos que é fácil captá-los. Por exemplo, Tristan – o John Bonham (Led Zeppelin) da floresta – faz um tamborilar muito rápido com muitas batidas uniformemente separadas. Sua batida é tão rápida que você mal consegue ver suas mãos!“, contou Vesta Eleuteri, principal autora do artigo. “Ben, o macho alfa, também tem um estilo peculiar: ele faz duas batidas próximas separadas por uma ou duas batidas mais distantes”.
Quem precisa de Instagram, Tiktok ou WhatsApp quando se tem uma floresta inteira a seu dispor?
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Fotos: Adrian Soldati/University of St. Andrews