2023 não foi apenas um ano de más notícias e sinais alarmantes do meio ambiente. Houve também progressos na área de conservação e descobertas de milhares de novas espécies de plantas e animais no mundo todo, até então desconhecidas para a ciência. Como faz anualmente, a equipe do Kew Royal Botanic Gardens, de Londres – onde fica a maior e mais diversa coleção de espécies botânicas do planeta – divulga uma lista com dez espécies de flores e fungos descritas no ano passado.
Graças ao trabalho em campo ou o estudo de coleções, biólogos e botânicos do Kew Gardens, em parceria com pesquisadores internacionais, conseguiram identificar e nomear 74 novas espécies de plantas e 15 fungos. Entre eles estão micro-organismos encontrados em líquenes na Antártica, essa lindíssima orquídea vermelha (Dondrobium lancilabium wuryae) na imagem acima, que tem como habitat o topo do vulcão do Monte Nok, na ilha de Waigeo, na Indonésia, até uma árvore gigante na floresta nublada de Camarões, pesando quase oito toneladas.
Para os cientistas britânicos, é importantíssimo divulgar essas descobertas e falar da importância desses pequenos e frágeis seres.
“Vimos no relatório Estado das Plantas e Fungos do Mundo deste ano que três em cada quatro espécies de plantas não descritas estão ameaçadas de extinção, embora existam provavelmente mais de 2 milhões de espécies de fungos ainda a serem descobertos. Muitas das novas espécies que estamos vendo são conhecidas por apenas um único indivíduo sobrevivente. Outras encontramos em uma área de habitat destinada à destruição. Mas também há muito para sermos otimistas”, ressaltam os pesquisadores do Kew Gardens.
Abaixo alguns dos demais destaques da seleção de fungos e plantas de 2023, com o texto de Martin Cheek:
A orquídea salva por um pássaro
O pássaro de bico azul que ajudou a salvar a recém-descrita orquídea)
(Fotos: Francesco Veronesi CC BY-SA 2.0 (pássaro) e © RBG Kew Johan Hermans (orquídea)
Uma pequena reserva em Madagascar é mantida por um grupo de aldeões com a esperança de proteger a ameaçada Euryceros prevostii, uma impressionante ave de bico azul. Os visitantes se aglomeram para vislumbrar este animal raro, trazendo renda aos moradores e incentivando a proteção da floresta.Foi neste pequeno pedaço de floresta que Johan Hermans, do Kew Gardens e colaboradores botânicos locais encontraram a A. bigibbum, uma orquídea epífita que passa a vida crescendo sobre outras plantas.
Se não fosse pelo cuidado e amor por um pássaro único, é provável que esta floresta já tivesse desaparecido há muito tempo, levando consigo a sua vida vegetal. Cuidar de uma espécie pode proteger inúmeras outras que compartilham seu lar.
Uma nova planta carnívora… ou não?
Nova planta descoberta em Moçambique
(Foto: © Bart Wursten)
Durante uma expedição botânica em Moçambique, o botânico Bart Wursten encontrou uma planta misteriosa coberta de pelos que prendem insectos. Parecia uma Drosera, gênero famoso por capturar e consumir presas de insetos.
No entanto, um exame mais aprofundado apontou que a planta pertence ao gênero Crepidorhopalon, um grupo de plantas com flores da ordem Lamiales – incluindo mentas e seus parentes. Na família à qual pertencem Crepidorhopalon, Linderniaceae, nenhuma planta carnívora foi registrada anteriormente.
Ainda são necessários muitos estudos de campo e de laboratório para confirmar se esta nova espécie é verdadeiramente carnívora. Embora saibamos que ela pode atrair e capturar insetos, se consegue digeri-los e absorvê-los para nutrição é outra questão.
O tempo dirá se esta é mais uma maravilha carnívora da botânica mundial.
Afinal, não é um fungo tão perigoso
O fungo coreano e inofensivo
(Foto: © Hyang Burm Lee)
Das seis espécies de fungos Lichtheimia já existentes, três podem causar doenças humanas desagradáveis, desde infecções pulmonares até lesões cutâneas graves.
Estamos gratos, então, pela última adição a este género, encontrada em resíduos de soja em várias províncias sul-coreanas pelo micologista do Kew Gardens, Paul Kirk, não estar tão relacionada com os seus primos patogênicos.
Parentes da Lichtheimia koreana foram registrados em todo o mundo – no solo, em produtos alimentares, em invertebrados e até mesmo, em fezes. Muitas vezes encontramos algo que ainda não entendemos totalmente nos lugares mais inesperados.
Foto de abertura: © Yanuar Ishaq Dwi Cahyo