Como tem acontecido nos últimos anos, no verão, em 22 de janeiro, depois de fortes chuvas, uma trilha do Recanto Ecológico Rio da Prata, na região de Jardim, a 217 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, ficou submersa, resultando em um dos fenômenos mais lindos oferecidos pela natureza da região.
“Este fenômeno do represamento das águas do Rio Olho D’água pela cheia do Rio da Prata realmente é algo muito especial e que nos deixa deslumbrados. E isso reflete o cuidado que temos com este pedacinho de chão tão especial, o qual temos a oportunidade de cuidar com tanto carinho”, declarou Luiza Coelho, Diretora Ambiental e de SGS (Sistema de Gestão de Segurança) do Grupo Rio da Prata, do qual faz parte do recanto.
Por algumas horas, a trilha e o Deque do Vulcão ficaram totalmente debaixo d’água. O monitor ambiental e fotógrafo de natureza Fernando Maydana estava lá e registrou o fenômeno em vídeo, que foi rapidamente divulgado pelo Recanto Ecológico nas redes sociais (Instagram e Facebook). E viralizou.
Maydana conta que o início do período de chuvas intensas anuncia esse fenômeno. “Ficamos atentos. Quando chove muitos dias, a gente já fica monitorando o Rio da Prata para, quando ele subir, ir até a trilha para fazer o registro do fenômeno, que costuma acontecer em fevereiro, mas este ano antecipou um pouco”.
As chuvas enchem o Rio da Prata – “sua barranca é muito alta e a extensão muito longa” -, que represa o rio Olho d’Água – “pequeno e sem muita correnteza” -, inundando a região da trilha. O Rio da Prata tem 90 km, enquanto que o Olho d’Água mede 1,4 km.
O biólogo José Sabino – doutor em Ecologia pela Unicamp, mestre em Zoologia pela Unesp e professor e pesquisador da Universidade Anhanguera-Uniderp, onde coordena o Projeto Peixes de Bonito – acrescenta:
“A inundação ocorre porque, em dias de chuvas intensas, acima de 50 a 60 mm (às vezes, mais), o nível do Rio da Prata sobe, dificultando a vazão do curso inferior do rio Olho d’Água que, sem ter como escoar naturalmente, faz com que as águas extravasem para as margens, inundando a mata ciliar e, em eventos como o de sexta-feira, inundando também os deques”.
O cientista ainda destaca que se trata de eventos muito rápidos, que, em geral, duram poucas horas. Quando a chuva para, o nível das águas do Prata baixa “e o Olho d’Água retoma sua calha original”.
Antes da ‘inundação’, o deque é assim:
“Um passeio no céu“
Em seu Instagram, o Recanto Ecológico diz que o fenômeno pode durar até um dia. E, assim, os visitantes podem passear pela trilha de uma forma diferente da habitual: munidos de equipamentos de mergulho para curtir o que Maydana descreve como “um passeio no céu”:
“É muito incrível porque, como o nível da água fica muito alto, as árvores, que em condições normais ficam acima de nós, na cheia, quando represa o rio, ficam abaixo, quer dizer, a gente passa no topo delas, por cima delas. E, entre os peixes, há espécies como o piraputanga, que costuma saltar para pegar frutas nos galhos mais baixos das árvores, mas, quando está nesse nível super alto, simplesmente nadam até elas e as comem, no galho. É como o ser humano quando quando come fruta no pé”.
A primeira vez em que ele viu o fenômeno foi em março do ano passado, quando acompanhava um biólogo que faria o registro em vídeo.
“Nesse dia, fiz o monitoramento ambiental. Há momentos em que o nível de água fica tão alto, que é preciso fazer podas na vegetação para que os visitantes possam passar”.
Em 22 de janeiro, foi a primeira vez em que Maydana (no retrato abaixo) filmou a trilha e o deque submersos, por isso, a experiência teve um encanto ainda mais especial.
Mata preservada, água cristalina
“As águas do olho d’água não turvam pois são protegidas pela mata ciliar e pela RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural“, destaca Luzia Coelho, diretora ambiental do Grupo da Prata. “E continuamos firmes no trabalho pelos nossos rios, para que suas proteções aumentem cada vez mais, principalmente o Rio da Prata”.
Esse cuidado pauta a comunicação do recanto nas redes sociais, como em seu Instagram, no qual o espaço frisou que este “é um episódio raro!!” e que o cenário criado pela cheia do rio é resultado da preservação da vegetação.
“Que incrível! Olha só como está o Deque do Vulcão nesta sexta-feira, 22 de janeiro! Este cenário é reflexo da mata ciliar preservada, que está dentro de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que é um tipo de Unidade de Conservação“.
A transparência da água chama a atenção e tem tudo a ver com a proteção da mata. Manter as atividades no rio Olho d’Água em condições normais – passeios de trilha e de flutuação – e também durante a cheia do rio só é possível porque ele se mantém assim, cristalino.
Com a mata protegida, “há menos erosão nas margens e, consequentemente, menor carreamento e deposição de sedimentos nas águas. Por isso, mesmo diante de enchentes e chuvas fortes, a água do rio Olho D’água permanece tão transparente”.
Isso reforça “o quão importante é a implantação de unidades de conservação como a RPPN, na qual o atrativo está inserido”, acrescenta o Recanto.
Antes de finalizar este post, gostaria de destacar que vale muito seguir os perfis do Recanto Ecológico e de Fernando Maydana no Instagram. Se você é vidrado em natureza e água, vai curtir. Ambos publicam fotos incríveis de paisagens e de animais da região.
E se você ama antas, como eu, vai gostar muito de seguir Maydana. Seus registros de indivíduos dessa espécie nadando – ou, melhor, andando no fundo dos rios da região – são apaixonantes. Foi assim que conheci seu perfil, por indicação de José Sabino que sabe da minha paixão. Um dos registros de que mais gosto é um flagra, em vídeo, de uma mamãe e seu filhote passeando tranquilamente debaixo d’água: veja neste link. Mas, antes, assista ao primeiro “passeio no céu” deste ano, que viralizou na internet. Com certeza, vale muito visitar esse lugar nesta temporada. Um dia, ainda vou conhecer de perto.
Foto (destaque): Reprodução do vídeo acima
Lindo! Ficou lindo mesmo!!!
Queria que esta pandemia terminasse logo e eu pudesse viajar para lugares como esse e fazer um mergulho para apreciar de perto essa beleza… diria… artificial. E natural também!!