Entre as enormes tragédias provocadas pelos incêndios devastadores que queimaram quase 30% da vegetação do Pantanal e mataram milhares de animais, no ano passado, está a destruição de um ninho de tuiuiú, que ficava às margens da BR-262, próximo à Estrada Parque de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
O ninho, que fica sobre uma piúva (ipê-rosa), era tombado como patrimônio do município desde 2011 e constituía um atrativo turístico na região. Mas como contamos nesta outra reportagem, um novo ninho – artificial -, foi colocado no local, a 20 metros da árvore original, para tentar atrair novamente os tuiuiús, aves que tendem a voltar sempre ao mesmo lugar para se reproduzir.
E há poucos dias, chegou a boa notícia! Foi registrada a presença das aves no ninho.
“Desde o ano passado estávamos recebendo informações de pessoas que passavam pela rodovia relatando que os tuiuiús estavam próximos do ninho. Estávamos monitorando porque sabíamos que a época do reprodução da espécie começa no meio do ano. Mas agora é o momento que eles começam a preparar o ninho. E isso aconteceu!”, comemora Walfrido Tomás, pesquisador da Embrapa Pantanal, responsável pela ideia da colocação do ninho artificial*.
Tomás conta que há anos é feito um monitoramento da reprodução dos tuiuiús no Pantanal. Através de registros aéreos (feitos de aviões), é possível contabilizar os chamados ninhos “ativos”, onde há a presença de ovos e filhotes. E descobriu-se que há uma relação estreita entre a nidificação e a época de inundação do bioma.
“Em anos muito secos, a quantidade de ninhos ativos diminui. Mas quando há mais enchentes, com fartura maior, eles reproduzem mais. Então a gente não tem certeza se este ninho (o artificial) vai produzir filhotes ou não. Mas ele nunca falhou, com exceção do ano passado, por causa dos incêndios”, explica o especialista.
A preocupação é que, mais uma vez, o clima do Pantanal, em 2021, está extremamente seco.
O ninho se tornará um símbolo da tragédia de 2020
Para Tomás, o ninho artificial será uma lembrança constante do que aconteceu em 2020. De que ações humanas equivocadas podem causar danos à fauna e à biodiversidade. “Por ser um ninho icônico, essa mensagem ficará ali permanentemente. Será um monumento natural, vivo, e funcional”.
O ninho artificial ganhará em breve uma placa, que contará a história da razão pela qual ele precisou ser projetado e da tragédia que aconteceu no Pantanal no ano passado.
O ninho famoso, na beira da rodovia, próximo a Corumbá
*O projeto para a instalação do ninho artificial contou com a participação da Embrapa Pantanal, Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, Instituto Arara Azul e Energisa, concessionária responsável pela distribuição de energia em cidades de Mato Grosso do Sul.
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Fotos: Walfrido Tomas/Embrapa Pantanal