Por Isabella Pilegis*
As mulheres indígenas, quilombolas e ribeirinhas são responsáveis pela gestão dos territórios, pelo cuidado com a saúde, pela preservação da memória ancestral e, mesmo quando longe de casa, sustentam a floresta em pé.
Nos últimos anos, a série #ElasQueLutam, publicado pelo ISA – Instituto Socioambiental, costurou perfis sensíveis de 30 mulheres-biomas, guardiãs das história e da memória de suas comunidades, e que fazem de seus corpos uma extensão de seus territórios tradicionais.
Nas mobilizações e na política, na luta contra invasores e projetos de desenvolvimento predatórios, no beneficiamento e na comercialização de produtos da biodiversidade brasileira, as lideranças femininas batalham pela igualdade de gênero, pela autonomia das comunidades e pelo futuro do planeta.
Cada uma tem uma função importante para a organização e fortalecimento das mulheres indígenas, ribeirinhas e quilombolas no Brasil. Trata-se de uma luta coletiva, por que quando uma conquista, todas ganham.
“Quando a gente sai daqui para outros territórios, a gente vê que a luta das mulheres são as mesmas. […] Não é pelo fato de eu ter meu dinheirinho que eu vou ficar acomodada. Eu enxergo que todas nós tem que trabalhar. Eu vou ficar muito orgulhosa de ver outras mulheres, guerreiras, trabalhar e ter sua renda”, diz Givanilda Aguiar Rocha.
Elas são as protagonistas de narrativas potentes para inspirar a luta por direitos e a restauração do país. Suas vozes não cessam, não calam e não cansam. Confira a seguir.
ALESSANDRA KORAP MUNDURUKU
Primeira mulher a presidir a Associação Indígena Pariri, no Médio Tapajós (PA), Alessandra tem levado à sociedade a incansável luta do povo Munduruku pela proteção de seu território contra invasores e o garimpo ilegal
ANGELA KAXUYANA
Integrante da primeira geração de indígenas Kaxuyana nascida no Parque Indígena do Tumucumaque (PA) após deslocamento forçado, Angela é porta-voz da luta pela proteção dos povos indígenas isolados.
ARIENE SUSUI
Liderança do povo Wapichana, Ariene ajudou a construir o Núcleo de Juventude do Conselho Indigena de Roraima. Em 2022, a jornalista também fez parte da equipe de transição do Governo do Presidente Lula
CELIA XAKRIABÁ
Primeira indígena da história do Estado de Minas Gerais a ser eleita deputada federal, Célia Xakriabá chega na política para superar o racismo da ausência e lutar por demarcações de terra, educação e acesso à cultura
CHIRLEY PANKARÁ
Ela já foi deputada estadual em São Paulo e hoje atua na Coordenação para Promoção a Políticas Culturais do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
DADÁ BANIWA
Primeira indígena coordenadora regional da Funai no Rio Negro, Dadá também coordenou o Departamento de Mulheres da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).
DAIARA TUKANO
Daiara é uma das principais artistas visuais indígenas da atualidade. Em 2020, ela se tornou conhecida pela autoria do maior mural urbano pintado por uma artista indígena no mundo.
EHUANA YANOMAMI
Em uma trajetória marcada por pioneirismo, Ehuana foi a primeira professora de sua comunidade e a primeira mulher yanomami a escrever um livro na língua Yanomae.
GABRIELE MIRANDA
Liderança do Quilombo Porto Velho (SP), Gabriele faz da arte e da educação ferramentas para ecoar as vozes dos quilombolas da região e lutar pela valorização dos saberes tradicionais de sua comunidade
GIVÂNIA DA SILVA
Nascida no território quilombola de Conceição das Crioulas (PE), a educadora e coordenadora da Conaq é, há décadas, uma voz potente na defesa dos direitos quilombolas e na luta pela transformação social.
GIVANILDA AGUIAR ROCHA
Givanilda faz parte da primeira geração de professores ribeirinhos da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio (PA) e usa a educação como uma ferramenta de luta pelo território e pela igualdade de gênero.
JOENIA WAPICHANA
Joenia é pioneira na representação política das mulheres indígenas. Ativista pelos direitos dos povos originários há décadas, foi a primeira deputada indígena eleita no Brasil e hoje ocupa o cargo de presidente da Funai.
JOZIELEIA KAINGANG
Chefe de gabinete da ministra Sonia Guajajara, Jozileia foi também uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).

MAIAL PAIAKÁN
Motivada pelos que vieram antes, Maial Paiakan foi a primeira pessoa do seu povo a concluir uma graduação. Em 2022, se candidatou a deputada federal pelo Estado do Pará.
MARIA TEREZA VIEIRA
Liderança atuante na Cooperquivale e na Rede de Sementes do Vale do Ribeira (SP), Maria Tereza luta pela preservação da Mata Atlântica e pela garantia dos direitos quilombolas.
MAYALÚ TXUCARRAMÃE
Neta do cacique Raoni Metuktire, a liderança da juventude Mebêngokrê teve um importante papel na proteção do seu povo contra a Covid-19 e no combate às notícias falsas.
NARA SOARES BARÉ
Primeira mulher a assumir como coordenadora-geral da Coiab, Nara foi premiada em 2020 por sua atuação e compromisso com a defesa do meio ambiente e dos direitos indígenas.
NEIDINHA SURUÍ
Primeira mulher a participar de expedições de reconhecimento de indígenas isolados na Funai, Neidinha Suruí luta, há mais de 50 anos, pela proteção da floresta.
NILCE PONTES PEREIRA
Seja no cuidado com a roça ou na atuação política, a agricultora familiar do Quilombo Ribeirão Grande, no Vale do Ribeira (SP) luta por um Brasil coletivo, livre de preconceito e violências.
O-É KAIAPÓ
Frequentemente a única mulher entre as lideranças do seu povo, O-é se tornou cacica da Aldeia Krenhyedjá (MT) e protagoniza a luta por direitos indígenas.
PAOLA ABACHE
Indígena do povo Warao, da Venezuela, Paola Abache imigrou para renascer e liderou o maior abrigo indígena da América Latina. Em 2023, foi coroada Miss Trans na parada LGBTQIA+ de Roraima.
RAFAELA SANTOS
Advogada da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras (EAACONE), Rafaela liderou a luta pela vacinação nos quilombos do Vale do Ribeira (SP) e contribuiu com a criação da ADPF Quilombola.
RAIMUNDA RODRIGUES
Gestora de uma miniusina de beneficiamento de castanhas e coco-babaçu da Reserva Extrativista Rio Iriri (PA), Raimunda contribui para a geração de renda e o fortalecimento da identidade beiradeira.
SAMARA PATAXÓ
Da juventude na Terra Indígena Coroa Vermelha (BA) à sustentação oral na Suprema Corte sobre o julgamento da tese do “Marco Temporal”, Samara construiu sua trajetória de luta em defesa do bem-viver coletivo.
SAMELA SATERÉ MAWÉ
A mais jovem de uma linha familiar de mulheres guerreiras, Samela é artesã da Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé, comunicadora da Apib e ativista contra a crise climática.
SONIA GUAJAJARA
Considerada uma das 100 pessoas mais influentes de 2022 pela revista Time, Sonia Guajajara foi eleita deputada federal e se tornou ministra dos Povos Indígenas em 2023.
SUZADA PEDROSO DO CARMO
Coletora da Rede de Sementes do Vale do Ribeira (SP), Suzana luta pelo direito à saúde e à educação por meio da construção de uma estrada de acesso ao Quilombo Bombas.
TUIRE KAYAPÓ
Conhecida pelo registro icônico onde brada um facão contra o rosto do presidente da Eletronorte, Tuíre marcou para sempre a resistência dos povos indígenas contra projetos predatórios.
TXAI SURUÍ
Única brasileira a discursar na abertura da COP26, Txai despontou como uma das principais vozes da juventude indígena na defesa da floresta e no enfrentamento à crise climática.
VERCILENE DIAS
Mestre em Direito, a liderança da comunidade Kalunga (GO) esteve entre as primeiras quilombolas do país a assinar uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto assessora jurídica da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
* Este texto foi originalmente publicado no site do ISA – Instituto Socioambiental em 11/1/2024