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Marina Abramović veste-se de paz e convida público do Festival (de rock) de Glastonbury a silenciar por 7 minutos

Marina Abramović veste-se de paz e convida público do Festival (de rock) de Glastonbury a silenciar por 7 minutos

Muita gente duvidou que ela conseguiria, mas, no último dia do famoso Festival de Glastonbury (1/7), realizado anualmente no Reino Unido, a artista conceitual Marina Abramović foi atendida pelas mais de 200 mil pessoas que ocupavam a plateia em seu pedido por sete minutos de silêncio “para refletirmos sobre o estado do mundo”. 

Como tudo que faz é performático, a icônica artista sérvia de 77 anos subiu ao palco principal do evento – antes do show do cantor cult PJ Harvey – com um vestido branco, que representava o símbolo da paz, criado pelo designer de moda italiano Riccardo Tisci. O tema do festival, este ano, é paz, então, muito apropriado.

“Olá a todos! Quando Michael e Emily Eavis” [organizadores do festival] “me convidaram para vir aqui, ao Palco Pirâmide, no festival de música mais importante do mundo, fiquei aterrorizado e senti-me honrado. Aterrorizado porque sou uma artista. Nunca na minha vida estive com este tipo de público. Não canto, não danço. Tudo o que faço é atuar”. Foi assim que iniciou sua apresentação, e continuou:

“Em todos os meus 55 anos de carreira foi sempre fiz tudo com energia. Não tenho outro lugar melhor do que aqui, neste momento, para fazer esta intervenção da própria energia. E preciso da colaboração completa de vocês. Este é um festival de música em que todos querem passar bons momentos e querem ouvir músicas fantásticas. Mas o que eu proponho é algo que nunca foi feito em nenhum dos festivais na história da música. Quero propor sete minutos de silêncio”.

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E justificou: “O mundo está num lugar de merda. Há guerras, há fome, há protestos, há assassinatos, há violência. Mas o que é que está a acontecer se olharmos para o quadro geral? A violência traz mais violência. Matar traz mais mortes. A raiva traz mais raiva. Aqui, o que tentamos fazer é algo diferente: como estar no presente, aqui e agora? E como podemos realmente todos juntos dar amor incondicional uns aos outros? Esta é a única forma de mudar a si mesmo e podemos mudar o mundo”.

“O que sugiro agora: coloque as mãos no seu vizinho. Só uma mão no ombro. Agora mesmo. Vamos começar. Feche os olhos e fique confortável. Fique com os dois pés no chão apenas fique feche os olhos. A Emily vai soar o gongo, que é realmente forte e poderoso. E quando o som do gongo soar, vamos ficar em silêncio e dar amor incondicional um ao outro durante sete minutos. E quando ouvirmos o som do gongo novamente, a experiência terá terminado e veremos como podemos criar energia positiva em todo o universo. Obrigado por sua colaboração!”.

No final deste post, assista à performance de Emily com mais de 200 mil pessoas, num dia lindo de sol. É emocionante, contagiante.

O maior trabalho coletivo

“Não é fácil usar este vestido, porque você não está usando o vestido, você está usando o símbolo da paz”, declarou Abramovic (ao site Puro Diseño antes de seu convite ao público), destacando que este seria “o maior trabalho coletivo” de sua carreira. Isso num festival de rock, onde nunca havia estado antes. 

“As pessoas vêm aqui para se divertir. Bebem, usam drogas, o tempo está bom. Mas peço que fiquem em silêncio e reflitam sobre o estado deste planeta, que é um verdadeiro inferno neste momento”, disse, destacando fatos como a crise climática, a guerra na Ucrânia e o genocídio na Palestina, como as causas do aumento de temperatura e do “inferno na Terra”.

“O silêncio é uma ferramenta poderosa que nos permite conectar uns com os outros de uma forma que as palavras não conseguem”, acrescentou sobre a intervenção proposta, que chamou de Sete Minutos de Silêncio Coletivo. “Sei que estou fazendo algo importante e adoro riscos. Também estou disposta a fracassar”, confessou. 

Embora sua atuação estivesse 100% alinhada ao conceito do festival, obviamente que Abramović não tinha certeza do sucesso de sua proposta, mas o impacto foi imediato.

PJ Harvey ficou tão tocado com a recepção da plateia e a força da manifestação que tirou uma música de sua playlist para prolongar o tempo de silêncio no palco.

Foi uma oportunidade única de unidade e introspecção num local que acolheu, durante seis dias, apresentações de rock em som altíssimo, com espetáculos de luzes e outros efeitos. 

Sua obra mais popular – até o dia de sua presença em Glastonbury – também teve como tema o silêncio. Em março de 2010, The Artist Is Present, performance realizada no Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, Abramović convidou o público a sentar-se à sua frente e falar com ela em silêncio, apenas olhando em seus olhos. Inesquecível.

Obra-prima

Sobre o vestido da paz, a artista comentou: “É um vestido lindo. Riccardo criou um conceito incrível. Eu estava pensando em como apresentar essa ideia e ele fez esse símbolo da paz. Quando estou com os braços abaixados, não parece nada de especial, mas quando abro os braços é o símbolo de paz!”. E sentencia: “Vai acabar em um museu”.

O designer também falou de sua criação ao Puro Diseño: “Como a mensagem era a paz através do silêncio, pensamos no que realmente significa o silêncio: é sempre o resultado de uma emoção muito forte. Isso é o que este vestido tinha que incorporar”.

E completou: “A inspiração veio da grande arte do quimono japonês. Adoramos a ideia de transformá-lo num símbolo de paz. Tenho brincado muito com a escuridão na carreira fashion, por isso pareceu muito bom e apropriado optar por uma criação mais leve e etérea para este momento especial”.

A participação de Marina Abramović no Festival de Glastonbury já é considerada por ela uma obra-prima de sua carreira como artista performática.

“Há tanta raiva em todo o mundo, e há guerras em todo o lado, e há aquecimento global e pobreza, e os problemas na Ucrânia e na Palestina… Antes disso era o Afeganistão, e antes dele era o Irã, e antes disso era o meu próprio país, as guerras eslavas, e antes era outra coisa”, desabafou a artista. “Eu olho para este quadro geral: os seres humanos matam-se continuamente uns aos outros e nunca aprendemos a lição do perdão (…) O que posso comunicar às pessoas é que, se você mudar a si mesmo, você muda os outros”.

Por fim, citou Mahatma Gandhi como um exemplo de revolução através da paz e da quietude. “Silêncio é criar uma conexão consigo mesmo e com os outros para descobrir o que posso fazer, não o que eles podem fazer, mas o que eu posso fazer. Sempre criticamos os outros, mas nunca olhamos para nós mesmos”.

Agora, assista à performance Sete Minutos de Silêncio Coletivo no Festival de Glastonbury:

 
 
 
 
 
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Fotos: divulgação

Com informações do site Puro Diseño

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