O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado foi homenageado ontem (24/01), durante a cerimônia de abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, ao lado do arquiteto britânico-ganense David Adjaye OBE. Os dois receberam o 27th Annual Crystal Award, premiação que reconhece a contribuição do trabalho de artistas, das mais diferentes áreas, para a sociedade. Por causa da pandemia, o evento este ano será virtual.
Sebastião Salgado foi escolhido por sua liderança na abordagem da desigualdade social e sustentabilidade. Já David Adjaye OBE por seus serviços a comunidades, cidades e ao meio ambiente.
“Como líderes culturais, eles fornecem uma visão criativa que pode superar as limitações do pensamento linear ou de curto prazo para gerar mudanças sociais”, ressalta a comissão responsável pela escolha dos premiados.
Adjaye OBE tem escritórios de arquitetura na Inglaterra, Ghana e nos Estados Unidos, e já desenvolveu projetos em diversos países do mundo. Um deles é o Smithsonian National Museum of African American History and Culture, em Washington D.C, na capital americana, que ganhou vários prêmio de design e foi nomeado “Cultural Event of the Year” pela revista The New York Times.
O arquiteto conta que começou a pensar na arquitetura ainda criança, ao perceber as dificuldade enfrentadas por seu irmão, deficiente. Para ele, seu trabalho é uma oportunidade de contar histórias, promover a justiça e a transformação social.
Sobre a carreira do fotógrafo brasileiro, os organizadores do Crystal Award a descrevem da seguinte maneira:
“As icônicas fotografias em preto e branco de Salgado abrangem décadas e mais de 100 países. Seu trabalho documenta a vida na Terra, revelando cenas inspiradoras e aterrorizantes, provocando debates sobre a condição humana e questões de desigualdade e sustentabilidade. As fotos transmitem a dignidade e a integridade de seus personagens, sem forçar seu heroísmo ou provocar implicitamente piedade”.
O mundo em preto e branco
Sebastião Salgado nasceu e cresceu na fazenda de gado do pai, no município de Aimorés, em Minas Gerais. Depois de anos viajando pelo exterior e registrando imagens impactantes que o tornaram conhecido internacionalmente, decidiu voltar ao Brasil.
No premiado documentário Sal da Terra, que conta sua trajetória, o fotógrafo confessa que após fazer a cobertura do genocídio de Ruanda, na África, entrou em uma crise profunda e se sentiu descrente da humanidade. “Minha alma estava doente”, diz no filme.
Recuperado da tristeza, o fotógrafo lançou um novo projeto – Gênesis – um contundente e belíssimo retrato da natureza ainda intocada e majestosa do planeta. Em paralelo, Salgado e a esposa se depararam com a tão querida Fazenda Bulcão, em Aimorés, devastada pelo desmatamento e a seca. Em 1998, reuniram parceiros e arrecadaram recursos para começar a recuperação da terra.
O resultado foi impressionante. Foram restaurados mais de 7 mil hectares de áreas degradadas e produzidas em viveiros 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica para abastecer tanto a fazenda dos Salgado quanto os projetos do Instituto Terra na região.
“Tornei-me fotógrafo por acaso. No final dos anos 1960, minha esposa Lélia e eu nos mudamos para Paris para escapar dos ditadores militares brasileiros. Enquanto Lélia estudava arquitetura, trabalhei como economista na Organização Internacional do Café e comecei a viajar pela África. Em um momento, peguei emprestada a câmera da Lélia e comecei a ver o mundo de uma forma diferente. Isso mudou minha vida inteiramente. Logo eu queria compartilhar o que vi pelas lentes da câmera”, revela.
Leia também:
Funai devolve obras de Sebastião Salgado após campanha internacional lançada pelo fotógrafo em defesa dos povos indígenas
Sebastião Salgado se une a grandes nomes mundiais em apelo pela proteção dos indígenas brasileiros contra a Covid-19
Nova exposição de Sebastião Salgado mostra imagens impressionantes de Serra Pelada
Sebastião Salgado é o primeiro brasileiro na Academia de Belas Artes francesa
Fotos: divulgação Fórum Econômico Mundial/Sebastião Salgado (Marcia Navarro/Renato Amoroso), Josh Huskin (David Adjaye OBE) e imagens de Sebastião Salgado