O flagrante aconteceu por acaso. O fotógrafo de natureza Valter Patrial estava ministrando um workshop no Parque Nacional do Iguaçu quando uma das participantes, Cecília Miura, conseguiu fazer uma sequência de imagens incríveis (confira mais abaixo). Da passarela, ela registrou uma onça-pintada, andando no rio, do lado argentino, em meio a um grupo enorme de urubus. Na verdade, não era qualquer onça. A jovem fêmea é Kunumi, animal conhecido pelo projeto de conservação Yaguareté e também, pelo Onças do Iguaçu, que trabalham em parceria pela proteção da espécie na região.
O mais incrível é que Cecília só percebeu a onça depois que baixou as imagens quando chegou em casa. Ela mora em Foz do Iguaçu e a luminosidade na hora do registro era muito ruim.
Kunumi nasceu em 2020, na Argentina, e desde então, tem sido observada circulando entre os dois lados do Parque do Iguaçu. Biólogos conseguem fazer a identificação e distinção dos indivíduos através do padrão de suas pintas, como se fosse uma espécie de impressão digital.
A fêmea vem de uma linhagem de outras onças monitoradas há anos já pelos dois projetos. Ela é filha de Memby, que nasceu em 2016, e neta de Kerana. Em tupi-guarani, Kunumi significa “bebê, guri”.
Kunumi, no lado esquerdo da imagem, antes de atravessar o rio Iguaçu
A onça aparece calmamente, em meio ao enorme grupo de urubus
Graças ao trabalho desenvolvido pelo projeto Onças do Iguaçu, no lado brasileiro do parque, e também, pelo Iaguareté, que envolve não apenas monitoramento, mas ações de educação e conscientização entre as comunidades que vivem no entorno, a população de onças-pintadas mostrou uma importante recuperação. Na área do chamado Corredor Verde, em 2018 foram estimados 105 indivíduos, em comparação a 40 em 2005.
A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, depois do leão e do tigre. A potência de sua mordida é considerada a maior dentre todos eles.
No Brasil, a espécie está listada como vulnerável à extinção, mas seu status de conservação varia em cada bioma. Na Mata Atlântica ela está criticamente ameaçada. Estima-se que restem entre 230 e 300 indivíduos. Um terço deles está justamente na área que abrange o Parque do Iguaçu e reservas adjacentes do lado argentino. Esta é a única população da espécie no bioma que cresce.
Curiosidades sobre a onça-pintada
– Comprimento total: até 2,70 m (máxima);
– Peso: entre 35 kg e 158 kg. As onças de áreas abertas, como o Pantanal, são maiores. As onças do Iguaçu pesam até 100 kg. Os machos são maiores que as fêmeas;
– Dieta: de médios mamíferos, répteis e aves até grandes animais como antas, queixadas, veados, jacarés, porcos-do-mato, capivaras;
– Número de filhotes: 1 a 4, mas o mais comum são dois filhotes;
– Gestação: 90 a 115 dias;
– Filhotes nascem cegos e totalmente dependentes da mãe. Com duas semanas de vida abrem os olhos, e mamam até os 2 meses, quando já começam a comer carne;
– Com cerca de dois anos, as jovens fêmeas se separam da mãe para buscar seu próprio território;
– Longevidade: vive cerca de 12 a 15 anos em vida livre. Em cativeiro podem viver bem mais, quase o dobro;
– Onças fêmeas começam a se reproduzir com 2 a 3 anos de idade, e machos com 3 a 4 anos de idade;
– A onça-pintada é ativa durante o dia e à noite, mas a maior atividade é noturna;
– Onças são solitárias, geralmente macho e fêmea só se encontram para acasalar. Para evitar contato entre si, os machos esturram (rugem) para demarcar seu território. Eles também usam urina e fezes para essa demarcação.
*Texto do Curiosidades Projeto Onças do Iguaçu
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Fotos: Cecília Miura