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60% da riqueza dos bilionários vem de herança, corrupção ou monopólio de poder, revela estudo

60% da riqueza dos bilionários vem de herança, corrupção ou monopólio de poder, revela estudo

Como de costume, a OXFAM – organização internacional que luta pela tributação dos super-ricos e pela redução da desigualdade – lançou seu novo relatório no primeiro dia (20/1) da reunião do Fórum Econômico Mundial (The World Economic Forum – WEF), que vai até 24 de janeiro e, este ano, reúne cerca de 3 mil líderes de mais de 130 países com o intuito de discutir problemas sociais, econômicos e ambientais sob o tem Colaboração para a Era Inteligente.

Apresentou dados atualizados e ainda mais indecentes, num cenário de urgência climática e de aprofundamento da desigualdade global. Ao contrário das projeções anteriores, o primeiro trilionárionão vai surgir no final da década (em 2030) e não estará sozinho. Devido ao crescimento acelerado das grandes fortunas, certamente, nos próximos cinco anos devem surgir cinco trilionários

Às custas de quem? – A origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo aponta que, apesar de a quantidade de pessoas que vivem na pobreza ter diminuído, as que vivem abaixo dessa linha – na extrema pobreza –, é igual a 1990: 3,6 bilhões de pessoas, segundo dados do Banco Mundial

“É inaceitável que alguém ainda viva na pobreza em 2025, especialmente em um mundo muito mais rico do que nunca”, destacou Viviana Santiago, diretora executiva da Oxfam Brasil, ao G1. “Essa pobreza persistente é sintoma evidente da desigualdade global”. 

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E de onde vem a riqueza dos bilionários?

O novo relatório da OXFAM desfaz a ideia de que a riqueza dos bilionários tem origem no trabalho árduo. que e é uma conquista merecida. Ao contrário, “é tomada!”.

O documento revela que a maior parte (60%) dessa riqueza vem de herança (36%), monopólio (18%), favoritismo (6%) ou corrupção e faz uma análise profunda de como o colonialismo enriqueceu e continua enriquecendo um pequeno grupo de pessoas, em geral, homens, brancos e de países desenvolvidos.

O relatório explica: “Nosso mundo extremamente desigual tem uma longa história de dominação colonial que beneficiou amplamente as pessoas mais ricas. Os mais pobres, as pessoas racializadas, as mulheres e os grupos marginalizados foram e continuam sendo sistematicamente explorados a um custo humano enorme”.

No ano passado, o planeta ganhou 204 bilionários – uma média de quatro por semana –, que viram seu patrimônio aumentar a um ritmo três vezes mais acelerado do que em 2023, obtendo lucro de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 12 trilhões). Isso significa que, por dia, cada um lucrou US$ 5,7 bilhões (ou R$ 34 bilhões) em média.

Riqueza herdada

36% da riqueza desses privilegiados vem de herança – o ano de 2023 foi especial nesse sentido – e os valores herdados nunca param de crescer, sempre registrando níveis recordes. Um dos motivos é que grande parte dessa transferência de renda não é tributada. Isso é possível porque 2/3 dos países do mundo não tributam heranças para descendentes diretos, e metade dos bilionários vive nesses países. 

transmissão intergeracional da riqueza extrema (dos bilionários) leva à criação de uma nova oligarquia aristocrática que tem imenso poder”, que segue sustentando e perpetuando injustiças. Com mais um detalhe: todos os bilionários com menos de 30 anos herdaram riquezas. Sem exceção! 

Já a região com o maior volume de riqueza herdada é a América Latina, que é formada por 33 países, mas, destes, apenas nove tributam heranças, doações e patrimônios.

Segundo a OXFAM, a estimativa é de que, em 30 anos, mil bilionários transferirão mais de US$ 5,2 trilhões como herança patrimonial aos descendentes. Lembrando: sem tributação!

Favoritismo e uso do poder 

“Grande parte da riqueza dos ultra ricos não tem a ver com o que você sabe, mas com quem você conhece: quem você pressiona, quem você entretém, cuja campanha você financia ou que pessoa você suborna. De forma geral, grande parte da riqueza extrema é produto de conexões de favoritismo entre os mais ricos e os governos”, explica o relatório. Isto soa familiar, não?

A realidade é que muitos bilionários (6%) só chegaram a esse estágio de riqueza devido “ao favoritismo e ao uso do poder do Estado, que protege e expande sua riqueza”, indica o relatório da Oxfam. 

Viviana Santiago, da Oxfam Brasil, explicou que, nesses casos, a concentração de poder econômico e político se retroalimenta: “Esse tipo de acumulação de riqueza é muitas vezes chamado de crony capitalism (capitalismo clientelista), onde o sucesso financeiro depende mais das conexões pessoais e da capacidade de influenciar políticas públicas do que da competitividade no mercado”, enfraquecendo a concorrência. “Política e economicamente, isso significa que uma parte significativa da riqueza dos bilionários não é fruto de inovação ou competição saudável”. 

Favoritismo tem a ver com corrupção, e, infelizmente, em muitos países, esse tipo de relação é permitido por leis criadas com o objetivo de favorecer as elites ricas, que, assim, usam sua influência pessoal para ter acesso ao poder do Estado e lucrar. Isso também acontece entre funcionários do governo e empresários, que se unem para manipular regras a fim de se beneficiarem em detrimento de consumidores, contribuintes e de outras empresas. 

Monopólios

Por fim, alguns dos homens mais ricos do planeta (18% de sua riqueza), aumentam seus lucros por meio de estratégias monopolistas, que controlam mercados, definem regras e termos de troca com empresas e trabalhadores e ainda estabelecem preços mais altos sem que percam negócios. 

Exemplos? Do norte global, Jeff Bezos, que tem um patrimônio líquido de US$ 219,4 bilhões e construiu um império assim: a Amazon domina 70% ou mais das compras on-line na Alemanha, na França, na Espanha e no Reino Unido. Do sul global, Aliko Dangote, a pessoa mais rica da África, com patrimônio líquido de US$ 11 bilhões, que quase monopoliza o cimento na Nigéria e poder de mercado em todo o continente africano

O que fazer para alterar o cenário atual?

Ao final de sua apresentação, a OXFAM propôs ações que considera urgentes para acabar com a extrema concentração de renda e as desigualdades. Em resumo:

– Reduzir a desigualdade de forma radical: Tanto globalmente, como em nível nacional e local, governos precisam se comprometer e agir para que as rendas dos 10% mais ricos não representem mais do que as dos 40% mais pobres. Além disso, devem combater e acabar com o racismo, o sexismo, as fobias relacionadas aos grupos LGBTQIAPN+ e todas as formas de preconceito que sustentam a exploração econômica atual.

Dados do Banco Mundial indicam que reduzir desigualdades pode eliminar a pobreza três vezes mais rápido. 

– Taxar os super ricos: Uma nova convenção tributária da ONU sobre a política fiscal global deve ser definida e adotada, garantindo que as pessoas e corporações mais ricas paguem tributos justos sobre sua renda e patrimônio. É preciso acabar com a isenção de imposto sobre herança para descendentes diretos para pôr fim à “nova aristocracia”. E, claro: paraísos fiscais devem ser banidos do mapa mundial.

– Acabar com o fluxo de riquezas do sul para o norte global: A sugestão da OXFAM é de que países e corporações ricos cancelem dívidas dos pobres e acabem com seu domínio sobre mercados financeiros e regras comerciais, o que levaria ao desmantelamento de monopólios, democratizaria regras de patentes e regularizaria corporações a fim de que paguem salários dignos aos trabalhadores e limitem os salários de CEOs. 

Também é urgente reestruturar os poderes de voto em instituições como o Banco Mundial, o FMI – Fundo Monetário Internacional e no Conselho de Segurança da ONU a fim de garantir representação dos países do Sul Global. 

Por fim, pedidos de desculpas formais e reparação a comunidades prejudicadas são outras medidas propostas pela organização para ajudar a combater os danos causados pelo colonialismo.

Os bilionários da tecnologia e Trump

“O auge da oligarquia é um presidente bilionário, apoiado e comprado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, governando a maior economia do planeta“, declarou Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional, em comunicado, no dia do lançamento do relatório. “Apresentamos este relatório como um alerta severo de que as pessoas comuns em todo o mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de um número ínfimo de pessoas”.

Levando em conta seu discurso de posse e declarações feitas por ele em diferentes ocasiões, o novo governo de Trump vai facilitar e garantir mais concentração de renda e mais desigualdade.

Convidados de honra do presidente, donos de grandes empresas de tecnologia estavam presentes à sua posse, que “competiu” (e ganhou) com o primeiro dia do Fórum Econômico Mundial. A maioria teve lugar privilegiado no salão dentro do Capitólio, onde a cerimônia aconteceu, e alguns ficaram próximos dos filhos de Trump e do vice-presidente, J.D. Vance.

Na primeira fila, Mark Zuckerberg, da Meta (Facebook, Instagram, Threads, Whatsapp), Jeff Bezos, da Amazon, Sundar Pichai, do Google, e Elon Musk, da Tesla, Space-X e Starlink e, agora, também, chefe do Departamento de Eficiência do Governo (DoGE), são os protagonistas do registro fotográfico produzido por agências e veículos de mídia, que viralizou nas redes sociais.

Na cerimônia, estavam também Tim Cook, da Apple (o único dos CEOs das Big-Tech a se recusar a eliminar políticas voltadas à diversidade em sua empresa), Shou Zi Chew, do TikTok (rede que havia sido banida dos EUA no domingo, véspera da posse, mas logo voltou ao ar), e Sam Altman, da Open AI (startup criadora do ChatGPT, também fundada por Elon Musk).

Além de doar para a campanha de Trump, os CEOs indicados acima cumprimentaram publicamente o presidente eleito logo após o resultado das eleições. Zuckerberg usou o Instagram; a maioria adotou o X.

Tanto apoio de bilionários a uma ideologia conservadora, que nega a crise climática, aposta no petróleo, fala em “liberdade de expressão” para o vale-tudo na comunicação, bane a diversidade e quer deportar imigrantes, entre outras decisões abomináveis, é, no mínimo, preocupante.

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Com informações da OXFAM, do G1, da revista Fórum

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Carmen Lucia Aguiar
Carmen Lucia Aguiar
3 meses atrás

Taxação maciça e imediata sobre essa riqueza desproporcional, violenta e que tira da população mais pobre do planeta qualquer possibilidade de uma vida digna e com real igualdade de oportunidades! Estamos vivendo tempos cada vez mais cruéis e desumanos! As consequências para a maioria de nós serão nefastas! Esses egoístas sairão de uma Terra devastada em foguetes do Musk, rumo a qualquer outro lugar que possam destruir e corromper. Se nada for feito já, temo que não restará futuro algum para os que são crianças e jovens hoje, infelizmente.

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