Em 1895, o botânico John Medley Wood caminhava pela Floresta de Ngoya, em Zululand, na África do Sul, quando se deparou com uma árvore que parecia ser de uma espécie desconhecida. Fazia lembrar uma palmeira, com folhas grandes no topo e troncos grossos e múltiplos. O pesquisador coletou então algumas amostras da planta e as enviou para a coleção do Royal Botanical Gardens at Kew, de Londres.
A árvore, descobriu-se quase um século depois, era uma espécie de cicadácea, que já existia no planeta antes mesmo da Era dos Dinossauros, há 300 milhões de anos. São as plantas com sementes mais antigas que sobreviveram à múltiplas extinções em massa e mudanças ambientais.
Esse espécime em particular, achado em Ngoya, que ganhou o nome de Encephalartos woodii, em homenagem a Wood, ainda encontra-se na Inglaterra e acredita-se ser o último que ainda resta no mundo.
Quando se descobriu que a árvore pré-histórica era raríssima, mudas dela foram enviadas para jardins botânicos de vários países. Todavia, todos os clones daquela primeira planta são machos, assim como ela, já que Encephalartos woodii é uma planta dioica, ou seja, é preciso de uma fêmea para que ela possa se reproduzir.
Por isso mesmo, a espécie é considerada o organismo mais ameaçado do planeta e já tida como extinta na natureza.
John Wood ao lado da árvore em 1895
Foto: University of Southampton
Mas a esperança para que essa árvore única não desapareça por completo está numa tecnologia criada muito recentemente, a inteligência artificial (IA). Um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, está usando essa ferramenta e drones para mapear milhares de hectares de florestas na África do Sul para tentar encontrar uma Encephalartos woodii fêmea.
“Esta planta está, até onde sabemos, extinta na natureza. Me inspirei muito na história da E. woodii, ela parece um conto clássico de amor não correspondido. Tenho esperança de que haja uma fêmea por aí em algum lugar, afinal deve ter havido uma vez. Seria incrível trazer de volta esta planta tão perto da extinção através da reprodução natural”, diz Laura Cinti, que lidera o projeto.
Laura Cinti e o espécime do Jardim Botânico de Londres
Foto: University of Southampton
Batizado de “AI in the Sky builds from Living Dead: On the Trail of the Female”, o projeto começou mapeando apenas uma pequena área, próxima ao local onde o primeiro espécime foi descoberto há quase 130 anos e depois ampliando a busca. A inteligência artificial auxilia no reconhecimento das características da espécie, entre milhares de imagens produzidas pelo drone.
“Com a IA, estamos usando um algoritmo de reconhecimento de imagem para identificar as plantas pela forma”, explica Laura. “Geramos imagens de plantas e as colocamos em diferentes ambientes ecológicos, para treinar o modelo para reconhecê-las.”
Esperança e determinação não faltam para encontrar uma fêmea, que possa salvar a árvore mais solitária do mundo da extinção.
Imagens feitas pelos drones e analisadas com inteligência artificial
Foto: Laura Cinti & Howard Boland © C-LAB
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Foto de abertura: University of Southampton
Na minha opinião relativamente a esta árvore, é de que pode existir apenas o macho desta espécie mas que poderá ser imprescindível para a polinização de espécies que sejam da mesma família (parentes proximas).