
Quando sua Lista Vermelha, que analisa a condição de milhares de espécies da fauna e da flora do planeta, completa 60 anos, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) faz um grave alerta: quase 1/4 da biodiversidade de água doce está ameaçada de extinção – isso significa que 24% de espécies como peixes, libélulas, caranguejos, lagostins e camarões correm um sério risco de desaparecer.
Só em 2020, quinze espécies de peixes do Lago Lanao, nas Filipinas, foram declaradas extintas pela Lista Vermelha da IUCN.
“A falta de dados não pode mais ser usada como desculpa para a inação. Os ambientes de água doce abrigam 10% de todas as espécies conhecidas na Terra e são essenciais para a água potável segura de bilhões de pessoas, meios de subsistência, controle de enchentes e mitigação das mudanças climáticas, e devem ser protegidas para a natureza e as pessoas”, ressalta Catherine Sayer, líder da área de Biodiversidade de Água Doce da IUCN e autora principal de um artigo, publicado na revista Nature.
Segundo o estudo, 4.294 espécies de 23.496 animais de água doce analisadas estão em alto risco de extinção e se encontram, em áreas como o Lago Vitória (África), Lago Titicaca (fronteira entre Peru e Bolívia, na Cordilheira dos Andes), Zona Úmida do Sri Lanka e Ghats Ocidentais da Índia.
Entre as causas apontadas pelos especialistas envolvidos na análise para a redução dessas espécies estão a poluição, oriunda sobretudo da agricultura e da silvicultura, a degradação de ecossistemas de água doce pela conversão de terras para uso agrícola e a extração de água e construção de represas, que bloqueiam rotas de migração de peixes. São citadas ainda no levantamento a sobrepesca e a introdução de espécies exóticas invasoras como impulso às extinções.
Um dos casos citados, por exemplo, é a extinção da carpa Squalius palaciosi, registrada pela última vez em 1999, na Espanha. Seu desaparecimento se deve à construção de usinas e barragens e a introdução de uma espécie de peixe invasora em seu habitat.
O relatório aponta que caranguejos, lagostins e camarões são os que apresentam maior risco de extinção (30%) entre os grupos estudados, seguidos por peixes de água doce (26%) e libélulas e donzelinhas (16%).
“Ecossistemas de água doce e as espécies que eles abrigam são frequentemente menosprezados, mas são essenciais para prevenir a perda de biodiversidade e garantir meios de subsistência. À medida que aprendemos mais sobre espécies que vivem em habitats de água doce ao redor do mundo, fica claro que precisamos aumentar os esforços para protegê-las”, reforça Chouly Ou, coordenador de Conservação para Água Doce da organização Re:wild.
“É imperativo que os atores da conservação trabalhem colaborativamente para abordar os desafios da poluição, modificação míope de habitat e a disseminação de espécies invasoras. As soluções para essas ameaças podem ser pioneiras e inovadoras, e os dados apresentados aqui podem ser usados como um roteiro para orientar nossos esforços coletivos”, completa Tim Lyons, diretor de Conservação da New Mexico BioPark Society.

é classificado como em perigo crítico de extinção, ou seja, um estágio antes de
desaparecer da natureza
Foto: Topiltzin Contreras MacBeath
Criada em 1964, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN se tornou a fonte de informações mais abrangente do mundo sobre o status global de conservação de espécies de animais, fungos e plantas, um indicador fundamental da saúde da biodiversidade mundial e ferramenta essencial para o desenvolvimento de estratégias de proteção e conservação de políticas públicas.
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Foto de abertura: Jens Kipping/IUCN