Para fazer um apelo internacional em defesa dos povos indígenas, em especial os isolados, ainda mais vulneráveis a invasões e à pandemia do coronavírus, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado reuniu celebridades em campanha dirigida ao governo Bolsonaro e ao Congresso Nacional.
A repercussão no mundo foi rápida e positiva: a petição que integra a campanha tem, até agora, mais de 223 mil assinaturas. Em resposta à mobilização, a Funai retirou de sua sede 15 obras doadas pelo artista à instituição, há cerca de dois anos, e sugeriu que ele faça um leilão.
Vale lembrar que a Fundação Nacional do Índio, como o próprio nome diz, foi criada em 1967 para proteger esses povos. Mas, no governo Bolsonaro, o órgão tem agido contra eles, defendendo e favorecendo ruralistas, garimpeiros e grileiros tão desejosos de suas terras. Na semana passada, a Funai editou medida que permite a invasão de terras indígenas não demarcadas ou em processo de demarcação para loteamento, venda, grilagem.
Assim, o órgão deixa o acervo à disposição de Salgado e sugere, em seu site, que “o dinheiro seja revertido para aquisição de gêneros alimentícios não perecíveis, itens de higiene pessoal, materiais de limpeza, ferramentas agrícolas e outros itens, e doados à Campanha Empresa Solidária, lançada pela Fundação diante dos desafios trazidos pelo novo coronavírus”. Soa como ironia.
As 15 fotos (acima, uma delas) integram o trabalho realizado pelo artista, em parceria com a Funai, junto à etnia Korubo do Coari, que vive no Vale do Javari, e são avaliadas em R$ 1 milhão.
A viagem rendeu reportagem belíssima no jornal Folha de São Paulo (escrita pelo jornalista Leão Serva). O site Amazônia Real relatou essa expedição.
Parte dos Korubo de Coari permanecia em isolamento até o ano passado, quando servidores e pesquisadores da Funai fizeram expedição para contata-los e tentar evitar conflitos com a etnia dos Matis, que também vivem na região do Vale do Javari, como contamos aqui, no Conexão Planeta. Foi a maior expedição realizada pelo órgão em toda a história do órgão, tanto em termos de investimento financeiro como de mobilização de especialistas. Nessa época, a Funai ainda era “do índio”.
Justificativa coerente
Em sua coluna, o colunista Matheus Leitão, da revista Veja, conta que “integrante da atual gestão da Funai” justificou a decisão assim: “Se Salgado reclama que não está indo dinheiro para os índios, propomos que ele faça o dinheiro com esses quadros, compre os donativos e envie aos indígenas”.
Ninguém pode reclamar de falta de coerência neste governo. A justificativa corrobora as promessas de Bolsonaro durante sua campanha presidencial. Ele é irresponsável e genocida em todas as decisões que toma e envolvem os brasileiros.
Sempre foi assim com os indígenas e é o que se nota agora, também, nas (des) orientações que dá aos seus seguidores contra a pandemia e o isolamento social, o que só têm feito os números de casos e mortes por coronavírus aumentarem, a cada dia.
Foto: Divulgação/Funai e Sebastião Salgado