Popularmente as chamamos de quaresmeiras. Essas árvores nativas da Mata Atlântica, do gênero Pleroma, têm flores lindas, coloridas, que vão do branco e rosa ao roxo escuro. E é por florir na época da Quaresma, o período de 40 dias compreendido entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo de Páscoa, que recebeu esse nome.
E agora a botânica brasileira acaba de ganhar uma nova espécie de quaresmeira, a Pleroma curucutuense, encontrada no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Curucutu, entre a região metropolitana da Baixada Santista e a grande São Paulo.
“Ela é uma parente das quaresmeiras e manacás, mas ao contrário das mais conhecidas, possui um porte menor, as flores reunidas em inflorescências e as pétalas são roxas, apenas com a porção basal branca, ou seja, não mudam de brancas para lilases durante a abertura”, explicou o pesquisador Fabrício Schmitz Meyer ao site Ciência UFPR.
A primeira vez que houve uma coleta de um espécime dessa planta foi em 1996 e ele ficou guardado na coleção biológica da Universidade Federal do Paraná. Em 2012, Meyer começou a estudar as amostras e foram necessários mais de dez anos de comparações e análises até se chegar à conclusão de que aquela era uma nova espécie.
A Pleroma curucutuense, que recebeu esse nome como referência ao local onde foi achada, o Núcleo Curucutu, é observada a altitude acima de 750 metros.
“Suspeitamos que existam mais populações da espécie em áreas insuficientemente amostradas dentro do parque da Serra do Mar e, quanto maiores forem as populações, menos risco ela corre”, diz o pesquisador.
A nova espécie de quaresmeira tem uma estatura menor
(Foto: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo)
O Parque Estadual da Serra do Mar tem mais de 332 mil hectares e abrange 25 municípios. Ele é dividido em dez núcleos: Caminhos do Mar, Caraguatatuba, Cunha, Curucutu, Itariru, Itutinga-Pilões, Padre Dória, Picinguaba, Santa Virgínia e São Sebastião.
O Núcleo Curucutu fica localizado entre as cidades de São Paulo, Itanhaém, Juquitiba e Mongaguá. Antigamente, havia ali uma fazenda ali – Curucutu – onde se produzia carvão vegetal. Desapropriada pelo governo do estado em 1958 para proteger várias nascentes, foi criada em 1977 uma reserva florestal.
Além de quaresmeiras, a região é habitat de outras espécies de flora da Mata Atlântica, como bromélias e orquídeas, além de abrigar 270 espécies de mamíferos. Destas, 20% são exclusivas do bioma e 22% estão ameaçadas de extinção.
Quaresmeira é o nome popular dado a várias espécies do gênero Pleroma
(Foto: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo)
Acredita-se que o nome Curucutu tenha surgido pela ocupação dos indígenas guarani que, ao chegar ali, se depararam com uma enorme quantidade de corujas: curucutu é uma espécie delas.
O artigo publicado no periódico Phytotaxa com a descoberta da nova quaresmeira pode ser lido, em inglês, neste link.
Amostras coletadas e guardadas na coleção da UFPR: esse tipo de trabalho é
fundamental para a descrição de novas espécies
(Foto: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo)
*Com informações e entrevistas contidas no texto da Ciência UFPR
Foto de abertura: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo