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FIFA e Catar, país que sedia a Copa do Mundo, são alvos de denúncias de violações dos direitos humanos, mortes de migrantes e corrupção

Às vésperas da Copa do Mundo – faltam apenas dois dias -, a pressão internacional sobre o Catar, que sedia o evento internacional, e a FIFA só aumenta. 

O país é acusado de desrespeito e violações aos direitos humanos, devido às péssimas condições, inclusive de segurança, oferecida aos trabalhadores migrantes que construíram toda a infraestrutura para a Copa: não foram só estádios, mas também cidades, museus e uma rede de metrô.

A FIFA nega, mas organizações de direitos humanos revelam que cerca de seis mil pessoas morreram nessas obras e suas famílias, que vivem em países pobres da Ásia e da África, não receberam indenização.

Isso, sem falar na falta de liberdade de gênero, que oprime pessoas LGBTQIAP+ (a homossexualidade é ilegal) e mulheres nesse país conservador muçulmano. Apesar de os organizadores do evento garantirem que todos – “não importa a orientação sexual ou a origem” – são bem-vindos, é claro o temor de que tais restrições morais possam afetar também os torcedores estrangeiros.

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Além disso, desde que o Catar foi anunciado pela FIFA como país-sede da edição 2022 da Copa do Mundo, a instituição é questionada e acusada de aceitar suborno. De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA – que também levanta a questão em relação à Copa de 2018 na Rússia, o país pagou para garantir votos.

O Comitê Supremo de Entrega e Legado do Catar, responsável pela infraestrutura, o planejamento e todas as operações para garantir o evento no país, rejeita as acusações.

Campanha por indenização e petições

A maior parte da população do Catar é composta por migrantes e outros estrangeiros e as denúncias de organizações de direitos humanos sobre o tratamento dado aos trabalhadores são constantes, desde o início das obras.

O relatório Reality Check 2021: A year to the 2022 World Cup – The state of Migrant Worker’s Rights in Qatar, da Anistia Internacional (AI), por exemplo, denuncia práticas que desrespeitam as reformas trabalhistas de 2014: a retenção de salários e a pressão para que os trabalhadores mudem de emprego estão entre elas.

Por conta disso, em maio deste ano, uma coalizão de 24 organizações de direitos humanos, grupos de torcedores e sindicatos lançaram uma campanha global, entre eles: a Anistia Internacional, a Human Rights Watch, Migrant-Rights.org, Football Supporters Europe (FSE), Power of Sport Lab e Dutch Football Players Union (VVCS).

Segundo a AI, a campanha também tem apoio de patrocinadores do evento e contempla uma carta pública dirigida ao presidente da FIFA, Gianni Infantino, e a petiçãoÉ hora do Qatar e da FIFA pagarem!‘ (assine, aqui) para pedir ao Catar e à FIFA que indenizem os trabalhadores migrantes e as famílias dos trabalhadores mortos em serviço por abusos de direitos humanos sofridos durante a construção da infraestrutura que tornou a Copa do Mundo uma realidade.

O valor solicitado é de 440 milhões de dólares (cerca de R$ 2,4 bilhões).

“Nossa pesquisa de opinião global também mostrou que a campanha é apoiada pela grande maioria do público – mas, apesar disso, nem a FIFA nem o Qatar responderam ainda”, revela a AI.

Foto: divulgação/Avaaz

Em setembro, a Avaaz também lançou uma petição – ‘Não deixe a FIFA lucrar com esse abuso!’ – para apoiar a reivindicação da campanha global, mas que ainda não chegou a 700 mil assinaturas (assine, aqui). O texto que acompanha a petição destaca: 

“Imagine estar tão desesperado para trabalhar que você tem que deixar sua família para trás, se mudar para um acampamento degradante e trabalhar sob o calor escaldante do deserto para ganhar um mísero dólar por hora. Depois você morre, sozinho, e sua família não recebe nada. Agora, imagine que aqueles que te trataram como escravo faturem bilhões, enquanto a sua família fica cada vez mais pobre”. 

Associações de futebol de dez nações europeias – entre elas a Alemanha e a Inglaterra – também pressionaram a FIFA para que tome medidas a fim de melhorar as condições de trabalho dos migrantes no país.

Em sua defesa, o governo do Catar diz que seu sistema trabalhista ainda está em reformulação, portanto, fadado a erros, e negou as alegações de que prende e explora trabalhadores migrantes.

Já a FIFA, em vez de responder às acusações, enviou comunicado para as equipes da Copa do Mundo solicitando que se concentrem no futebol, durante o evento no Catar, para evitar que “o esporte seja arrastado por batalhas ideológicas ou políticas”.

Fifa tenta neutralizar o problema e causa confusão

Ao mesmo tempo em que fez a solicitação acima descrita, a FIFA tentou neutralizar o problema, promovendo uma ação com jogadores e pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas na construção da infraestrutura do evento ou na organização da Copa.

Para tentar neutralizar o problema e tentar passar uma boa imagem, a entidade ofereceu a todas as seleções opções de encontros voluntários com essas pessoas, mas a ação causou mal estar, já nos treinos dos jogadores da Inglaterra e da Holanda porque a Fifa não divulgou a iniciativa à imprensa.

Por conta disso, não foram poucos os repórteres que se confundiram e entenderam que tratava-se de uma iniciativa dos jogadores, justamente para chamar a atenção para as acusações.

Durante o encontro no gramado, logo após o treino, alguns jogadores dos dois times receberam os trabalhadores e tentaram puxar conversa sobre a polêmica em torno das denúncias contra Fifa e o governo do Catar. Os fãs pareciam mais interessados em curtir o momento e conversar sobre futebol com seus ídolos, mas alguns negaram terem passado por situações difíceis no trabalho para a Copa.

Como revelou o UOL, o paquistanês Jused Muatezã, que assistiu ao treino dos ingleses, foi um deles: “sou parte desta jornada aqui no Catar e hoje me sinto recompensado por participar de um evento assim. Sou muito agradecido à Fifa. Fiz parte das equipes de saúde e segurança e os padrões do Catar são perfeitos quando se trata de direitos humanos. Quando tivemos condições extremas (de calor), eles não permitiram que os trabalhadores ficassem expostos. Nestes cinco anos, nunca enfrentei nenhum problema nas construções”.

A seleção holandesa treinou na Universidade do Catar e os atletas até tentaram puxar conversa com os trabalhadores sobre as denúncias, mas, como explicou Frenkie De Jong à reportagem do UOL, foi difícil “tratar de assuntos sérios em um momento de descontração e deslumbramento”.

Já Virgil van Dijk, capitão do time holandês, contou que “eles estavam tão felizes de estar com a gente que (…), quando perguntávamos sobre o tema (das obras e condições de trabalho), eles já iam para uma próxima pergunta. Espero ter dado a eles um dia legal, a energia positiva que eles trouxeram foi muito legal. Agora, vamos focar no futebol”.

Jaap Paulsen, assessor da equipe, destacou que, antes de aceitar o encontro de confraternização com os convidados, a seleção da Holanda foi cuidadosa e se certificou com o Comitê Supremo e ao Sindicato dos Trabalhadores Imigrantes de que eles haviam, de fato, participado das obras para a Copa do Mundo no Catar.

Foto: Qatar Supreme Committee for Delivery & Legacy / Estádio Internacional Khalifa

Fontes: Folha, UOL, Anistia Internacional, Avaaz,

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