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‘Adote um jumento’: campanha promove guarda responsável de oito animais resgatados de maus-tratos e abate

'Adote um jumento': campanha promove guarda responsável de oito animais resgatados de maus-tratos e abate

Oito jumentos foram resgatados em Paulo Afonsonorte da Bahia, durante ação da Polícia Rodoviária Federal devido à denúncia de maus-tratos abate. Sua carne e pele seriam exportadas para fora do Brasil.

Eles foram entregues para o Grupequi – Grupo de Pesquisa e Extensão em Equídeos e Saúde Integrativa, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Viçosa, onde receberam cuidados veterinários, foram vacinados, vermifugados e os machos castrados.

Em seguia, o grupo lançou a campanha ‘Adote um Jumento’ para tentar encontrar tutores responsáveis e amorosos para Dr. Birrom, Ester, Elvis, Helena, Thawane, Julinha, Ranna e Ariana (na foto de destaque, as duas últimas são mãe e filha, por isso só podem ser adotadas juntas). 

Além de proporcionar bem-estar aos animais, a intenção dos pesquisadores e estudantes com a campanha de doação é preservar a espécie que está ameaçada de extinção. Isso é urgente diante das práticas cruéis a que os jumentos são submetidos e do abate indiscriminado, que ainda representam riscos ambientais e de saúde pública

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Parece surreal, mas o animal ícone da cultura nordestina, que alguns ainda vêem apenas como transporte de carga têm explorado e abatido para produção de carne e pele (esta tem uma substância muito cobiçada pela indústria da beleza, sobre a qual conto mais adiante).

Como se candidatar para a adoção

Quem tiver interesse em adotar alguns dos jumentos – para cuidar e amar – deve estar disposto a passar por diferentes etapas da seleção: a primeira é o preenchimento de um formulário, elaborado pelo Grupequi. Nele, o candidato/a candidata deve relatar sua motivação para a adoção de um animal tão incomum, além de seu nível de conhecimento sobre guarda responsável

Em seguida, o suposto tutor passa por uma entrevista. A última etapa acontece durante a entrega do animal, quando será avaliado o local destinado à sua morada: comporta bem o animal? É seguro? 

Durante a visita, o interessado/a interessada também será observado/a. E, caso o avaliador detecte qualquer situação que não preencha os requisitos de uma guarda responsável, o processo de adoção será interrompido e o jumento retornará ao projeto. 

“Adotar é um gesto de amor e respeito à vida, que requer responsabilidade e cuidados. Por este motivo, precisamos ter certeza de que você está apto para cuidar e receber esse animal com muito amor e assumir o compromisso de cuidar dele, que já sofreu com maus tratos. É por meio de todo este processo que teremos certeza de que ele será tão bem cuidado por você, como sempre foi por nós”, explica o texto do formulário.

A situação dos jumentos no Brasil

Em 2018, a agência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou que havia mais de 800 mil jumentos no Brasil. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2017, apontam que, somente na região Nordeste, havia 86,7% desses animais. No entanto, a situação mudou drasticamente e, como contei, a espécie está em risco de desaparecer.

O aumento dos abates de jumentos no país começou com a adoção de práticas agrícolas mecanizadas, entre elas a troca desses animais pelas motocicletas, no transporte. 

Em seguida, veio o interesse, cada vez mais crescente, por sua carne e sua pele, que começaram a “gerar consequências desastrosas como abandono, condições precárias de vida e o abate desenfreado“, como destaca artigo publicado em agosto de 2021 pelo semanário online – Edgar Digital, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Mas a principal ameaça é a comercialização legal e ilegal da pele dos jumentos no mercado externo. A demanda internacional se dá devido a um produto chamado ejiao, produzido a partir do colágeno da pele de jumentos. Maldita obsessão pela beleza!

Em 2021, a exportação desse “material” para a China intensificou a matança de jumentos no Nordeste. Somente em abril desse ano, 5.396 jumentos foram abatidos na Bahia, de acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

De acordo com o IBGE, de 2011 a 2017, foi registrada queda de 38% da população de jumentos.

A ausência de políticas públicas de proteção e bem-estar potencializam os riscos. Segundo Chiara Oliveira, zootecnista, professora da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ),membro da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de MV (CRMV-BA)e coordenadora do projeto Rota do Jumento, que vale muito, acompanhar, o risco de extinção dos jumentos é real

MAPA revela que, de agosto a setembro de 2017, em apenas um abatedouro (sem especificar a localidade), foram mortos 44 mil jumentos. “Esse dado não abrange mortes ocorridas durante o transporte nem aquelas causadas por doenças”, destaca a Agência Câmara de Notícias.

Em 2018, foi feito prognóstico com base no ritmo de abate vigente  e chegou-se à conclusão que, se assim fosse mantido, resultaria na produção de 200 mil peles de jumento por ano, o que poderia levar à sua extinção até 2022, o que não ocorreu, mas o tempo urge.

Com a “desaceleração do abate devido ao período de suspensão de dezembro de 2018 a setembro de 2019 e a redução da quantidade de frigoríficos, Chiara declarou, em 2021, que certamente ainda teríamos uns cinco anos pela frente até a redução drástica da espécie e seu desaparecimento. Ou seja, 2026! 

8 mil porcento de aumento dos abates!

Em agosto de 2021, a revista científica Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science (BJVRAS), editada pela Universidade de São Paulo (USP), “uniu ciência e ativismo em uma edição especial totalmente dedicada aos jumentos“, com 15 artigos assinados por pesquisadores nacionais e internacionais. 

'Adote um jumento': campanha promove guarda responsável de oito animais resgatados de maus-tratos e abate
Foto: Creative Commons

Cinco desses artigos são de autoria de pesquisadores da EMVZ, da UFBA – entre eles Chiara – e denunciam que, entre 2015 e 2019, o abate aumentou 8.000% (!!!) – totalizando 91.645 animais mortos -, o que coloca a espécie “em rota de extinção”.

Outros temas abordados pela publicação: como garantir o bem-estar e a proteção animal, a cooperação técnica e a saúde. Ou seja, jeito de evitar esse desaparecimento existe, só falta vontade política para impedi-lo. Enquanto isso, iniciativas como a do Grupequi são muito bem-vindas e um alento.

Também valem protestos populares ou como aconteceu há quase um ano (20 de junho de 2022), no Congresso Nacional: o edifício e as cúpulas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ganharam iluminação laranja em protesto contra a extinção dos jumentos no país e como apoio às ações de combate ao abate e pela proteção à espécie.

'Adote um jumento': campanha promove guarda responsável de oito animais resgatados de maus-tratos e abate
Protesto pelos jumentos / Foto: Senado Federal/divulgação

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Fonte: Grupequi, G1

Foto: Grupequi/divulgação

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Rosemberg
Rosemberg
19 horas atrás

Qual o site ou endereço eletrônico para me canditar a adoção?

Suzana Camargo
17 horas atrás
Responder para  Rosemberg

Obrigada pela mensagem e interesse.
A reportagem já tem mais de um ano, então provavelmente eles já foram adotados.
Mas você pode entrar em contato com o grupo responsável pela adoção pelo perfil deles no Instagram – https://www.instagram.com/grupequiufal/
Abraço,
Suzana

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