Grande dia! Depois de quatro anos de obscurantismo, hoje, 12/7, foi dia de reparação histórica para a ciência brasileira. Em cerimônia no Palácio do Planalto – intitulada ‘A Ciência Voltou!’ -, na companhia da ministra Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o presidente Lula entregou a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico (1993) a pesquisadores desprestigiados por Bolsonaro, além de professores, autoridades e representantes de entidades que se distinguiram por suas relevantes contribuições à ciência, à tecnologia e à inovação.
Entre eles, estava Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe exonerado em 2019 após rebater as declarações do ex-presidente, que acusou a instituição de divulgar dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Hoje, ele é presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Também receberam a alta honraria o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda (foto abaixo) e a médica sanitarista Adele Benzaken (foto de destaque deste post), que tiveram suas condecorações revogadas em 2021 (como contamos aqui) por serem autores de estudos que desagradaram sua gestão.
Lacerda foi um dos responsáveis pela pesquisa que evidenciou a ineficiência do uso da cloroquina no tratamento de pacientes graves com covid-19. Adele é diretora da Fundação Oswaldo Cruz/Amazônia. Diante de decisão arbitrária, em solidariedade aos dois profissionais, 21 cientistas renunciaram às próprias condecorações. Hoje, todos também foram agraciados.
O evento contou com as presenças do vice-presidente Geraldo Alckmin e de Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e ex-ministro da Educação (governo Dilma), que proferiu belo discurso. Os dois aparecem na foto de destaque deste post, aplaudindo o momento emocionante da entrega da medalha à médica Adele Benzaken.
Conselho resgatado e conferência anunciada
Lula assinou dois decretos importantes: o da retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, cuja reformulação e consequente ampliação já vinha sendo anunciada pelo governo e de convocação da 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, prevista para junho de 2024, em Brasília. Para o presidente, os dois marcam o início de um novo período:
“Chega de obscurantismo! Basta de negacionismo! Chega de jogar cientistas à fogueira! Basta de testemunhar pesquisadores como Ricardo Galvão perdendo seu cargo por mostrar o que os satélites registravam”.
Lula declarou que desenvolvimento sustentável e desenvolvimento científico devem caminhar juntos, defendendo mais investimentos em pesquisa científica, prometendo que vai construir mais universidades federais e destacando a urgência em reduzir desigualdades sociais.
“Não adianta ficarmos olhando o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país] se o resultado não é distribuído equitativamente entre a população. Se você cresce 1% e distribui este 1%, vale mais que crescer 10% e não distribuí-los […] E não há como pensarmos em crescer, em retomarmos a indústria, em produzirmos mais no campo, se não pensarmos em ciência. Não há como pensarmos em reduzir as desigualdades sem pensarmos em ciência“.
Coube à ministra Luciana Santos, que anunciou que os preparativos para a conferência estão em curso, assinar a portaria que oficializa a nomeação do ex-ministro Sérgio Rezende como secretário da conferência.
Para ela, a solenidade foi um “ato de desagravo à ciência e de reparação histórica aos cientistas, professores, médicos e pesquisadores injustamente perseguidos e ameaçados por um governo anticiência e antivida”. E acrescentou: “Podemos dizer que o tempo do negacionismo, do desprezo pelos instrumentos de participação social e de ameaça à democracia acabou”.
ABL, entre as homenagens
A Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada em 1897 com o objetivo de cultivar a língua e a literatura nacionais, também foi condecorada com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
Merval Pereira, jornalista e presidente da instituição, foi quem recebeu a honraria das mãos de Lula e declarou: “[A condecoração da ABL] mostra um governo preocupado com o desenvolvimento da ciência e que reconhece a cultura como parte deste processo”.
Em memória do reitor
Por fim, em seu discurso o presidente Lula lembrou o caso do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, acusado de desvio de dinheiro público e detido pela Polícia Federal em setembro de 2017.
Afastado do cargo devido às investigações, Cancellier foi humilhado: proibido de entrar na universidade na qual circulou desde estudante e durante a vida acadêmica por cerca de 20 anos.
Dias depois à deflagração da Operação Ouvidos Moucos, desdobramento da Operação Lava Jato, o Cancellier se suicidou. Na semana passada, seis anos depois de sua morte, o Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou o processo por não ter encontrado qualquer indício de irregularidade cometida durante a gestão de Cancellier. Ele era inocente.
“Neste momento em que estamos reunidos com a inteligência brasileira, com nossos cientistas e pesquisadores, não podemos esquecer do nosso companheiro, o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier. Sempre que pudermos, temos que lembrar das pessoas vítimas do arbítrio. Para que esta insanidade nunca mais aconteça no nosso país”, finalizou Lula.
A seguir, assista a um trecho de seu discurso e veja alguns momentos emocionantes das condecorações:
Fontes: Agência Brasil, G1
Foto: Ricardo Stuckert/PR (Lula em momento emocionante com a médica sanitarista Adele Benzaken, diretora da Fiocruz/Amazônia)