Derivados da nicotina, os neonicotinóides são usados para controlar pragas. O grande diferencial destes agrotóxicos é serem sistêmicos, ou seja, se espalham por toda a planta: folhas, flores, ramos, raízes e até, néctar e pólen. Em geral, são colocados na semente e a partir daí, toda a planta fica com vestígios dele. O pesticida é um dos mais usados no mundo inteiro.
Em 2014, o neurobiologista alemão Randolf Menzel apresentou um estudo em que afirmava que três tipos de neonicotinóides afetavam diretamente receptores do cérebro das abelhas, prejudicando o senso de direção e a memória delas, fazendo com que tivessem mais dificuldade para retornar à colmeia.
Em 2014, a administração do então presidente americano Barack Obama proibiu a utilização dos neonicotinóides em refúgios nacionais de vida selvagem, áreas onde o cultivo de certos alimentos é permitido. Pois na semana passada, o governo de Donald Trump anunciou que iria reverter a decisão e liberar o uso do pesticida, além de permitir o plantio de culturas geneticamente modificadas nestes locais.
Organizações ambientalistas alertaram que a medida traz uma ameaça à sobrevivência de insetos polinizadores e outras espécies que vivem em habitats livres de substâncias químicas.
“A agricultura industrial não tem lugar em terras públicas dedicadas à conservação da diversidade biológica e à proteção de nossas espécies mais vulneráveis, incluindo polinizadores como abelhas e borboletas-monarca”, afirmou Jamie Rappaport Clark, presidente da Defenders of Wildlife , em comunicado público. “A aprovação do governo Trump para o uso de pesticidas tóxicos e culturas geneticamente modificadas é um insulto aos nossos refúgios nacionais de vida selvagem e à vida selvagem que depende deles”.
Segundo a entidade, culturas geneticamente modificadas são desenvolvidas para resistir ao ataque de insetos e à aplicação de herbicidas. Todavia, o uso intensivo destas substâncias pode matar a vegetação nativa e aumentar significativamente a toxicidade nos sistemas naturais, afetando aves, peixes, moluscos, anfíbios e insetos.
Ainda de acordo com a Defenders of Wildlife, a justificativa do governo Trump de que é preciso facilitar a agricultura nestas áreas de preservação para compensar as terras perdidas em outros lugares é falsa.
Banido na Europa
No mundo todo, há um declínio da população de abelhas. Cientistas apontam o uso de pesticidas na lavoura como sendo um dos principais responsáveis pelo desaparecimento destes insetos, essenciais para a polinização e consequente, produção de alimentos no planeta.
Em maio deste ano, a Europa proibiu o uso do neonicotinóide. Desde 2013, havia uma moratória para a utilização dele nos países da Comunidade Europeia. Mas em decisão histórica, a European Food Standard Agency deu seu parecer final. Todavia, ele poderá ser empregado em cultivos em estufas, o que gerou algumas críticas.
A decisão entrará em vigor até o final de 2018. Mais de cinco milhões de pessoas tinham assinado uma petição online pedindo para que o neonicotinóide fosse banido.
“Proibir esses pesticidas tóxicos traz esperança para a sobrevivência das abelhas”, afirmou Antonia Staats, da organização Avaaz na época. “Finalmente, governos estão ouvindo seus cidadãos, as evidências científicas e os agricultores, que sabem que as abelhas não podem viver com esses produtos químicos e nós também não podemos viver sem as abelhas.”
Mas como sempre, Trump vai contra a ciência e o meio ambiente mais uma vez.
*Com informações do jornal The Guardian e da organização Defenders of Wildlife
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