Atualizado em 12/11/2019
O Pantanal continua queimando. Até 5/11, quando escrevi o texto abaixo, falava-se em uma área equivalente à cidade do Rio de Janeiro. Mas, em 10/11, os noticiários divulgavam que o total até o dia anterior seria de 1.730 km² em Mato Grosso do Sul, ou seja, maior que a cidade de São Paulo (1.521 km²). As chuvas chegaram, finalmente, na segunda, 11/11. E, com elas, foram encerrados o controle do fogo e o monitoramento aéreo permanente. De acordo com dados do Inpe, este ano, o bioma teve a maior área queimada dos últimos 12 anos: de janeiro a outubro, 18.138 km² foram atingidos por focos de incêndio, quase o mesmo total de 2007: 18. 699 km².
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Quando o vazamento de óleo começou no litoral nordestino, o noticiário voltou-se para lá e praticamente não se falou mais dos incêndios florestais que ainda continuavam a devastar biomas pelo país. Até a semana passada, por exemplo, a brigada de voluntários de Alter do Chão ainda divulgava a existência de focos de incêndio em suas redes sociais. No domingo, seus integrantes, muito felizes, já divulgavam que não havia nem fumaça na região.
Mas, esta semana, foi a vez do Pantanal chamar a atenção com uma triste notícia: um dos maiores incêndios florestais de sua história devastou cerca de 120 mil hectares ou 1,2 km de vegetação – que equivale ao tamanho da cidade do Rio de Janeiro!! – e atinge principalmente as cidades de Corumbá, Aquidauana, Bonito e Miranda, classificadas pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil em situação de emergência.
Imagine o prejuízo social e econômico!! As quatro são destinos turísticos e estão sendo barbaramente afetadas pelo incêndio, como pela falta e/ou oscilação de energia elétrica, água e internet, prejudicando hospitais, serviços públicos, o comércio… A poluição do ar atinge principalmente crianças e idosos.
A causa do incêndio ainda não foi identificada e, por isso, ainda não se pode afirmar que tem origem criminosa. Segundo o Corpo de Bombeiros do Mato Grosso, o incêndio começou na região do Morro do Azeite e do Passo do Lontra, em seis pontos isolados e distantes uns dos outros, o que aumenta a chance de ter sido provocado por ação humana, seja por negligência ou por imprudência.
Queimadas são práticas comuns em várias regiões do Brasil, mas muitas são realizadas sem cuidado ou, ainda, na esperança de que chova. Para combater focos de incêndio, a Polícia Militar Ambiental tem feito fiscalizações e aplicado notificações e multas aos proprietários e pescadores que ateiam fogo na terra. Em 31/11, devido à gravidade da situação, o governo estadual proibiu queimadas controladas por um mês (até 30/11), por meio de resolução publicada no Diário Oficial. , que já estavam em estado de emergência desde setembro, logo depois que os incêndios começaram a se alastrar pelo país.
O cenário se agrava porque o período de seca ainda continua e o período de chuvas está atrasado. Elas ainda não chegaram com a intensidade que é comum já em setembro, mas ameaçam e enviam raios. A questão é que, nem sempre, esses raios caem onde chove e podem encontrar vegetação muito seca, o que também provoca a rápida propagação do fogo.
Temperatura alta, umidade baixa, vegetação muito seca agravam a situação. “O fogo é voraz e até a área alagada, cuja vegetação pega fogo por cima, queima muito rápido”, contou Fábio Catarinelli, coordenador da Defesa Civil de Mato Grosso do Sul, à Folha de São Paulo. “O fogo passa por cima da água, por entre as copas das árvores, e segue queimando por cima de pântanos“. Bombeiros viram animais fugindo desesperadamente, mas, mesmo assim, alguns morreram devido a queimaduras. “Utilizamos um parâmetro que se chama ‘risco de fogo’, e no Pantanal ele está entre alto, muito alto e crítico”, acrescentou.
Waldemir Moreira, chefe do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul (em entrevista à BandNews FM) confirmou a violência do incêndio: “Nunca vimos nada dessa dimensão por aqui. Sou especialista nesse tipo de operação no Pantanal, mas do jeito que está agora, nunca aconteceu”.
João Guilherme Venturini, um dos donos do Passo do Lontra Hotel Fazenda, também destacou à Folha que este incêndio foi o pior. “Apesar de, ao redor da nossa propriedade, já estar tudo mais controlado, a verdade é que não sobrou nada. Ao andar no rio, as margens estão todas queimadas. Infelizmente, isso atrapalha todos e o turismo. O turista vem para ver a exuberância da fauna e da flora, mas, quando chega aqui, vê quase nada em pé, tudo em cinzas, e se frustra”. E muitos, que lá estavam, foram embora antes do previsto.
Em outubro, a região registrou o segundo maior índice de focos de calor da série histórica, iniciada em 1998, perdendo apenas para 2002. “As chuvas deveriam ter chegado em setembro, mas a previsão é que retornem com força apenas na semana que vem. E novos focos de incêndio surgem o tempo todo. Ontem, um deles chegou á região do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, que é extremamente isolada”.
Cerca de 151 pessoas das equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, além dos funcionários de fazendas da região – com a ajuda de máquinas agrícolas, inclusive – estão mobilizados para conter as chamas e impedir que se alastrem.
De acordo Moreira, a realização de uma conferência mundial de prevenção a incêndios florestais, que aconteceu na região na semana passada, proporcionou a adesão de outros agentes e também de brigadas como a PrevFogo do Ibama, além de recursos operacionais como aeronaves helicópteros da PM, da PRF e do Ibama.
Reforços do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal – incluindo uma aeronave capaz de transportar até 3.100 litros de água e mais 35 homens para o combate em solo – devem chegar até amanhã à região.
A emergência acontece onde a proteção falha
Ações de prevenção sempre evitam o pior. Isso se aplica aos incêndios ocorridos pelo país todo e, agora, no Pantanal. E o custo para combater incêndios ou reparar danos é maior do que a prevenção. Os indicadores do clima, o IPCC, o Inpe e outros órgãos preveem cada vez mais eventos climáticos extremos por causa das alterações climaticas, o que poderá aumentar a frequência desse tipo de tragédia. No que tange ao Pantanal, Moreira destaca que a região é uma das mais sensíveis e vulneráveis.
Ele conta que a realização da conferência mundial de prevenção de incêndios florestais no Mato Grosso resultou num termo de cooperação técnica para a proteção do Pantanal, destacando que o apoio da sociedade é imprescindível para que esses incêndios sejam evitados. As queimadas são uma importante ferramenta de limpeza dos campos, mas precisa ser utilizada com mais conhecimento. “Não existe estrutura no mundo que consiga atuar com sucesso nesse tipo de emergência”.
Foto de destaque: Saul Scharam
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Fontes: G1, BandNews FM, Folha de São Paulo