Com pouco mais de 10 centímetros, o macho do tiê-bicudo (Conothraupis mesoleuca) tem o corpo com uma plumagem preta com brilho esverdeado e a barriga, a face inferior das asas e o bico brancos. Esse pássaro que só existe no Brasil e em nenhum outro lugar do mundo foi descrito pela primeira vez em 1939, com base em um único exemplar coletado pelo etnógrafo francês Jehan Albert Vellard, durante uma expedição na Estação Telegráfica de Juruena, no Mato Grosso.
Por quase 65 anos ele ficou desaparecido, até que em 2003, dois pesquisadores brasileiros o avistaram novamente no Parque Nacional das Emas, em Goiás. Dada sua raridade, o tiê-bicudo é classificado como criticamente ameaçado de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e em perigo pela Lista Nacional de Fauna Ameaçada.
Todavia, nas últimas décadas, graças a um projeto de preservação ambiental na região de São José do Rio Claro, no Mato Grosso, no extremo sul da Floresta Amazônica, a ave tem sido avistada com maior frequência e atraído, inclusive, fotógrafos internacionais especialistas em aves.
Em setembro, dois desses profissionais, os ingleses Jonathan Newman e Michael Woodhouse, conseguiram registrar o tiê-bicudo por lá.
Assim como ocorre com outras espécies de aves, a fêmea do tiê-bicudo possui cores diferentes. Seu corpo é marrom pardo, sua barriga tem tons de amarelo e o bico é escuro. Somente os machos cantam. Esses pássaros se alimentam de insetos e também, de sementes de bambus e capins.
Há pouquíssimo conhecimento sobre essa ave, que tem uma população muito pequena, estimada entre 250 e 500 indivíduos. Até hoje o tiê-bicudo só foi observado nos estados do Mato Grosso, Goiás e há um relato sobre um avistamento na Serra do Cachimbo, no Pará.
O tiê-bicudo fotografado em setembro estava no terreno da pousada Jardim da Amazônia, uma das propriedades que fazem parte do Projeto Arinos Mata Viva, apoiado pelo grupo BMV, uma greentech brasileira que trabalha com produtores rurais pela conservação de áreas de floresta nativa.
Através da iniciativa, 42 proprietários recebem incentivos para manter mais de 80 mil hectares de floresta preservada. Dentre outras coisas, o programa ajuda na promoção de ações de prevenção a incêndios, da produção da agricultura orgânica e com consultorias para melhorar a produtividade de pequenos e médios agricultores.
“Estamos numa região de mata preservada que hoje possui mais de 530 espécies de aves e as ações de preservação da floresta em pé nos ajudam a mantermos uma crescente no número de espécies de animais que temos hoje”, comemora Raquel Zanchet, coproprietária da pousada Jardim da Amazônia.
*Com informações da assessoria de imprensa da BMV e do site WikiAves
Foto de abertura: Giuliano Bernardoni