“O pirarucu é um peixe fantástico. Ele tem alimentado o povo amazônico desde os mais antigos registros dessa sociedade”, diz o biólogo João Vitor Campos e Silva.
Foi a paixão por esse peixe símbolo da Amazônia e o lindo trabalho pela sua proteção e pela recuperação de sua população que garantiram ao brasileiro, de 36 anos, ser um dos cinco ganhadores do Rolex Award for Enterprise 2019, premiação internacional, promovida pela marca de relógios suíça, que desde 1976, apoia o trabalho de “indivíduos excepcionais, que têm a coragem e a convicção de enfrentar grandes desafios – homens e mulheres com espírito de empreendedorismo, iniciando projetos extraordinários para tornar o mundo um lugar melhor”.
Chegando a medir até três metros de comprimento e a pesar 250 quilos, o pirarucu (Arapaima gigas) é o maior peixe de água doce e de escamas do mundo. Espécie nativa da Bacia Amazônica, ou seja, ele só é encontrado em lagos, remansos de rios, meandros abandonados e várzeas dos principais afluentes do Amazonas, e em nenhum outro lugar do mundo.
Infelizmente, no último século, a pesca predatória fez com que houvesse uma alarmante redução no número de pirarucus na região amazônica.
“Mesmo em lugares remotos, como próximo ao rio Juruá, as pessoas saem para pescar o dia todo e voltam sem nada para casa”, conta o brasileiro.
O projeto desenvolvido por Campos e Silva envolve o engajamento de comunidades locais, que são conscientizadas sobre a necessidade da conservação da espécie.
Elas constróem casas de madeiras perto de lagos e nesses locais impedem que a pesca predatória seja realizada.
Através do manejo do pirarucu, as comunidades rurais conseguiram melhorar a geração de renda e também, promover a igualdade de gênero, pois pela primeira vez, mulheres se beneficiam, economicamente, com a atividade pesqueira nessas áreas. O dinheiro que circula localmente também ajuda na melhoria da infraestrutura de escolas e postos de saúde. “Salvar o peixe é, portanto, um antídoto para a pobreza”, acredita Silva.
“O pirarucu é uma das espécies com maior importância cultural da Amazônia, então é muito fácil que as comunidades se engajem no projeto e fiquem animadas e querendo começar a realizar o manejo”, diz.
A preservação do pirarucu garante mais renda para
comunidades ribeirinhas
Conservação da espécie
Antes do início do projeto, em uma das comunidades do rio Juruá, a população de pirarucus beirava os 50 indivíduos. Atualmente já são mais de 4 mil.
E não é só. Outras espécies, como manatis, tartarugas e jacarés também estão sendo beneficiadas.
Este ano, o júri do Rolex Award for Enterprise escolheu os ganhadores entre quase 1 mil candidatos, de 111 países. Os cinco vencedores são cientistas que trabalham com meio ambiente, saúde e tecnologia e receberão investimento para seus trabalhos.
João Vitor, segurando o pirarucu, um gigante amazônico
No ano passado, o biólogo, nascido em Piedade, no interior de São Paulo, também venceu a 29ª edição do Prêmio Jovem Cientista, na categoria Mestre e Doutor.
Agora ele sonha em implementar seu projeto em outras 60 comunidades, localizadas em mais de 2 mil km do rio Juruá.
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Fotos: divulgação ©Rolex / Marc Latzel