Prepare-se para a “maratona de filmes” – serão 33 dias ininterruptos! – da próxima edição do mais importante festival socioambiental de audio-visual sul-americano – a Mostra Ecofalante de Cinema -, que acontecerá de 11 de agosto a 14 de setembro, inteiramente online e gratuito.
Os filmes serão exibidos no site do evento e também nas plataformas parceiras Belas Artes à La Carte e Spcine Play. Consulte a programação para identificar onde assistir o filme escolhido.
Os grandes desafios da atualidade na tela
A mostra reúne 101 títulos de 40 países, 30 deles inéditos no Brasil e convidados muito especiais. E está organizada assim:
– Panorama Internacional Contemporâneo: os filmes internacionais mais premiados da última safra, classificados em sete temas: Ativismo, Biodiversidade, Cidades, Economia, Povos & Lugares, Tecnologia e Trabalho;
– Competição Latino-Americana: produções recentes (longas e curtas) de sete países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Venezuela e Peru;
– Programa Especial – Territórios Urbanos, Segregação, Violência e Resistência: retrospectiva de obras brasileiras produzidas a partir de 1999 e assinadas por diretores celebrados como João Moreira Salles e Maria Augusta Ramos;
– Especial Energia Nuclear – 35 anos de Chernobyl, 10 anos de Fukushima: seleção de documentários recentes, que abordam os dois grandes desastres nucleares; e
– Concurso Curta-Ecofalante: este ano, reúne 10 produções realizadas por estudantes brasileiros, que abordam temáticas relacionadas a, pelo menos, um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU na Agenda 2030, e concorrem ao prêmio de melhor filme e ao prêmio do público e.
“A Mostra chega ao seu décimo ano num momento de grande crise no Brasil e no mundo, marcada pela pandemia, a emergência climática, a enorme destruição da biodiversidade e a crescente desigualdade social“, destaca Chico Guariba, diretor do festival.
“Os desafios são enormes e a função da Mostra, que sempre foi a de trazer informação de qualidade e promover o debate democrático, plural e inclusivo, tem se tornado cada vez mais importante. Não é à toa que foi o festival que mais cresceu no Brasil nos últimos anos”.
Jesus ativista político, nos dias de hoje, abre a mostra
A cerimônia de abertura será em 11 de agosto, a partir das 19h, com a presença de Guariba, da jornalista Flávia Guerra e convidados. Para não perder, este é o link.
Em seguida, às 20h, será exibido o premiado filme O Novo Evangelho, de Milo Rau, eleito o melhor documentário no Swiss Film Awards 2021e coproduzido por Alemanha, Suíça e Itália.
Sua narrativa sugere como Jesus Cristo pregaria no século 21 a partir de uma nova encenação da crucificação de Cristo – que já foi traduzida para a telona por Pier Paolo Pasolini, em O Evangelho Segundo São Mateus, de 1964, e por Mel Gibson, em A Paixão de Cristo, de 2004.
Os filmes de Pasolini e Gibson foram filmadas em Matera, cidade italiana também escolhida por Milo para seu Jesus ativista político camaronês, que defende os direitos dos trabalhadores ilegais explorados por um sistema agrícola liderado pela máfia.
Consegue imaginar? Me parece imperdível. O trailer (abaixo) revela a beleza e a atualidade da obra.
Entre os inéditos, Silvio Tendler e Costa-Gravas
Atrações internacionais e nacionais inéditas no Brasil compõem a programação. Entre os destaques estrangeiros estão os longas Jogo do Poder, de Costa-Gavras, cineasta vencedor do Oscar e do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, e A História do Plástico (pré-estreia especial; confira as datas de exibição e o dia do debate, aqui), coprodução EUA/Índia /Bélgica /China /Indonésia /Filipinas, dirigida por Deia Schlosberg, que expõe a “verdade inconveniente” por trás da poluição provocada pelo plástico.
Entre os destaques nacionais, A Bolsa ou a Vida, de Silvio Tendler, (pré-estreia mundial; veja as datas de exibição e o dita do debate aqui), reflete sobre o período pós-pandemia. “É uma discussão sobre se a centralidade será no ser humano e na natureza ou no cassino financeiro”, conta o diretor, que apresenta reflexões de personalidades conhecidas como o autor e líder indígena Ailton Krenak, o padre Júlio Lancelotti, o cineasta Ken Loach, a drag queen e professora Rita von Hunty, entre outras, além de cidadãos que vivem as dificuldades impostas pelo caos social.
Agora, veja alguns filmes em destaque em cada parte da programação:
Panorama Internacional
– A Nova Corporação, de Joel Bakan e Jennifer Abbott (mesmos diretores do premiado A Corporação), revela uma nova astúcia dessas instituições: transvestir-se de entidades “socialmente responsáveis”.
– O Capital do Século XXI, codirigido pelo economista Thomas Piketty, autor do best seller homônimo no qual o filme se inspira;
– Res Creata, documentário do italiano Alessandro Cattaneo (que estreou no Hot Docs, festival internacional de documentários de Toronto), explora a relação milenar – conflitante e/ou harmoniosa – entre os seres humanos e os animais;
– A Campanha Contra o Clima, de Mads Ellesøe (selecionado no IDFA–Amsterdã e CPH:DOX), revela a campanha de negação do aquecimento global e da responsabilidade humana, patrocinada secretamente pelas maiores petroleiras do planeta (assista ao trailer, abaixo);
– Um Lugar Como Nenhum Outro,da canadense Lulu Wei (vencedor do Rogers Audience Award no Hot Docs), retrata a transformação de um icônico quarteirão de Toronto por meio de histórias de membros de sua comunidade que lhe deram identidade;
– Dope Is Death: A Outra Luta dos Panteras Negras, da norte-americana Mia Donovan, traz a pouco conhecida história de um programa de desintoxicação, iniciado por um dos fundadores do movimento dos Panteras Negras, no bairro nova-iorquino do Bronx, nos anos 70.
A África tem bastante representatividade neste Mostra Ecofalante, na qual se destacam:
– Softie, do cineasta e ativista Sam Soko (uma rara produção do Quênia, premiada em Sundance), segue o percurso de um fotógrafo famoso por retratar a violência política daquele país.
– Ar Condicionado, do angolano estreante Fradique (selecionado para o Festival de Roterdã), mescla realismo fantástico e crítica social;
– Morning Star, dirigida por Nantenaina Lova (coprodução de Madagascar e a Ilha da Reunião, selecionada para o IDFA-Amsterdã, o mais importante festival internacional de documentários), mostra uma vila, uma comunidade e uma cultura em vias de desaparecer por conta da mineração.
Competição Latino-Americana
Concorrem 30 filmes de longa-metragem, entre eles:
– o argentino Piedra Sola, de Alejandro Telémaco Tarraf;
– o mexicano 499, de Rodrigo Reyes;
– o venezuelano Era Uma Vez na Venezuela, de Anabel Rodríguez;
– além dos brasileiros Luz nos Trópicos, de Paula Gaitán; Chico Rei Entre Nós, de Joyce Prado; Edna, de Eryk Rocha; Meu Querido Supermercado, de Tali Yankelevich; Pajeú, de Pedro Diogenes; Sobradinho, de Marília Hughes e Cláudio Marques; O Índio Cor de Rosa Contra a Fera Invisível: A Peleja de Noel Nutels, de Tiago Carvalho; Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra é Nossa!, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero; Mata, de Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes (forte! assista ao trailer, abaixo); e Território Suape, de Cecilia da Fonte, Laercio Portella e Marcelo Pedroso.
Completam a competição filmes de curta-metragem da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.
Em 2016, Fábio Nascimento, um dos diretores do filme Mata (acima), lançou um curta-metragem de 8 minutos – Refugiados do Desenvolvimento – sobre a desigualdade diária no Brasil, como contamos aqui. Em 2019, o documentário participou do maior festival de cinema ambiental do mundo, como contamos aqui.
Territórios Urbanos: Segregação, Violência e Resistência
O Programa Especial traz uma seleção de importantes filmes brasileiros realizados nas últimas duas décadas que tratam da realidade urbana do país, todos inéditos na Mostra Ecofalante, e também obras de uma nova e promissora geração de cineastas brasileiros.
Entre os veteranos estão: Notícias de Uma Guerra Particular, de João Moreira Salles; Futuro Junho, de Maria Augusta Ramos; O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna; Atos dos Homens, de Kiko Goifman; Era O Hotel Cambridge, de Eliane Caffé (necessário! assista ao trailer abaixo); À Margem da Imagem, de Evaldo Mocarzel; Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós; Mataram Meu Irmão, de Cristiano Burlan; Um Lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro, Auto de Resistência, de Natasha Neri e Lula Carvalho; Elevado 3.5, de João Sodré, Maíra Buhler e Paulo Pastorelo.
Entre os novos: A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa; Meu Corpo é Político, de Alice Riff; Corpo Delito, de Pedro Rocha e O Caso do Homem Errado, de Camila de Moraes.
O programa ainda exibe, em primeira mão, a nova remasterização do clássico O Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos), de Paulo Sacramento.
35 anos de Chernobyl, 10 anos de Fukushima
Para relembrar os acidentes nucleares de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 e de Fukushima, no Japão, em 2011, a Mostra Ecofalante de Cinema preparou um Especial Energia Nuclear, com cinco obras realizadas entre 2006 e 2020, que alertam para os perigos que cercam esse tipo de energia (que o governo Bolsonaro quer resgatar, na contramão do mundo!).
A intenção é provocar a reflexão e o debate sobre essa alternativa em tempos de crise climática. Entre os títulos estão os documentários: O Desastre de Chernobyl (trailer, abaixo), dirigido pelo cineasta francês Thomas Johnson, multipremiado, que revisita o maior acidente nuclear, ocorrido no coração da Europa e Nuclear Forever“, de Carsten Rau, filme alemão inédito que registra o processo delicado de desmantelamento de uma planta nuclear, para tornar a Alemanha livre de energia nuclear até 2022.
Debates e entrevistas
Uma série de entrevistas com personalidades relacionadas aos filmes selecionados para a Mostra será disponibilizada ao longo da programação, como a líder e ativista indígena Alessandra Munduruku, a escritora e atriz Rita Carelli, o documentarista Vincent Carelli, o cineasta Luiz Bolognesi (diretor de A Última Floresta), a ativista indiana Vandana Shiva, os cineastas indígenas Isael e Sueli Maxakali, a documentarista americana Deia Schlosberg e a ambientalista Marina Silva.
Também serão realizados debates virtuais às quartas-feiras e sábados, às 19h, reunindo ativistas, cientistas e especialistas para discutir temas abordados nos filmes da mostra.
Tanto as entrevistas como os debates serão exibidos no canal da Mostra Ecofalante no YouTube.
Foto: Reprodução do filme