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Acidificação dos oceanos ultrapassa limiar seguro para a vida marinha

Acidificação dos oceanos ultrapassa limiar seguro para saúde da vida marinha

Em 2009, o renomado cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha, e um time de pesquisadores internacionais definiram o conceito que batizaram de limites planetários, parâmetros seguros para a sobrevivência da vida humana na Terra. Segundo o grupo, eles seriam nove no total. Em 2023, seis deles já teriam sido superados, entre eles, a mudança no clima, a redução de florestas, a perda da biodiversidade e a alteração dos nutrientes nos cursos de água. Agora, um estudo que acaba de ser divulgado afirma que mais um deles ultrapassou o limiar seguro: a acidificação dos oceanos.

Na verdade, segundo a análise feita por cientistas de diversas instituições, entre elas, o Laboratório Marinho da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), esse limite que mostra a acidificação das águas dos oceanos além dos limites considerados aceitáveis já teria sido ultrapassado há cinco anos.

De acordo com o estudo, em 2020, a condição média dos oceanos em todo o mundo já estava muito próxima, e em algumas regiões além, da “zona de perigo”.

“A acidificação dos oceanos não é apenas uma crise ambiental – é uma bomba-relógio para os ecossistemas marinhos e as economias costeiras. À medida que a acidez dos nossos mares aumenta, assistimos à perda de habitats críticos dos quais inúmeras espécies marinhas dependem, o que, por sua vez, tem implicações sociais e econômicas significativas”, afirma Steve Widdicombe, professor da universidade britânica. “Desde os recifes de corais que sustentam o turismo até as indústrias de moluscos que sustentam as comunidades costeiras, estamos arriscando a biodiversidade e bilhões em valor econômico.”

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A acidificação dos oceanos é causada pela rápida absorção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Ela danifica os recifes de corais e outros habitats oceânicos e, em casos extremos, pode dissolver as conchas de criaturas marinhas.

Acidificação dos oceanos ultrapassa limiar seguro para saúde da vida marinha
Helen Findlay investiga os impactos das mudanças climáticas e da acidificação dos oceanos nos organismos marinhos e no funcionamento dos ecossistemas, com foco especial no Ártico
Foto: divulgação Universidade de Plymouth

Os pesquisadores envolvidos no novo estudo analisaram o pH da água em diferentes profundidades do oceano. Até cerca de 200 metros abaixo da superfície, descobriu-se que cerca de 60% havia ultrapassado a fronteira aceitável, em comparação com 40% da água na superfície.

“Observando diferentes áreas do mundo, as regiões polares apresentam as maiores mudanças na acidificação dos oceanos na superfície. Enquanto isso, em águas mais profundas, as maiores mudanças ocorrem em áreas próximas aos polos e nas regiões de ressurgência ao longo da costa oeste da América do Norte e perto do Equador”, diz Helen Findlay, professora do Laboratório Marinho de Plymouth e principal autora do estudo.

Ela explica que a grande maioria das espécies marinhas não vive na superfície dos oceanos – as águas mais profundas abrigam uma diversidade muito maior de plantas e animais. “Como essas águas mais profundas estão mudando tanto, os impactos da acidificação dos oceanos podem ser muito piores do que pensávamos. Isso tem enormes implicações para importantes ecossistemas subaquáticos, como os recifes de corais tropicais e até mesmo os de águas profundas, que fornecem habitats essenciais e refúgio para muitas espécies, além dos impactos sentidos em criaturas que vivem no fundo do mar, como caranguejos, estrelas-do-mar e outros moluscos, como mexilhões e ostras.”

A pesquisa demonstra que os impactos na elevação do pH já podem ser observados nos mais diversos ecossistemas: recifes de corais em áreas tropicais e subtropicais perderam 43% de seus habitats adequados, borboletas marinhas (pterópodes, uma espécie essencial da cadeia alimentar) em regiões polares tiveram uma redução de 61% em seus habitats, e espécies de moluscos costeiros 13%.

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Foto de abertura: G. Torda / ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies / Creative Commons / Flickr

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