
Uma das principais causas da perda da biodiversidade no mundo todo é a invasão de espécies exóticas e invasoras fora de seu habitat natural e que coloca em risco a fauna e a flora nativas. São plantas, animais e microrganismos introduzidos por ação humana, de forma intencional ou acidental. É o caso, por exemplo, do que está acontecendo no litoral brasileiro com a chegada do peixe-leão (Pterois volitans), sobretudo no arquipélago de Fernando de Noronha. Esse peixe, originário dos Oceanos Índico e Pacífico, é um predador voraz, que consegue se reproduzir com enorme rapidez.
Recentemente o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou uma atualização da Lista de Espécies Exóticas Invasoras (EEI) que ocorrem nas Unidades de Conservação Federais (UC). Segundo o levantamento, foram registradas 290 delas, sendo 162 espécies de flora e 128 de fauna, encontradas em 248, ou seja, quase 73% de todas essas áreas.
O último monitoramento das EEI tinha sido realizado em 2019 e agora foi observado um aumento na presença delas nas UCs, com mais 69 novas espécies exóticas e invasoras competindo com as nativas.

Foto: W.A. Djatmiko via Wikimedia Commons
Dentre os animais, os peixes são aqueles que causam a maior preocupação. Foram documentadas 60 espécies invasoras. “Destacam-se as espécies de tilápia, Oreochromis niloticus e Coptodon rendalli, de origem africana introduzidas no país para fins de aquicultura, que já representam uma ameaça a 44 e 50 UCs, respectivamente”, revela o ICMBio.
Em 2023, o Conexão Planeta já tinha feito um alerta sobre a proliferação das tilápias no Brasil. Na reportagem Como tilápias, peixes de água doce, estão proliferando pela costa brasileira?, especialistas afirmavam que esses animais eram provenientes de escapes de criação e que estudos internacionais comprovam que a partir de um ponto, quando uma espécie invasora já conseguiu se estabelecer e está se reproduzindo em grande escala, é impossível deter essa invasão.
Além dos peixes, a análise do ICMBio aponta que invertebrados (36 espécies) e mamíferos (19 espécies) invasores também causam apreensão. Entre os primeiros, o destaque é para a abelha africanizada, Apis mellifera, que ocorre em 108 UCs federais. Já entre os segundos, o maior número de invasores está entre os roedores camundongo (Mus musculus) e a ratazana preta (Rattus rattus), presentes em 70 e 60 UCs, respectivamente.
“Essa lista representa um registro histórico que permitirá o monitoramento do avanço das invasões biológicas e de seus impactos nas UCs, além de subsidiar tomadas de decisão estratégicas relacionadas, por exemplo, à priorização de áreas, de espécies e direcionamento de recursos para o manejo de EEI”, diz Tatiani Chapla, coordenadora da Coordenação de Manejo de Espécies Exóticas Invasoras do ICMBio.
Uma estimativa divulgada em 2024 por pesquisadores da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos indicou que as espécies exóticas invasoras causam um prejuízo de R$ 15 bilhões por ano no Brasil. De acordo com o estudo, das quase 500 EEI registradas no país, 268 eram animais e 208 plantas e algas, em sua maioria nativas da África, da Europa e do Sudeste Asiático.

Foto: Andrea Fabiani via Wikimedia Commons
———————–
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Espécies invasoras contribuíram em 60% das extinções de plantas e animais do planeta
A temida formiga-de-fogo-vermelha, uma das mais destrutivas espécies invasoras do mundo, chega à Europa
Alagoas libera cultivo do panga, espécie de peixe exótica e invasora, já encontrado na bacia do São Francisco
Campanha do Ibama pede ajuda de pescadores para controlar peixes exóticos no Pantanal
Espécie exótica, endêmica ou invasora? Se você não souber a diferença, a gente explica!
Foto de abertura: Aqua Mechanical/Creative Commons/Flickr