Descoberta por ninguém menos que o mais famoso de todos os naturalistas da história, o britânico Charles Darwin, assim como outros anfíbios da América do Sul, a rã-de-Darwin-do-sul (Rhinoderma darwinii) está ameaçada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que causa uma doença letal, a quitridiomicose. Por causa de sua chegada às florestas do Parque Tantauco, no sul do Chile, até então um santuário da espécie, houve um declínio de sua população ali de 90% no período de apenas um ano.
Alarmados com a redução catastrófica, pesquisadores chilenos se uniram aos profissionais do London Zoo, em Londres, em uma missão de resgate histórica para tentar salvar a espécie da extinção: 53 rãs-de-Darwin foram levadas do Chile, em uma viagem de mais de 10 mil km, até a capital da Inglaterra, para que assegurasse a existência de uma pequena população desses anfíbios.
A missão teve início em outubro de 2024, quando biólogos do zoológico britânico, um dos mais importantes centros de conservação do mundo, acompanhados de especialistas da organização Ranita de Darwin, foram até Tantauco tentar capturar indivíduos da espécie ameaçada – tarefa essa nada fácil, já que a minúscula rãzinha tem cerca de 3 centímetros e coloração que varia do verde ao marrom, ou seja, fica completamente camuflada no meio da vegetação.
Depois de muitas buscas, a equipe conseguiu achar 55 rãs-de-Darwin. Cada uma delas teve uma amostra de pele coletada e enviada para um laboratório para checar se havia a contaminação pela quitridiomicose. Exames revelaram que duas delas tinham sido infectadas com o fungo, mas as 53 demais estavam saudáveis e aptas para a viagem, primeiramente de barco, depois de carro e finalmente, de avião até Londres.
“Sabíamos que estávamos embarcando em algo especial – o tempo estava passando e precisávamos agir rapidamente se quiséssemos salvar essas rãs”, diz Ben Tapley, curador de anfíbios do London Zoo.
Nascimento de rãs-de-Darwin é celebrado
Além de seu nome de celebridade, essa espécie de rã, observada tanto em florestas do Chile, como também da Argentina, apresenta outra peculiaridade: entre os anfíbios, ela é a única que o macho “dá à luz”.
Nesse processo, chamado de neomelia, o macho cuida dos ovos da fêmea por 14 dias e depois cria os girinos dentro de seu saco vocal, onde eles se desenvolvem por aproximadamente oito semanas, até que deixam o saco por uma abertura sob a língua do pai.
E três meses após a chegada em seu novo lar britânico, o London Zoo acaba de celebrar o nascimento de 33 rãs-de-Darwin, cuidados por onze machos vindos do Chile.
“Este é um momento marcante em nosso trabalho para proteger a espécie do impacto devastador da quitridiomicose”, afirma Tapley. “A criação bem-sucedida desses girinos é um símbolo poderoso de esperança para a espécie, destaca o que pode ser alcançado quando os conservacionistas trabalham juntos e serve como um lembrete crítico do papel do nosso zoológico de conservação.”
A esperança é que, com uma possível solução para dar fim ao fungo nas florestas chilenas, novas gerações desses anfíbios possam fazer a viagem de volta, e repopular seu verdadeiro habitat.
“Ao trabalhar com parceiros no Chile, conseguimos proteger essas rãs em seu novo lar no London Zoo, garantindo que essa espécie única tenha uma chance de recuperação. Elas não são apenas vitais para o futuro de suas espécies, mas também nos ajudam a entender melhor como podemos combater esse fungo e proteger outros anfíbios globalmente”, destaca Andres Valenzuela-Sanchez, pesquisador da Zoological Society of London.
Abaixo o filme A Leap of Hope (Um Pulo de Esperança), que documentou todo o trabalho envolvido na missão de resgate da rã-de-Darwin:
*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação do London Zoo
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Foto de abertura: divulgação ZSL