Famoso ninho de tuiuiú destruído por incêndios do Pantanal é substituído por um artificial

Famoso ninho de tuiuiú destruído por incêndios do Pantanal é substituído por um artifical

Entre as muitas tragédias que aconteceram durante os incêndios que devastaram quase 30% do Pantanal nos últimos meses está a destruição de um ninho de tuiuiú, que ficava às margens da BR-262, próximo à Estrada Parque de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

“O ninho era tombado como patrimônio do município desde 2011 e constituía um atrativo turístico na região”, diz Walfrido Tomás, pesquisador da Embrapa Pantanal.

O fogo destruíu a famosa piúva (ipê-rosa), árvore na qual ficava o ninho dessa ave, símbolo do Pantanal.

Mas, graças à parceria de diversas entidades, foi instalado no local um novo ninho – artificial. A intenção é que os tuiuiús, que sempre voltam ao mesmo lugar para se reproduzir, possam retornar muitas outras vezes.

Trabalho de montagem do ninho artificial

O projeto para a colocação do ninho artificial contou com a participação de especialistas do Instituto Arara Azul, da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, Fundação de Meio Ambiente Ambiente do Pantanal, da Embrapa Pantanal e também, da Energisa, concessionária responsável pela distribuição de energia em cidades de Mato Grosso do Sul.

Conversamos com Walfrido Tomás, que nos contou como foi idealizada a ideia do ninho artificial.

Como é o ninho artificial colocado no local? Como foi feito?
O ninho foi inspirado nos ninhos artificiais de cegonhas, comuns na Europa, e também na estrutura dos ninhos de tuiuiús no Pantanal. Assim, ele é constituído de um poste alto de concreto com uma plataforma no topo. A plataforma foi confeccionada com metal, tem 2 m de diâmetro e foi coberta com galhos e gravetos finos, simulando um ninho da espécie. Esse material pretende ser apenas um ninho inicial, na esperança de que os tuiuiús acrescentem mais material, consolidando a estrutura.

Há outras experiências similares já de sucesso feitas com ninhos artificiais?
Experiências com ninhos artificiais são comuns, inclusive com espécies de cegonhas, especialmente na Europa. Com o tuiuiú não existe nenhuma experiência prévia.

Por que foi decidido instalar o ninho artificial?
Durante levantamentos de animais mortos pelos incêndios, passamos diversas vezes pelo ponto onde estava o ninho e, em algumas vezes, observamos os tuiuiús nas proximidades e sobre a árvore queimada. Assim, surgiu a idéia de instalar uma estrutura para os animais ali e o modelo que entendi como mais adequado foi o dos ninhos de cegonhas existentes na Europa.

Na semana seguinte, a pesquisadora Neiva Guedes (Instituto Arara Azul) também sugeriu a instalação de um ninho artificial ali no local, e então, a convidei para participar do projeto que estávamos elaborando. Assim, agregamos ao projeto a Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, de Corumbá, além do Instituto Arara Azul. Com a concordância de todos quanto à proposta, submetemos o projeto à fundação, que prontamente adotou a ideia e já propôs uma parceria com a Energisa para concretizar a instalação do ninho. A Energisa, por sua vez, também se entusiasmou pela ideia e propôs alguns ajustes ao projeto da estrutura do ninho e assim, a construção foi efetivada em tempo recorde.

Se tem ideia de onde estão os tuiuiús que estavam no ninho?
Os tuiuiús são fiéis ao local de nidificação. Além disso, os ninhos são construídos ao acaso pela planície pantaneira. A localização se baseia, especialmente, na disponibilidade de árvores altas com galhos bem abertos para facilitar a chegada dos tuiuiús ao ninho, bem como disponibilidade de recurso nas proximidades. Assim, corremos contra o tempo para evitar que os tuiuiús daquele ninho deixassem a área e procurassem outro local para a construção de um novo ninho. A ideia, como já mencionado, era resguardar o atrativo turístico e oferecer ao casal de tuiuiús uma nova chance de continuar na área.

Qual é a época de reprodução dessas aves e quanto tempo elas ficam no ninho?
Os tuiuiús reproduzem após o período de cheias no Pantanal, com a grande maioria dos ninhos contendo ovos ou filhotes entre julho e novembro.

Quando não estão no ninho, onde essas aves ficam?
Os tuiuiús alimentam-se de peixes e outros pequenos invertebrados em áreas alagadas. Assim passam boa parte do tempo nestes locais, caçando.

A espécie é ameaçada de extinção?
Globalmente, a União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) não classifica o tuiuiú como uma espécie preocupante quanto ao estado de conservação. No Brasil, também não está listada como ameaçada em escala nacional. No entanto, em diversos estados a espécie é considerada ameaçada. No estado de São Paulo, por exemplo, é considerada criticamente ameaçada e como ameaçada em Minas Gerais.

O ninho sendo colocado em cima de um poste de concreto

Nos próximos meses, os envolvidos na projeto pedem para as pessoas que passarem pela região e observarem os tuiuiús no ninho artificial, façam uma foto e encaminhem (com horário e data) para o endereço de e-mail -ninho.tuiuiu.br262@gmail.com – , isso ajudará os pesquisadores no monitoramento deste ninho!

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*Vale ressaltar que a imagem que abre este post é apenas para mostrar ao leitor como é um ninho de tuiuiú. A fotografia foi feita no Pantanal, em 2013.

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Fotos: Andries3/Creative Commons/Flickr (foto ilustrativa que mostra um ninho de tuiuiú no Pantanal) e demais divulgação Energisa

2 comentários em “Famoso ninho de tuiuiú destruído por incêndios do Pantanal é substituído por um artificial

  • 28 de outubro de 2020 em 11:25 PM
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    Humanos legais estes que constroem ninhos, apagam incêndios, imobilizam fraturas de patas, martelam casinhas de cães de rua, param o trânsito para salvar uma “simples” cobra, operam cataratas de animais velhinhos e fabricam próteses para animais mutilados ou paralíticos. Estes humanos que se atiram em águas revoltas para salvar seu amado cão e só depois descobrem que não sabem nadar. Ou se arremessam nas labaredas para resgatar “apenas” um gatinho, que nem era seu, estes humanos são de Deus, que aposta todas as suas fichas neles, e ganha.

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  • 31 de outubro de 2020 em 3:56 PM
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    Verdade, ainda bem que eles existem.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.