Charlotte Dujardin 39 anos, um dos principais nomes do hipismo britânico, já ganhou duas medalhas de ouro em Londres (2012), uma no Rio de Janeiro (2016), além de uma medalha de prata nos Jogos do Brasil e duas de bronzes em Tóquio (2020). Este ano, participaria dos Jogos Olímpicos de Paris, mas desistiu de competir após repercussão negativa de vídeo, que vazou na internet, no qual a atleta bate com um chicote num cavalo durante treinamento para um jovem cavaleiro, em um estábulo privado.
Poucas horas depois de sua decisão, a Federação Equestre Internacional (FEI) a suspendeu por seis meses. Segundo especialistas, Dujardin se afastou da competição para se proteger contra uma punição maior, como a expulsão.
O episódio gravado não é recente (tem quatro anos), mas foi divulgado por uma “denunciante”, que enviou o vídeo de Dujardin aos organizadores das Olimpíadas, às vésperas da competição em Paris. E não demorou para que veículos da imprensa britânica espalhassem a notícia nas redes sociais.
O advogado holandês Stephan Wensing, declarou à BBC o motivo que levou sua cliente a denunciar Dujardin: “Não é divertido arruinar uma carreira. Ela não está comemorando; ela não se sente uma heroína. Mas ela me disse esta manhã que isso tinha que ser feito porque ela quer salvar o adestramento”.
Envergonhada
Em declaração publicada em suas redes sociais, em 23/7, além de destacar a data do vídeo, a atleta admite que teve má conduta com o cavalo e que está envergonhada, revelando-se compreensiva a cerca das investigações realizadas pela federação.
“Surgiu vídeo de quatro anos atrás que me mostra cometendo um erro de julgamento durante uma sessão de treinamento. Compreensivelmente, a Federação Internacional de Esportes Equestres (FEI) está investigando o caso, e tomei a decisão de me afastar de todas as competições, inclusive os Jogos Olímpicos de Paris – enquanto esse processo acontece.
O que aconteceu foi completamente fora de caráter e não reflete como treino meus cavalos ou meus pupilos. No entanto, não há desculpa. Estou profundamente envergonhada: deveria ter dado um melhor exemplo naquele momento”.
Sinto sinceramente pelas minhas ações e estou arrasada por ter decepcionado a todos, incluindo o time GB, fãs e patrocinadores. Vou cooperar plenamente com a FEI, a Federação Equestre Britânica e a British Dressage durante as investigações, e não vou comentar até que o processo esteja concluído”.
Ingmar De Vos, presidente da FEI, declarou, em comunicado, que a atleta cooperou com as investigações do caso – confirmou ser ela nas imagens e demonstrou arrependimento diante da situação – e acrescentou:
“Estamos muito desapontados, especialmente por ter sido revelado tão próximo dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. No entanto, é nossa responsabilidade que abordemos qualquer caso de abuso, já que o bem-estar dos cavalos não pode ser comprometido”.
O episódio está sendo cruel para a carreira de Dujardin. No dia seguinte à repercussão, a UK Sport – marca patrocinadora da atleta – emitiu declaração dizendo que não financiaria mais a amazona, pois o vídeo é “perturbador” e “não condiz com os altos padrões esperados dos atletas britânicos”.
Sucesso interrompido
Seu afastamento também significa que ela perdeu a oportunidade de ultrapassar Dame Laura Kenny – com quem está empatada – e se tornar a mulher britânica de maior sucesso na história olímpica.
Dujardin era considerada candidata a porta-bandeira da Grã-Bretanha, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos desta sexta-feira (26).
PETA quer esportes equestres fora das Olimpíadas
Logo após a repercussão do caso de Dujardin, a vice-presidente sênior da PETA nos EUA, Kathy Guillermo, declarou que o vídeo sugere uma tendência mais ampla de abuso de animais e que é hora do Comitê Olímpico Internacional intervir.
“A mensagem para o COI já deve estar clara: remova os eventos equestres dos Jogos Olímpicos”, destacou. “Mais uma vez, uma cavaleira olímpica foi flagrada em vídeo abusando de um cavalo para forçar o animal a se comportar de uma forma totalmente anormal, simplesmente para sua própria glória. Cavalos não são voluntários — eles só podem se submeter à violência e à coerção. É hora das Olimpíadas passarem para a era moderna”.
Enquanto isso, Dujardin foi retirada da função de embaixadora da instituição de caridade Broke, dedicada a melhorar a vida de cavalos, burros e mulas. “Ficamos profundamente perturbados ao saber deste vídeo. Todo o nosso ethos gira em torno da gentileza e da compaixão para com os cavalos, e ver o oposto disso de alguém com um perfil tão alto é mais do que decepcionante. Nunca pode haver justificativa para maltratar animais”.
Pentatlo Moderno
O pentatlo moderno já decidiu acabar com o elemento equestre do esporte nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028 (como contamos aqui) depois de ter sido duramente criticado em Tóquio, em 2020, devido ao caso do cavalo Saint Boy.
A alemã Annika Schleu foi flagrada chicoteando seu cavalo durante a prova e sua treinadora, Kim Raisner, dando socos no animal. A atleta foi desqualificada pela FEI e a treinadora mandada para casa. E a UIPM – União Internacional do Pentatlo Moderno prometeu conduzir uma revisão completa, bem como disciplinar de Raisner.
A seguir, assista ao vídeo em que é possível ver Charlotte Dujardin chicoteando o cavalo que treinava, com aluno na montaria. Repare como o cavalo se esgueira e procura fugir dos chicoteios.
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Fotos: reproduções do Instagram de Charlotte Dujardin e vídeo da denunciante
Com informações do The Guardian, G1, Folha de SP